Ana Cristina Rodrigues, uma bióloga que está a criar gomas que previnem cáries

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A bióloga, que trabalha no Bombarral e em Leiria, vive nas Caldas desde 1999

Ana Cristina Rodrigues é professora e investigadora na Escola de Saúde do Politécnico de Leiria e coordena o RochaCenter, depois de ter dirigido o Polo de Biotecnologia da Católica

Já imaginou comer gomas para prevenir cáries? É no que esta investigadora está a trabalhar. Ana Cristina Rodrigues é investigadora no Instituto Politécnico de Leiria e no RochaCenter, e, num trabalho que envolve ambas as entidades, está a desenvolver gomas feitas com farinha de peras e de maçãs inaptas para serem vendidas e com xilitol, um componente das pastas de dentes, que adoça as gomas sem prejudicar a dentição, bem pelo contrário!

Outro projeto de investigação que visa reduzir o desperdício alimentar é a criação de gomas que facilitem a ingestão da medicação.

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As gomas contêm a medicação e, através da sua textura facilmente mastigável e do seu sabor agradável, dados pela farinha de pera e de maçã e por um gelificante, permitem que a medicação seja ingerida e digerida, sem necessitar de ser deglutida.

Além disso, a goma anula o sabor repulsivo da medicação. “São um veículo de uma substância que faz falta e que era difícil de ingerir”, especialmente pelas crianças e idosos.
Os frutos conferem ainda às gomas um “conjunto de propriedades antidiabéticas e antioxidantes”, diz a bióloga formada em Coimbra, ressalvando que o trabalho está numa fase embrionária.

Ana Cristina Rodrigues é natural de Torres Vedras, mas vive nas Caldas desde 1999, quando veio trabalhar para o Polo de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, inicialmente como professora e investigadora, e posteriormente também como diretora. Aí esteve até 2011, quando o polo fechou portas.

Desde então, leciona e investiga na Escola de Saúde do IPL, e há oito anos também no RochaCenter, onde é coordenadora técnico-científica.

É professora de microbiologia alimentar e de imunologia no curso de nutrição, e de microbiologia e doenças infecciosas no de enfermagem.

No RochaCenter, Ana Cristina Rodrigues procura estratégias para fazer com que, durante nove meses, as peras e as maçãs conservem a aparência de fruta acabada de colher. Também estuda a área da patologia das plantas, nomeadamente, as doenças da estenfiliose, causada por fungos, e do fogo bacteriano, que prevalecem no pomar de pera rocha.

A cientista sempre soube que queria seguir a investigação, cuja carreira ainda não existia no final dos anos 80. Começou a trabalhar no laboratório aos 19 anos, e ganhou uma bolsa de doutoramento para estudar os nemátodos que estavam a atacar roças de café em S. Tomé e Príncipe, uma importante fonte de rendimento para o país. “Os nemátodos são pequenos vermes que atacavam as raízes das plantas, expadindo-se pelos seus vasos – o xilema e o fluema -, impedindo a absorção da água e dos nutrientes. Assim, o crescimento da planta ficava comprometido”, explica.

No âmbito desse projeto, pôde estudar técnicas moleculares, como de extração e caracterização de ADN, em Inglaterra, e técnicas de microscopia eletrónica em Itália. Hoje, técnicas elementares, mas que, na altura, eram inovadoras.

Ana Cristina esteve 12 anos na área da nematologia e há 26 anos que investiga os frutos, entre atmosferas e controlo de qualidade e de doenças. Enquanto coordenadora, fez gestão de equipas e de orçamentos e procura de financiamentos.

O caminho da ciência não é fácil. “Quando me licenciei, 90% a 95% dos meus colegas foram dar aulas”, conta. O investimento do governo em ciência “ainda é muito pequenino”, mas a “curiosidade e a vontade de ajudar através da resolução de problemas” têm falado mais alto.

“Penso que a ciência não tem fim. Porque, de cada vez que resolvemos um problema, arranjamos mais quatro ou cinco”, afirma.

E mesmo quando não é possível encontrar a solução, o conhecimento científico avança. “Descartei uma hipótese, isso também é resultado.”

Veja-se o exemplo da vacina para a covid-19. Esta “apareceu muito rapidamente porque a vacina da Sida nunca conseguiu ser feita”, conta.

“São vírus que são parecidos na estrutura, porém, a vacina não funcionou para o vírus do VIH porque ele se aloja nas células que dão a resposta imunológica e nunca houve uma estratégia que as conseguisse ‘enganar’”, explica. O problema não se colocou com o Sars-Cov-2, pelo que a tecnologia que falhou para um resultou para o outro.

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