Associação guineense debate o impacto da imigração no crescimento do país

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Augusto mansoa, presidente da Associação Cultural e Recreativa dos Naturais e Amigos de Oio, da Guiné Bissau, junto dos oradores na conferência sobre imigração

Convívio anual assinalou o 22º aniversário da associação com divulgação da cultura do país e as preocupações sociais da atualidade

A imigração tem um impacto direto no crescimento económico do país, realçou, nas Caldas, o advogado e antigo deputado do PS na Assembleia da República, José Leitão. Orador na conferência sobre Imigração: a importância dos imigrantes na economia nacional, José Leitão lembrou que a população em idade ativa tem vindo a diminuir e que a imigração surge como um “fator importante para o aumento da capacidade produtiva do país”. Com a participação no mercado de trabalho contribuem para a Segurança Social que, na sua opinião, sem esse contributo “veria posta em casa, num horizonte não muito distante, a sua sustentabilidade e, como consequência, o previsível e indesejável corte nas pensões ou, em última análise, até a capacidade de as pagar”. Em 2023, as contribuições dos imigrantes totalizaram 2677 milhões de euros, informou José Leitão, especificando que se trata mais do dobro das contribuições feitas em 2021.
De acordo com o antigo Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, em 2023 os imigrantes representavam 25% do total da força de trabalho do país e, em alguns setores, quase 50%, realçando que, sem a mão de obra estrangeira, “alguns setores económicos e atividades poderiam entrar em colapso, resultando numa forte contração da economia”.
Apesar dos benefícios, a imigração apresenta desafios que necessitam de atenção, reconheceu José Leitão, referindo-se à lentidão na regularização destes cidadãos, assim como a sua integração efetiva na sociedade. “É também um desafio combater eficazmente a falsa perceção de uma parte da população portuguesa que associa a imigração à manutenção de salários baixos, falta de emprego ou ao aumento da criminalidade”, sustentou. Por outro lado, não deixou de realçar a política restritiva da imigração do atual Governo, que contraria a posição da OCDE, e alertando que a escassez destes trabalhadores pode travar o crescimento económico.

O convívio anual integrou uma exposição etnográfica da Guiné Bissau, composta por vários objetos, como instrumentos musicais, panos e peças artísticas em madeira

Na sessão, moderada por Luísa Buscardine, a antiga deputada do PS, Romualda Fernandes, lembrou que os imigrantes, além de pagar impostos, são também consumidores e que, quanto maior o “número de imigrantes, maior o consumo e a produtividade das empresas”. A jurista e política, natural de Guiné Bissau, focou a sua intervenção no contributo das mulheres migrante na comunidade e do empreendedorismo no feminino. Dados do Observatório para as Migrações, publicados em dezembro de 2022, e dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, evidenciam um aumento da população de mulheres de nacionalidade estrangeira, no total dos residentes estrangeiros. Nesse ano, 44,3% dos guineenses residentes em Portugal eram mulheres, enquanto 57% homens. De acordo com os dados de 2023 da AIMA, estão em Portugal 32.535 cidadãos oriundos da Guiné Bissau, o que representa cerca de 3% da população estrangeira, estimada em 1,4 milhões. Romualda Fernandes alerta para os dados, que são os oficiais, reconhecendo que as pessoas que ainda não têm a sua situação regularizada não estão incluídas e há outros que já se naturalizaram.
Referindo-se ao impacto socioeconómico das mulheres migrantes, a oradora destacou que estas representam cerca de 74% da indústria de serviços, fazendo “trabalhos domésticos, muitas vezes em condições de precariedade laboral absoluta”, e quando algumas delas são “altamente qualificadas”.
Questionado sobre a realidade caldense, o presidente da Câmara, Vítor Marques, falou ao aumento da população migrante, tanto por parte de quem escolhe a região para viver a reforma, como de quem procura uma oportunidade de vida.
De acordo com o autarca há uma preocupação na integração destas pessoas na comunidade, reconhecendo que algumas têm mais dificuldade. “Terá de haver respeito. As comunidades não devem perder a sua identidade, mas também abrir os braços para integrar”, considera.
A iniciativa, que decorreu durante a manhã de 20 de julho, integrou as comemorações do convívio anual da Associação Cultural e Recreativa dos Naturais e Amigos de Oio, da Guiné Bissau, que assinala 22 anos. O seu presidente, Augusto Mansoa, lembrou que esta foi criada com o objetivo de ajudar os cidadãos guineenses a integrarem-se na sociedade, para além de capacitá-los para ultrapassar os desafios existentes, ao nível do alojamento ou da saúde. ■

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