Alfândega do Porto – um exemplo para os caldenses pensarem

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Gazeta das Caldas

alfandegaRecentemente participámos numa conferência na Alfândega do Porto e pudemos verificar como foi possível recuperar e voltar a utilizar de forma dinâmica um edifício do século XIX, com uma estrutura semelhante à que nas Caldas da Rainha têm os Pavilhões do Parque.
Se a Alfândega tem uma localização privilegiada junto ao Rio Douro, a dois passos do centro tradicional da capital nortenha, ali junto à Ribeira, também os Pavilhões do Parque têm uma localização muito favorável, no centro da cidade, no interior do Parque D. Carlos I e com uma estrutura arquitectónica, em nossa opinião, ainda mais interessante que o edifício portuense.
Pesquisando um pouco, fomos descobrir que o edifício do Porto foi mandado construir em 1859, segundo um projecto de um arquitecto francês – Jean Colson – tendo sido concluída a primeira fase dos trabalhos em 1869 e terminada a construção em 1879. Em contrapartida os Pavilhões do Parque começaram a ser construídos em 1892, num projecto do próprio Rodrigo Berquó, com formação não concluída em engenharia civil e arquitectura, que era então Provedor do Hospital e foi presidente da Câmara durante um ano. A obra, contudo, nunca chegaria a ser concluída, pois foi abandonada pelo sucessor à frente do Hospital Termal com a morte prematura do seu ideólogo. Diz-se ainda hoje que essa interrupção foi a vingança da época dos opositores de Berquó que nunca lhe perdoaram o seu tom altivo, razão das críticas de que foi alvo por Bordalo Pinheiro, seu contemporâneo nas Caldas.
Mas o objectivo deste texto não é contar a história da desgraça dos Pavilhões do Parque, mas falar de uma iniciativa dos portuenses que devia merecer a reflexão dos caldenses. O edifício da Alfândega foi construído para a entrada e saída de mercadorias transportadas por barco e o seu transbordo para a via ferroviária ou rodoviária. Servia na época e durante muitos anos como posto alfandegário, compreendendo inúmeras infraestruturas como armazéns, vias-férreas, guindastes para a movimentação de mercadorias, instalações administrativas, biblioteca, etc.
Progressivamente abandonado com a transferência daquelas funções para outros locais, nomeadamente para Leixões e Matosinhos, bem como para o aeroporto, o emblemático edifício foi entregue nos anos 90 ao arquitecto Souto Moura para fazer um projecto de  restauro e requalificação, com vista a ali albergar um futuro Palácio de Congressos que incluiria zona de exposições e um Museu dos Transportes e das Comunicações.
O objectivo proposto ao notável arquitecto do Porto (a quem também chegou a estar entregue o projecto do Centro de Congressos das Caldas), dadas as dimensões e características do edifício, sugeria um uso adequado no domínio polivalente explorando todo o potencial de localização e de beleza.
Hoje o Porto dispõe ali de um Centro de Congressos com uma área flexível de 50 mil metros quadrados, 22 salas multifuncionais que podem receber todo o tipo de eventos, para além de outros espaços utilizados para exposições e onde funciona o referido museu dos transportes e das telecomunicações.
Presentemente ali estavam patentes, para além das colecções ligadas aos transportes e comunicações de base, uma exposição dos veículos utilizados pelos Chefes de Estado desde há vários séculos e uma exposição de protótipos que correram no Grande Prémio de Macau.
Segundo a revista Business Destinations, aquele espaço foi distinguido como um dos melhores da Europa em 2014 para “reuniões e conferências” a par do Excel Center, de Londres, que arrecadou o galardão destinado a grandes conferências, constituindo hoje um grande atractivo para a realização de reuniões internacionais.
Segundo um estudo citado no site do Expresso (2/7/2014), realizado pela Porto Business School, nos últimos seis anos, o Centro de Congressos da Alfândega do Porto teve um efeito de 124 milhões de euros no PIB do país. No emprego, o seu impacto traduz-se numa média anual de 745 postos de trabalho. A contribuição para a riqueza do país variou entre um mínimo de 14,7 milhões (2011) até ao recorde de 24,4 milhões (2010). Em 2013 o seu contributo foi de 20,8 milhões de euros.
Para reforçar esta aposta ganhadora, o Centro de Congresso está a caminhar na direcção de um Centro de Negócios, onde as empresas se podem encontrar e apresentar os seus produtos, havendo realizações no campo da moda, gastronomia, tecnologia, etc.
As receitas do próprio Centro de Congressos servem para financiar o funcionamento do Museu e de outras actividades não lucrativas, o que mostra como se pode dar a volta a uma infraestrutura que tinha todas as condições para ser apenas subsídio-dependente.
É evidente que não podemos comparar Caldas da Rainha ao Porto, nem a atracção de turistas que hoje procuram a capital do Norte, com uma quase ausência de fluxos de turistas nas Caldas da Rainha (ao contrário do que há décadas acontecia), mas podia-se aprender um pouco mais e abandonar obras megalómanas que depois apenas são custos para o erário municipal.

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