Presidente da CERCINA e diretor executivo da CONFECOOP, Joaquim Pequicho fala da importância do setor e da resposta que garante nos tempos atuais
Qual a importância de uma cooperativa e qual o seu impacto na sociedade?
Se observamos o volume de negócio global das 100 maiores cooperativas, verificamos que representam cerca de 2.74 mil milhões de euros de volume de negócio e cerca de 7.800 postos de trabalho criados. Por este indicador, meramente quantitativo, percebemos a importância económica do setor e a sua importância na dinamização da economia local, regional e nacional.
Contudo entendemos que os maiores impactos são em resultado das características particulares das cooperativas, dos seus princípios e valores, que influenciam uma economia das pessoas para as pessoas e, fundamentalmente, uma economia baseada na ética e na democracia.
A conjugação destes dois aspetos faz com que as cooperativas representem um modelo de negócio de proximidade, de compromisso com as comunidades que integram, muito persistente e resiliente face às alterações de contextos. O ciclo de crises com que a economia portuguesa se confrontou teve uma resposta positiva por parte das cooperativas, que conseguiram garantir manutenção de postos de trabalho e incremento do volume de negócios.
Pensamos as empresas como entidades mais direcionadas para o lucro. Em que diferem as cooperativas das empresas? Elas podem contribuir para uma sociedade mais justa?
As cooperativas não deixam de perseguir um modelo de negócio sustentável e gerador de resultados económicos e sociais mas, em virtude da sua vocação cívica, do seu caráter democrático, da participação dos seus membros, da sua caraterística altruísta e solidária, afirmam-se como impulsionadoras da procura de um mundo mais justo e responsável. Penso que as palavras de Rui Namorado permitem-nos compreender e responder à questão, fundamentalmente na constatação “da íntima tensão entre o pragmatismo que o quotidiano empresarial impõe e a dimensão utópica que a persistência da luta por um mundo melhor não dispensa”. As cooperativas são uma verdadeira “constelação de esperança”, para a qual é necessário mobilizar as melhores vontades e promover arquiteturas de cooperação que nos permitam coletivamente chegarmos mais longe, mas sem nunca colocar em causa os valores de uma cidadania responsável e um modelo económico que respeita a sustentabilidade e o ambiente.
O número de cooperativas tem vindo a diminuir. É importante contrariar esta tendência?
A diminuição das cooperativas verifica-se em resultado de um expediente administrativo. No entanto, não podemos deixar de sinalizar que o enquadramento legal e fiscal não tem proporcionado um ecossistema favorável ao crescimento do setor. Mas, olhando para as 100 maiores cooperativas, em média têm 49 anos de vida e metade destas foram constituídas a partir de 1974, contribuindo para a afirmação dos valores democráticos bem presentes nos princípios cooperativos. Com esta afirmação podemos sinalizar a sua longevidade e capacidade de adaptação aos diferentes ciclos.
De que forma o pode ser feito?
Com um enquadramento legislativo adequado, com apoios e auxílio do Estado e com um Estatuto Fiscal ajustado: pensamos que são os aspetos críticos que poderão dar mais força ao movimento cooperativo em Portugal.
Que resposta podem dar as cooperativas em tempos (de crise) como os que vivemos?
Fundamentalmente, entendemos que as cooperativas são uma resposta importante aos emergentes desafios sociais e económicos, através da capacidade crítica e criativa existente e da mobilização dos recursos públicos e privados para responder a esses desafios. Como exemplo, podemos revisitar o papel das Cooperativas de Solidariedade Social, com destaque para as CERCI, na economia do cuidado, na inclusão, na reabilitação, na capacitação, na educação, na saúde e na ação social.
Podemos observar o papel relevante das cooperativas de habitação ou das cooperativas de seguros, com destaque para a Mútua dos Pescadores, na resposta às particularidades e especificidades do mundo da pesca. Estes são alguns dos exemplos que reforçam a capacidade das cooperativas para responder aos emergentes desafios das crises mas, também, da transformação dos modelos económicos onde se incluem os processos de transição ambiental e digital, entre outros.
Como pode ser dada mais visibilidade às cooperativas?
Pensamos que a visibilidade das cooperativas poderá ser assegurada se conseguirmos comunicar os seus valores e princípios, a sua gestão democrática e participativa, a transparência e accountability, a agenda de trabalho digno e de valorização dos seus profissionais, e o facto de serem um espaço favorável aos processos de conciliação pessoal, familiar e profissional. Tudo isto são ingredientes positivos para a afirmação e visibilidade do movimento cooperativo. ■































