
É da aldeia da Castanheira (Alcobaça) que são enviadas as malas da Toino Abel. Embrulhadas num saco de algodão, chegam aos quatro cantos do mundo. Também já apareceram em consagradas revistas de moda, como a Vogue, Elle e a Woman Magazine.
Nuno Henriques é o rosto por detrás desta marca, que soube reinventar uma tradição antiga quando as cestas de junco eram quase uma espécie em vias de extinção. A Toino Abel surgiu em 2010 e este ano já vendeu mais de 2500 malas. Cerca de 80% do seu mercado é internacional.
Nuno Henriques, 32 anos, vivia há cinco anos em Berlim quando se deu conta que o seu futuro passava pela Castanheira. Nesta pequena aldeia, as cestas de junco estavam à sua espera. Aquilo que fez foi regressar às origens e pegar numa herança familiar, dando-lhe um novo significado. Isto porque o jovem com formação em pintura (Faculdade de Belas Artes) não começou do zero. Foi o seu bisavô, José Custódio Barreiro, a quem chamavam Zé Esteireiro, quem começou por fazer as cestas. Desde então, a tradição manteve-se na família.
Ao criar a Toino Abel, em 2010, Nuno Henriques também quis homenagear o seu avô, conhecido por “Toino do Abel”: este chamava-se António e era filho do Abel. “O nome da marca tem muito de português e de rural, precisamente porque o nosso conceito também é artesanal”, explica o empresário, que sempre cresceu rodeado das cestas, mas só quando esteve no estrangeiro soube ver-lhes potencial.
Se antigamente as cestas eram utilizadas pela mulher do campo, ora para ir ao mercado e à feira, ora para transportar lenha, e vendidas em lojas de artesanato, hoje são enviadas para todo o mundo e integram o leque de acessórios de moda da mulher citadina. Feitas em junco, com fechos de pele de curtimento vegetal e alças de verga, há malas para diversos gostos e tamanhos: do XS ao L, com padrões axadrezados, de riscas e flores, ou simplesmente de uma só cor.
Actualmente, 80% do mercado da Toino Abel é estrangeiro. O mapa que Nuno Henriques tem afixado na sua oficina indica todos os países onde as cestas já chegaram. Estados Unidos, Alemanha, França, Japão, Austrália e África do Sul são alguns exemplos.
Também a comunicação social internacional, especialmente as revistas de moda, tem estado atenta à Toino Abel. As cestas de junco desta marca já apareceram na Vogue Inglesa, na Cut Magazine (Alemanha), na Frankie (Austrália), na edição online da Elle, na Hola! Fashion (Espanha), na Woman e na Cluél Magazine (Japão). Além disso, Nuno Henriques já deu entrevistas para o canal público suíço e para a ZDF (canal 2 alemão).
“Creio que aquilo que mais desperta a curiosidade das pessoas é o modo como as cestas são feitas: o processo é lento, artesanal e ecológico, pois utilizamos apenas materiais naturais”, diz Nuno Henriques.
PROCESSO 100% MANUAL

Uma cesta leva três a quatro horas até estar concluída. Assim que o junco chega à Castanheira – em tempos, mesmo ali ao lado, no Juncal, existiam muitas plantações de junco, mas hoje a matéria-prima vem da zona de Lisboa – inicia-se um processo que é 100% manual.
Em primeiro lugar, os artesãos cortam os fardos de junco, que depois são lavados, secos e branqueados numa arca de madeira com enxofre a arder. Em seguida, o junco é escolhido fio a fio. Só depois começa o trabalho no tear. No final, são cosidas as diferentes partes que darão forma à cesta e juntam-se-lhe a alça e o fecho.
Nuno Henriques lidera uma equipa de 20 pessoas, incluindo a sua tia-avó. Algumas trabalham na sua oficina, outras fazem as cestas a partir de casa. Há seis anos, poucas eram jovens. “Hoje trabalho com pessoas apenas um pouco mais velhas que eu, outras com cinquentas e tais, o mais velho com perto de 70 anos”, conta o empresário, revelando que quando regressou à Castanheira a arte do junco estava prestes a desaparecer, em parte, porque as tecedeiras recebiam muito pouco. “A Toino Abel paga mais do que se pagava antes, tanto que temos colaboradores que vivem apenas das cestas”, acrescenta.
Um dos motivos que também levou Nuno Henriques a fixar-se na Castanheira prendeu-se com o facto de querer ficar mais próximo das artesãs. Isto porque, “ao início a maioria era idosa, habituada a fazer as cestas sempre da mesma maneira, e não era fácil comunicar com elas, quase precisava de falar outra língua”. O jovem reconhece que a sua vinda trouxe mudança e mais exigência ao processo, não tendo sido consensual: “certamente havia quem preferisse continuar a fazer as coisas do mesmo modo”.
As malas da Toino Abel custam entre 49 e 79 euros, um valor que Nuno Henriques considera acessível, tendo em conta que estes são artigos inteiramente artesanais e amigos do ambiente. “Um aspecto que as pessoas têm que perceber é que aquilo que é artesanal tem valor acrescentado e que esse valor tem um custo”, explica.
As cestas podem ser adquiridas por encomenda através do site www.toinoabel.com. Para Portugal, os envios são gratuitos. Além dos modelos disponíveis, o cliente pode optar pela “cesta surpresa”, ficando a conhecer o seu padrão apenas quando recebe a mala.
Só este ano, Nuno Henriques vendeu mais de 2500 malas, verificando-se um crescimento de 180% desde 2010. O empresário não quis revelar o montante da facturação.
Em curso, esta empresa tem um projecto que irá transformar a antiga discoteca Moinho (propriedade da família) numa residência para artistas.






























