Apaixonados pela concertina juntam-se na escola da Gracieira

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O gosto pela concertina é transversal. Crianças e adultos, homens e mulheres encontram-se para tocar e conviver. | Fátima Ferreira

Têm entre nove e 73 anos e um gosto em comum: a concertina. Agora podem concretizá-lo na Escola de Concertinas da Gracieira, cujos ensaios decorrem duas vezes por mês na antiga escola primária da localidade.
As aulas são dadas pelo professor Ricardo Pereira, da Barrenta, e têm atraído cada vez mais adeptos. Começaram por ser sete há dois anos, mas agora já são 17. E não faltam convites para actuações.

 

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Desde criança que João Oliveira gosta do som da concertina e sempre quis aprender a tocar este instrumento. A falta de professor nas redondezas e as dificuldades de transporte de então levaram-no a adiar o sonho até há dois anos, altura em que o conseguiu concretizar. Tinha 61 anos e, juntamente com outros amigos da Gracieira, criou uma escola de concertinas, que tem crescido e levado música a várias localidades do concelho e até já fora dele.
Foi em finais de Maio de 2015 que João Oliveira encontrou o concertinista Ricardo Pereira no Encontro Nacional de concertinas das Gaeiras e o convidou a dar aulas a um pequeno grupo de aspirantes a músicos na Gracieira. Com o aval do jovem da Barrenta (Porto de Mós), João Oliveira começou a falar com outras pessoas da terra a fim de integrarem a escola de música, que acabaria por arrancar em Setembro desse ano com sete pessoas.
João Oliveira já tinha concertina quando as aulas começaram. Tinha comprado o instrumento a pensar que conseguia aprender sozinho, mas enganou-se. Só com as aulas do professor Ricardo é que conseguiu encadear as notas, dando corpo às melodias que tanto gosta de ouvir. O sexagenário e funcionário da Câmara de Óbidos hoje reconhece que nunca pensou “conseguir tocar alguma coisa em tão pouco tempo”. É que pelo Natal já tocava duas modas – o “Vira Virei” e a “Rosinha”.
À Gazeta das Caldas garante que quem não gostar de concertina não aprende a tocar, pois é um instrumento de difícil aprendizagem e que necessita de muita dedicação e persistência. “Não tem muitos botões, mas estes são duplos: um mesmo botão ao abrir faz um som e ao fechar faz outro”, explica.
O apaixonado pela concertina já incentivou a sua filha mais velha a aprender a tocar e espera que o neto mais novo, agora com seis anos, também vá para aquela escola. Mas ainda é cedo, pois de acordo com o músico e responsável pelo grupo, a idade ideal para se começar a aprender é a partir dos oito anos.
Miguel Gomes, de nove anos, é o benjamim do grupo. O gosto pelo som que aquele instrumento emana e a forma como as músicas são tocadas levaram-no a querer aprender. No ensaio de sexta-feira tocava afincadamente o “Vira Rosinha”, depois de dedilhar com mestria os acordes do “Vira Virei”, a primeira música que aprendeu.
“É só preciso ter ouvido e persistência para continuar a aprender”, conta o pequeno músico que, no futuro gostaria também de aprender saxofone.
O grupo, actualmente composto por 17 elementos, conta com a presença de várias mulheres, entre elas Conceição Santos, dos Casais do Louriçal (Gracieira). Sempre gostou de ouvir tocar concertina e resolveu ir aprender. “Foi um tiro no escuro”, conta a concertinista, que não está arrependida. A prová-lo estão os vários concertos em que já participou e o facto de já ter comprado uma segunda concertina, mais sofisticada que a primeira, para tocar.
Também Matilde Ferreira começou por tocar concertina, mas um problema no braço levou a que tivesse que deixar este instrumento, substituindo-o por um bombo com o qual acompanha o grupo. Há ainda outra senhora que toca reco-reco.

Gosto e empenho

As aulas são dadas por Ricardo Pereira que, de 15 em 15 dias, faz 90 quilómetros entre a Barrenta e a Gracieira. Conta que quando começaram, há dois anos, nenhum dos “alunos” sabia tocar, mas que adaptaram-se bem, porque “havia muito gosto e empenho das pessoas”.
Tocam música popular e tradicional portuguesa. Mas como se ensina a tocar concertina a quem não sabe ler música? “Não é difícil”, garante o professor, que utiliza um método em que há números atribuídos às teclas e que faz com que os sons saiam. Os números funcionam como se uma pauta se tratasse, diz, acrescentando que primeiro ensina a tocar com uma mão e depois com as duas.
Ricardo Pereira começou a tocar concertina com 18 anos e foi um dos principais organizadores, juntamente com Armando Carreira, do encontro de concertinas que decorre naquela aldeia e que atrai milhares de pessoas. Agora está também à frente do grupo de concertinas da Barrenta, que tem 16 elementos.
A escola de concertinas da Gracieira está aberta a todos quantos queiram aprender. Tem uma mensalidade de 20 euros e tem lugar nas instalações da antiga escola primária da localidade.

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