A investigadora Paula Chaínho deu a conhecer o projecto Nipoges no passado dia 27, na colectividade do Vau

Investigadores pretendem encetar um estudo da população
de amêijoa japonesa, uma espécie invasora, na Lagoa de
Óbidos. O objectivo é propor medidas de gestão sustentável
para a sua apanha, em conjunto com o sector

Depois de estudar as realidades do Estuário do Tejo e da Ria de Aveiro, o projecto Nipoges, desenvolvido por uma equipa do Centro de Ciências do Mar e Ambiente da Faculdade de Ciências, vai estender-se à Lagoa de Óbidos. Perceber a quantidade de amêijoa japonesa capturada e em que locais, os impactos no ecossistema, quantos e quem são os apanhadores, como é feito o circuito de distribuição e qual valor nutricional e económico deste bivalve, são alguns dos objectivos do trabalho a realizar. Essa informação será toda utilizada para, posteriormente, e em conjunto com os pescadores e mariscadores, proporem medidas de gestão sustentável para a sua captura.
Paula Chaínho, investigadora e responsável pelo projecto, explicou que a realidade da Lagoa de Óbidos é diferente da que encontraram no Tejo, tendo em conta que se trata de uma zona mais pequena, onde há horários de pesca e os apanhadores usam apenas a berbigoeira e apneia durante o Verão. Já os apanhadores ocasionais apanham o marisco apeados.
O estudo no Estuário do Tejo mostrou uma proliferação da amêijoa japonesa e quase desaparecimento da amêijoa real, também denominada de amêijoa boa, enquanto que no Estuário do Sado encontra-se amêijoa japonesa, mas a dominante é a real, tal como acontece na Lagoa de Óbidos. “Estamos a tentar perceber se isso está associado a alguma variabilidade do ponto de vista ambiental, através da medição de parâmetros da qualidade da água e dos sedimentos”, explicou Paula Chaínho.

Necessidade de regulamentação

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Actualmente o Tejo é o único local que está regulamentado, o que significa limites para o tamanho mínimo e quantidade máxima de captura deste bivalve. Por outro lado, o facto dos apanhadores poderem registar a apanha nas capitanias adjacentes leva a que, por exemplo, no caso da apanha de amêijoa no Tejo (zona de classe C em que o marisco não pode ser depurado) seja dada como sendo do originária do Estuário do Sado (classe B). “Ou seja, estamos a comer uma amêijoa com uma elevada contaminação microbiológica como se fosse do Sado”, alertou a investigadora, justificando que isso acontece por não haver regulamentação, que permita ver que aquela quantidade não pode ser ali apanhada.
De acordo com Diogo Franco, mariscador e elemento da Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos, a amêijoa japonesa representa 30 a 40% do pescado na lagoa, sendo a maioria a amêijoa real. Apesar de ser uma espécie invasora, os mariscadores dizem que “nos últimos cinco, seis anos tem sido uma “safa” para nós”, porque já houve anos em que representou 80 a 90% da sua pesca.Este bivalve distingue-se da ameijoa real pelo seu aspecto e casca mais rugosa.
O projecto Nipoges termina no final do ano mas a equipa está a atentar estendê-lo mais alguns meses, tendo em conta que o processo de gestão participada demorou mais do que o previsto, e no final será feito um relatório com as conclusões. Paula Chaínho espera conseguir dar-lhe continuidade, de modo a “explorar estas perguntas que agora nos surgem todos os dias.”
Este encontro, que decorreu a 27 de Fevereiro na Associação Recreativa, Desportiva e Cultural Vauense, foi organizado pelo Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos, um projecto que pretende abordar, divulgar e estudar várias áreas do conhecimento.

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