Assinalam-se hoje 49 anos do Levantamento das Caldas

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Na madrugada deste dia, há quase meio século, uma coluna de 200 militares partia do RI5 rumo a Lisboa com o objetivo de ocupar o aeroporto e derrubar o governo de Marcello Caetano. A Intentona saiu gorada mas 40 dias depois dava-se a revolução

Hoje assinalam-se 49 anos do 16 de Março de 1974, a tentativa de golpe de Estado frustrada, mas que poria as Caldas nas bocas do mundo e que seria um prenúnciıo da revolução que teria lugar 40 dias depois. Na madrugada de 16 de março de 1974, um sábado, uma coluna de cerca de 200 soldados saiu do Regimento de Infantaria 5 (RI5) e seguiu pela estrada rumo a Lisboa para ocupar o aeroporto da Portela. Derrubar o governo de Marcello Caetano era o objetivo e, para isso, esperavam o apoio de outras forças militares, nomeadamente de Lamego, Santarém, Mafra e Vendas Novas. Já estavam às portas de Lisboa quando foram informados de que as outras unidades não se iriam juntar, decidindo então abortar o golpe e regressar ao quartel. Depois de chegarem às Caldas foram cercados por forças militares vindas de Leiria e de Santarém, afetas ao regime e viriam a render-se, pelas 17h00, depois de longas negociações. Os revoltosos foram detidos e levados para a Trafaria e outros elementos do RI5 foram transferidos para outras unidades militares, não tendo podido participar na revolução do 25 de Abril.
A imprensa nacional (com censura), e internacional, fala do acontecimento. Na Gazeta, na edição anterior ao 16 de março, dava conta da preparação das comemorações do 10 de junho nas Caldas da Rainha (que nunca viriam a acontecer), bem como da tomada de posse, dias antes, do governador civil, Santos Machado, que viria a estar muito pouco tempo no cargo.
Na primeira edição depois do 16 de março, publicada a 20 de março, o editorial fala, em tom muito crítico, de uma “insurreição de opereta” que partiu do RI5, mas que os caldenses deviam “ficar tranquilos”. Refere ainda que, politicamente, “nada, absolutamente nada, aconteceu” e termina: “esta é uma rocha em que podem sentir firme apoio”, aludindo ao regime de Marcello Caetano. Curiosamente, nos dias seguintes ao 16 de Março, o Presidente da República, Américo Tomás, visitou oficialmente Peniche e S. Martinho do Porto, acompanhado por membros do governo, e o chefe do governo, Marcello Caetano, visitou a 10 de abril, a título particular, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo e o Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, acompanhado pelo ex-ministro espanhol Lopez Rodó.

A homenagem na Praça
Dias depois a seguir ao 25 de Abril de 1974, o mesmo jornal dizia em editorial que o “povo e as forças armadas restituíram o país à normalidade das instituições políticas”. Refere ainda que puseram termo a um “regime de excepção que usava a autoridade para restringir as liberdades naturais em vez de as garantir e as tornar efetivas”. A mesma edição reporta a homenagem feita, a 29 de abril na Praça da República, pelo povo das Caldas aos militares da “arrancada” de Março. “Na passada segunda-feira a Praça da República encheu-se de caldenses desejosos de manifestar a sua alegria ante a transformação política em boa hora operada no país”, começa por dizer o artigo, para explicar que a manifestação resultou do regresso dos 18 oficiais do RI5 à unidade caldense. Os militares almoçaram num restaurante local e à saída “a multidão esperava-os” na praça. “Percorrendo as ruas da cidade em carro aberto os capitães e tenentes do nosso Regimento, chegaram aos Paços do Concelho, subindo, acompanhados pelo Dr. António Freitas, à sala das sessões e assomaram às janelas, sendo prolongadamente aplaudidos pelo povo”. O capitão Varela falou, para agradecer e frisar que a marcha sobre Lisboa, a 16 de Março, “tinha sido ditada por um imperativo de consciência”. A partir do edifício camarário os 18 oficiais e o povo dirigiram-se a pé para o quartel do RI5, “numa marcha triunfal de comunhão entre a população civil e militar”. O artigo elenca ainda o nome dos capitães homenageados pelo povo: João Gil, Faria, Novo, Varela, Carvalho, Freitas, Garcia e Lucas; e os tenentes Montalvão, Pina Pereira, Pombal, Carvalhão, Rocha Neves, Matos Coelho, Moreira dos Santos, Mendes, Betencourt Coelho e Silva Carvalho.
Ao longo de quase meio século Gazeta das Caldas tem recordado o acontecimento e os seus intervenientes, assim como as diversas iniciativas que têm sido realizadas a cada 16 de março.
Ao nível internacional, a edição do Daily Telegraph, de 18 de março de 1974, fala do “virar à direita em Portugal depois do fiasco do motim”, referindo-se fracasso da sublevação dos militares das Caldas dois dias antes. O Le Monde e o Le Figaro fazem primeira com o acontecimento. “Um regimento amotinado é detido perto de Lisboa por tropas leais a Marcelo Caetano” e “Portugal: a rebelião abortada dos pretorianos? Crise profunda de um regime semi-centenário ou simples rebate de cólera”, titulavam os diários.
O L’Humanité, de 18 de março, fala de 200 oficiais presos depois de várias unidades militares se terem rebelado e dá conta da marcha da coluna caldense até à capital, mas que ao chegar ao aeroporto, o regimento encontrou a estrada bloqueada por elementos da Guarda Republicana, reforçada por várias tropas. Depois de algum tempo de negociações, os militares caldenses regressam, finalmente, à sua guarnição. “Os rumores de que o General Spínola era o responsável por estas tropas foram negados”, refere a mesma publicação.

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Cerimónia Evocativa
Hoje, pelas 11h00, terá lugar uma cerimónia evocativa junto ao monumento alusivo ao 16 de Março, da autoria do escultor José Santa -Bárbara, e situado frente à ESE antigo RI5. A cerimónia contará com as intervenções do representante da Liga de Combatentes, do presidente da Assembleia Municipal, José Lalanda Ribeiro, e da vereadora Conceição Henriques, em representação do presidente da Câmara, Vítor Marques, por este se encontrar no estrangeiro. As comemorações continuam às 21h30, no grande auditório do CCC com o concerto Portas da Revolução, com Nelson Rodrigues (voz e guitarra), Luís Agostinho (acordeão e piano), Nuno Ferreira (bateria e percussão), António Macedo (baixo) e convidados. Os músicos revisitam a banda sonora da Revolução, levando a palco canções que refletem o sentimento de inquietação e emergência de mudança que se vivia na época.

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