
A substituição do vidro por acrílico levou a comissão cívica a comprar um vidro – que custou 10 euros – e, juntamente com a Comissão de Utentes Unidos pelo Nosso Hospital, Conselho da Cidade e representantes dos partidos políticos, dirigir-se ao Hospital Termal para fazer a entrega à direcção. Tratou-se de uma acção de “carácter simbólico”, como explicou o ex-administrador do Centro Hospitalar das Caldas, Mário Gonçalves, que pretendeu mostrar a indignação dos caldenses pelo encerramento prolongado daquele equipamento e por verificarem que o Conselho de Administração do CHO “não lhe tem dedicado a importância que merece”.
Quando chegou ao local, Carlos Sá explicou que o vidro já tinha sido reparado, mas foi então que foi confrontado com a colocação de um painel de acrílico na janela.
Os ânimos começaram a exaltar-se com alguns dos elementos da comissão a apelidarem de “ignorante” quem coloca um painel de acrílico num monumento e a acusarem Carlos Sá de “incompetente”.
“O senhor é o destruidor número um deste hospital. O senhor aqui é um intruso, não tem noção do que aqui está a fazer”, disse, alterado, o administrador hospitalar e membro da Comissão Cívica pelo Hospital Termal, Jorge Varandas.
Apelando à calma, Carlos Sá disse que não participa em “cenas” e que houve um aproveitamento daquela situação por parte de algumas pessoas. Reconhecendo que a intervenção foi mal feita, contactou os serviços de instalações e equipamentos para repararem a janela em condições e manifestou que não iria aceitar a oferta da comissão porque o hospital “tem dinheiro para pagar o vidro”.
Carlos Sá rejeita que hospital esteja “desprezado e abandonado”, como lhe foi dito, e quando confrontado com a falta de funcionamento dos elevadores, justificou que um teria deixado de funcionar na sexta-feira e que no próprio dia foi arranjado, mas na segunda-feira voltou a avariar, pelo que já tinha sido contactada a empresa de manutenção.
Já no que respeita a outras intervenções, o responsável explicou que estão “sob a alçada da Câmara das Caldas, que contratou uma empresa e que está a ultimar um projecto para apresentar com as requalificações necessárias de toda esta área”.
Apelo à união
Conceição Camacho, directora clínica do Hospital Termal, tentou serenar os ânimos, pedido a união de todos para que o hospital possa voltar a funcionar.
A médica, com 30 anos de serviço, lembrou que não é nova a intenção do governo de encerrar este hospital. Já em 1996, numa reunião na Direcção Geral de Geologia e Energia (DGGE) lhes foi proposto o fecho do termal, ao qual se opuseram, mas que acabaria por encerrar (provisoriamente) em Fevereiro do ano seguinte. O mesmo veio a acontecer o ano passado, com nova proposta para retirar a concessão das águas à instituição.
A médica afirmou que havia “grandes interesses da parte do Norte neste caso”, sem, contudo, apontar nomes, e pediu a união de todos para que se tomem as atitudes correctas e que se cumpra o Compromisso da Rainha.
Conceição Camacho lembrou ainda que o projecto que a Câmara tem neste momento para recuperação do património termal data do tempo da administração de Mário Gonçalves, que foi apresentado há cerca de 20 anos, “numa altura em que havia dinheiro e possibilidades de investir”.
Já Jorge Varandas tem uma visão diferente. O ex-administrador diz que o Hospital Termal necessita apenas de uma verba de 150 mil euros para resolver o sistema de adução da água e canalização interna a fim de recomeçar a funcionar. O administrador hospitalar disse ainda que, após cada reabertura do termal, verificava-se um regresso de cerca de 1500 aquistas, que se traduzem numa receita de 400 mil euros por ano. Para além disso, os doentes que recebem aqueles tratamentos poupam em medicamentos e em dias de trabalho que por questões de dor e dificuldades de mobilidade, ficam em casa, disse o responsável, que estima que um ano de fecho de hospital se traduza numa perda de um milhão de euros.
Os representantes das associações cívicas e dos partidos locais manifestaram também a sua concordância na união em torno desta questão, assim como da manutenção do equipamento no Serviço Nacional de Saúde. Ficou o compromisso conjunto de criarem um projecto para defenderem junto do governo e da União Europeia, para obtenção de fundos comunitários.
No final, o vidro oferecido, apesar de rejeitado por Carlos Sá, acabou mesmo por ficar na recepção do Hospital à espera de uma utilização.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt
(Má) reparação após perguntas da Gazeta das Caldas
A polémica reparação dos vidros do edifício do Hospital Termal aconteceu dois dias depois de o nosso jornal ter questionado o CHO relativamente à má imagem provocada pelo contraplacado de madeira colocados numa das janelas.
O gabinete de imagem do CHO esclareceu a Gazeta das Caldas que os vidros partiram-se em meados de Janeiro devido ao mau tempo e que “desde logo foi feita a encomenda do material necessário para a reparação dos mesmos”.
Coincidência ou não, o nosso jornal contactou o CHO numa segunda-feira, 10 de Fevereiro, e dois dias depois recebemos as respostas daquela instituição (já depois do fecho da edição da semana passada) a dizer que os vidros estavam já substituídos. No entanto, pelo menos um deles era um simples acrílico.
P.A.






























