Centenas de pessoas percorrem o centro da cidade, de mapa na mão, para visitar as “galerias de arte” instaladas em 50 casas que os alunos da ESAD abriram ao público. Essa é mesmo a marca distintiva do Caldas Late Night (CLN), que se realiza há 23 anos. O mapa tinha 90 pontos de visita, o que mostra que o evento está de boa saúde e não está em risco se transformar num mero festival de Verão, apesar de contar com muitos concertos, convívio e bebidas. Entre os momentos mais divertidos destacaram-se um escorrega na Calçada 5 de Outubro e a habitual guerra de almofadas.
A memória da Secla relembrada na Capela de S. Sebastião foi uma das intervenções artísticas mais surpreendentes da 23ª edição do Caldas Late Night, que decorreu entre 30 de Maio e 1 de Junho.
No interior da igreja havia uma bancada com peças de cerâmica que recuperavam fragmentos de peças da fábrica que laborou nas Caldas entre 1947 e 2008. “Quisemos prestar uma homenagem a esta fábrica desde que demoliram o edifício”, disse Márcia Schilling, uma das estudantes de Design Industrial que fez esta intervenção. Na sala ao fundo passavam em contínuo imagens sobre o quotidiano da unidade fabril. E quando se espreitava para a capela, surgia a maior surpresa: fragmentos de várias peças, organizados por cores. Para ver esta instalação era necessário usar a lanterna do telemóvel, pois estava tudo às escuras. “Foi um exercício de memória, pela importância que a Secla teve para a cidade”, disse a autora caldense, que desenvolveu esta homenagem em conjunto com sete colegas.
Esta era apenas uma das 90 propostas que podiam ser vistas pela cidade. No Posto de Turismo esteve uma exposição colectiva onde participou Micaela Morgado, artista plástica que se formou na ESAD no ano passado. A autora, do Cartaxo, expôs as suas ilustrações pela primeira vez nesta local.
Nas anteriores edições, quando ainda estudava, abriu sempre a sua casa e defende que este é o aspecto mais importante do CLN. “As casas são o que distingue o CLN dos restantes festivais académicos”, considera. Soma-se o facto de se tratar de um evento que é globalmente gratuito pois só se paga entrada na festa final.
Este ano o Caldas Late Night beneficiou do bom tempo, tal como os outros eventos que aconteceram no passado fim-de-semana. As noites de “Verão” que se sentiram levaram mais gente à rua e logo na quinta-feira viu-se uma multidão na Praça dos Bares (Praça 5 de Outubro), como há muitos anos não se via no primeiro dia.
Durante a tarde de sexta-feira os participantes puderam refrescar-se e divertir-se num slide (escorrega) que descia pela Calçada 5 de Outubro desde o bar Ilha até à Rainha. Os comerciantes desta rua aderiram também ao evento, ajudando na montagem e escorregando, eles mesmos, em cima dos colchões de ar, até atingirem um colchão de cama ao fundo da rua, que tinha um alvo desenhado e que aparava os aventureiros.
Ao fim da tarde, o arraial foi um dos pontos de encontro entre os convivas. O Parque D. Carlos acolheu uma festa na zona do coreto e que se estendeu ao longo do serão, sendo animada por DJ’s junto ao lago. Seguiram-se as mais diversas intervenções em casas onde além de exposições, fizeram-se performances, tatuagens e concertos em pátios interiores.
Já no sábado, logo ao início da tarde já havia grupos de gente na rua, de mapa na mão, calcorreando as várias zonas à procura das melhores intervenções. Houve um momento alto que foi a luta de almofadas, que este ano passou para o Largo do Termal. No entanto, este ano apenas participaram cerca de 30 participantes, muitos menos que em anos anteriores, altura em que se enchia o tabuleiro da Praça ou no cruzamento das ruas das Montras com a Heróis da Grande Guerra.
Um dos participantes foi Pedro Leitão que acompanha o CLN há mais de 15 anos. Estuda Gestão em Lisboa, mas vem participar sempre que pode. O que mais gosta é da Festa Final, por causa da música electrónica. “Maio é o mês das Caldas! Depois do feriado, vem o Oeste Lusitano e logo a seguir o Caldas. É em pleno!”, disse o jovem, que considera o CLN como algo muito importante e que “dá vida à cidade”.
Quem partilha dessa opinião é Ricardo Ezequiel, de 19 anos. Costuma participar na guerra das almofadas, mas este ano a fraca adesão desiludiu-o. Também desceu no slide e disse que nem todas as intervenções artísticas são do seu agrado.
Quem voltou a coordenar a pillow fight foi Eduardo Lopes, que se formou em Design Industrial na ESAD e que voltou a dirigir a luta, depois de o ter feito durante vários anos, enquanto cá estudou.
Durante as noites, a Praça 5 de Outubro foi um ponto central do evento.
O terminal rodoviário acolheu a intervenção Evento Off the map / On the road, onde tiveram lugar iniciativas de escultura, ilustração, pintura, desenho, joalharia, magia, performance, vídeo arte, dança, instalação, live cinema, video mapping e performance audio visual. Entre os vários artistas, esteve a alemã Parisa Karimi, que trabalha em video mapping e performance audio visual. A joalheira local Liliana Alves deu a oportunidade ao público de experimentar fazer este trabalho artesanal.
Além dos museus e dos Silos, abriram-se também as portas da Igreja Evangélica Batista e da sede do PS para acolher intervenções.
A festa final realizou-se junto ao Complexo Desportivo, com três palcos montados na rua. Uma das maiores críticas foi o sistema de venda de bebidas, com apenas dois pontos de compra de senhas, que criaram demoradas filas.
O Caldas Late Night é um dos momentos altos da cidade e há caldenses que actualmente vivem no estrangeiro e que tiram férias nesta altura, de propósito, para vir ao evento.


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