Antigo presidente da Chapecoense é médico dentista nas Caldas da Rainha

0
1332
Chapecoense
Nilo Traesel com uma camisola autografada pela equipa campeã em 2007. Apesar de estar nas Caldas, o ex-presidente tinha contacto semanal com os dirigentes do clube. | Joel Ribeiro

Nilo Traesel, médico dentista proprietário da clínica MedCaldas, foi presidente da Associação Chapecoense de Futebol na década de 90. Nessa altura levou a Chapecoense ao título no campeonato estadual, agora pode ajudá-la a superar a tragédia.

“Foi uma história chocante, que me deixou muito abalado. Conhecia quase toda a gente naquele avião e nunca pensei que pudesse ter tantos amigos envolvidos num acidente desta natureza”, disse Nilo Traesel à Gazeta das Caldas.
Radicado nas Caldas da Rainha desde 2005, quando abriu a MedCaldas, o médico dentista foi presidente do clube nos anos de 1995 e 1996. Na altura o clube de Chapecó era ainda modesto, mas procurava iniciar uma ascensão que acabaria por levá-lo, mais recentemente, ao principal escalão do futebol brasileiro. Na presente época o clube vivia um sonho – ia disputar a primeira mão da final da Copa Sul-Americana, o equivalente à Liga Europa.
Com Nilo Traesel ao comando, o clube venceu a Taça Plínio de Nes e foi vice-campeão do Campeonato Estadual de Santa Catarina em 1995, e campeão na temporada seguinte. Foi responsável pela contratação de jogadores ilustres, como Paulo Rink, que mais tarde representou a selecção da Alemanha, e Cuca, treinador que se sagrou campeão brasileiro pelo Palmeiras, justamente num jogo contra a Chapecoense dias antes do trágico acidente.
No avião que se despenhou a 28 de Novembro o agora caldense por adopção tinha muitos amigos, sobretudo dirigentes do clube, actuais e antigos, e jornalistas. “Mantinha contactos semanais com alguns e tinha falado na semana passada com um deles”, contou à Gazeta das Caldas. Depois de ter sido presidente do clube, Nilo Traesel foi também comentador desportivo na Radio Condá e na cadeia de televisão RBS. Vários dos jornalistas com quem trabalhou também perderam a vida naquele fatídico acidente.

O antigo presidente da Chapecoense acredita que, se ainda estivesse no Brasil, poderia ter estado no voo LaMia 2933. É que o clube convidou os ex-presidentes para acompanhar a equipa àquele jogo histórico.
Nilo Traesel diz que passou as noites seguintes ao acidente sem dormir e considera que este se torna mais difícil de aceitar tendo em conta que era evitável. “O acidente foi provocado por erros grosseiros cometidos em função da ganância. Estava prevista uma escala para reabastecer que foi cortada”. Espera, contudo, que a tragédia possa servir para que a fiscalização a este tipo de operação seja mais apertada para bem da aviação e dos passageiros.

- publicidade -

CLUBE PODE CRESCER

A Chapecoense que garantiu a presença na final da Copa Sul-Americana (jogaria a final com o Nacional de Medellín) deixou de ser o clube de cariz regional que era e já é um clube de dimensão nacional, capaz de bater o pé aos melhores clubes brasileiros, como o Flamengo, o Santos ou o Corinthians. “Toda a gente estava de olhos postos na Chapecoense com essa final”, observa.
No entanto, Nilo Traesel acredita que esta tragédia pode ajudar o clube a continuar a crescer. “O acidente chocou todo o mundo do futebol e é preciso não deixar esquecer o que aconteceu”, diz. Por todo o mundo existiram demonstrações de solidariedade, que nalguns casos se traduziram em ajudas efectivas. Nilo Traesel tem estado em contacto com o vice-presidente do clube, Ivan Tozzo, que assumiu a presidência de forma interina e lhe garantiu que o clube vai voltar mais forte. “O clube não tem dificuldades financeiras”, assegura Nilo Traesel.
Ivan Tozzo está a reunir uma nova direcção e Nilo Traesel disponibilizou-se para ajudar a partir de Portugal, nomeadamente a estabelecer relações internacionais que o clube ainda não explora.
O presidente interino anunciou no final do velório das vítimas, no estádio Arena Condá, que o clube será declarado vencedor da Copa Sul-americana pela CONMEBOL – equivalente à UEFA para a América do Sul –, o que foi, de resto, solicitado pelo Nacional de Medellín. Desta forma, o clube do Oeste de Santa Catarina receberá o prémio monetário de 2 milhões de dólares e um passe para disputar a Copa Libertadores – equivalente à Liga dos Campeões – na próxima época.

- publicidade -