Alternativas do aeroporto para o Oeste oscilam entre Santarém e Ota

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Turismo do Centro vê aeroporto em Santarém como uma oportunidade para a região, enquanto os autarcas do Oeste continuam a defender a Ota.
Já os empresários querem, mesmo, é uma solução.

Santarém está entre as cinco opções que vão ser estudadas no âmbito da avaliação ambiental estratégica do novo aeroporto, a concretizar por uma comissão técnica independente, e que servirá de base à tomada de decisão sobre a localização do novo aeroporto da região de Lisboa. No entanto, a Comunidade Intermunicipal do Oeste ainda não desistiu de voltar a introduzir a Ota no lote de alternativas.
A hipótese Santarém surgiu recentemente e é bem acolhida pelo Turismo do Centro. A nível dos fluxos turísticos, um aeroporto no território da região Centro, ou que o sirva diretamente, “teria um impacto muito positivo”, diz Pedro Machado, revelando que 2019 foi o melhor de sempre para a atividade turística na região, ultrapassando os sete milhões de dormidas. Além disso, os números mais recentes do INE deixam antever que 2022 será ainda melhor.
“Sem ser servida por um aeroporto, a região registou mais de 1,1 milhões de dormidas só em agosto, o que faz deste mês o melhor de sempre para a atividade turística no Centro de Portugal. Quantas dormidas teríamos se quem nos quer visitar não tivesse de aterrar em Lisboa ou no Porto”, questiona o presidente do Turismo do Centro, adiantando que há um interesse cada vez maior na região por parte de turistas do Brasil, Estados Unidos, os países asiáticos ou Israel. Muitos deles querem conhecer Fátima, Coimbra, os lugares património da humanidade, as aldeias ou a costa atlântica, mas “têm obrigatoriamente de passar várias horas em automóveis, por não haver um aeroporto, o que leva muitos a pensar duas vezes”, diz o responsável, defendendo que a criação desta infraestrutura “é essencial para captar não só esses como novos fluxos turísticos”.
Pedro Machado considera que é preciso desacelerar a tendência de centralismo em redor da capital, fixando as populações noutros locais através da criação de infraestruturas e, nesse aspeto, um aeroporto poderá constituir um ponto de viragem. “É preciso não esquecer que não é apenas o turismo que seria beneficiado. Muitas outras atividades económicas sairiam a ganhar com mais esta plataforma de distribuição”, diz, acrescentando que a obra também gera novas empresas e muitos postos de trabalho.
A ocidente da Península Ibérica, há três aeroportos na Galiza, um no Porto, outro em Lisboa, um em Beja e outro em Faro. “São mais de 300 quilómetros entre os aeroportos de Sá Carneiro e Humberto Delgado sem uma pista que receba companhias aéreas”, revela, registando que “não é de admirar, pois, que esta enorme parcela de Portugal se sinta negligenciada”. Vê, por isso, a discussão sobre o novo aeroporto, agora relançada, com uma oportunidade “para se corrigir esta injustiça”.
Também a deputada Sara Velez, eleita por Leiria, considera que a construção de uma importante infraestrutura, como é um aeroporto a norte do Rio Tejo “daria efetivamente um forte contributo para o crescimento e desenvolvimento económico e iria permitir a esta região ganhar uma nova centralidade, não só a nível nacional, bem como internacional”.
A socialista sublinha que já se discute há demasiado tempo a construção de um novo aeroporto e espera que depois da solução encontrada pela comissão técnica, “a decisão política que venha a ser tomada seja a que melhor serve o país. Se assim for, será com certeza também, a decisão que melhor serve a região”, acredita.
Já o social-democrata Hugo Oliveira não tem dúvidas de que a opção Santarém será uma mais-valia para a região e acresce que, sendo um investimento privado, “poderá colocar-se como uma proposta irrecusável”. Para além do desenvolvimento e atratividade que proporcionaria, a construção do aeroporto a norte do Rio Tejo “beneficia o país e a sua coesão”, salienta. O deputado salienta ainda que o que está em causa é encontrar uma solução para a construção de um aeroporto nacional, o que “não concorre com a posição até aqui tomada de um aeroporto regional em Monte Real”.
Já Gabriel Mithá Ribeiro (eleito no distrito pelo Chega e agora independente) esclarece que defende a abertura da base aérea de Monte Real à aviação civil.

Preferência pela Ota
A Comunidade Intermunicipal do Oeste não desarma e consensualizou retomar o estudo da Ota como uma das soluções a defender junto do poder central.
À Gazeta, Pedro Folgado, líder dos autarcas da região, diz que necessitam de mais dados para perceber se a opção Santarém é benéfica para o Oeste. “É óbvio que tem sempre a mais valia de ser a norte do Rio Tejo, mas ainda assim a nossa primeira opção será a Ota”, refere.
A posição do presidente da Câmara de Alenquer é acompanhada pelo homólogo de Óbidos, Filipe Daniel, embora reconhecendo que Santarém também poderia ser uma alternativa interessante pela proximidade e a ligação da A15. Já o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, defende o aproveitamento das estruturas já existentes, na Ota e Monte Real, ao invés de se criar uma infraestrutura de raiz. “As soluções perto da grande Lisboa não me parecem adequadas”, diz o independente, realçando que fará mais sentido um aeroporto distante da capital, mas com boas ligações e que permita potenciar também outras regiões.

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Empresários querem solução
Do lado dos empresários, o essencial é que o Governo encontre uma solução para o aeroporto e, se essa solução poder ser mais próxima do Oeste, tanto melhor.
Ana Maria Pacheco, administradora da Molde e antiga presidente da AIRO – Associação Empresarial da Região Oeste, diz que os estudos que têm sido realizados no passado “só servem para desperdiçar recursos e atrasar uma decisão”. A empresária não discute “se Santarém é a melhor opção, porque se estivermos à espera da melhor opção, não vai haver aeroporto”.
O que Ana Maria Pacheco não tem dúvidas é que, para o Oeste, a opção Santarém seria uma grande oportunidade. “Pela proximidade, pelas redes de acessibilidades que já estão feitas, claro que seria bom”, sustenta. A empresária acredita que, mesmo para o país, “um aeroporto em Santarém faria sempre parte da sol30ução e não do problema”, porque, dada a centralidade, “não me custa nada acreditar que seja muito positivo para todo o Centro”.
De resto, a administradora da Molde destaca que esta solução “é uma coisa concreta”. “São pessoas que tomaram uma decisão, que têm possibilidades de arranjar o capital para fazer a obra e eu aplaudo isso”, remata.
Luís Vieira, fundador e administrador do Grupo Parras Wines, considera “absolutamente fantástico” a oportunidade de ter um novo aeroporto “mais próximo da nossa região”. A infraestrutura tem potencial para impactar positivamente “no turismo da região centro”, mas também com reflexos na região de Lisboa, “aliviando a pressão que se sente” naquela região em termos de habitação. “Acredito que várias zonas do interior terão também um movimento inverso de desertificação que se tem assistido”, acrescenta.
A nível económico, um aeroporto na capital do Ribatejo, bem perto do Oeste, poderá potenciar desenvolvimento, “pois haverá vários serviços que serão necessários de suporte ao aeroporto”, acrescenta.

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