Albino d’Óbidos, um artista multifacetado, foi homenageado na sua terra de eleição

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Numa cerimónia pública, empresários e amigos destacaram as qualidades humanas e profissionais daquele que consideram ter sido um dos maiores dinamizadores culturais de Óbidos

Às 18h00 de sexta-feira (23 de julho) brindou-se a Albino d’Óbidos. Nascido naquela data há 92 anos (e falecido em 2004), Albino Eduardo dos Santos é oriundo de uma família pobre, de trabalhadores rurais, mas destacou-se nas mais diversas expressões artísticas, desde a escultura à pintura, passando pela produção literária e o teatro.
“Dos seus pais herdou os valores da humildade e dos bons princípios, do seu tempo ficam as marcas da guerra, da fome e das injustiças político-sociais. Ambos os fatores vão marcar profundamente a sua obra artística”, recordou a filha, Leila Santos, durante a homenagem que lhe foi prestada na sua antiga olaria, agora cafetaria “Nata Lisboa”, na rua da Talhada, junto à cerca do castelo. Esta foi a primeira de um conjunto de homenagens que os empresários e comerciantes de Óbidos pretendem fazer a figuras de destaque neste município.

O multifacetado artista faleceu em 2004

A procura da identidade artística foi uma “batalha dura e lenta” para Albino Eduardo dos Santos, que, sem dinheiro para comprar tintas, começou por ter nas “paredes, caixas de sapatos, carvão e os os próprios dedos as suas primeiras ferramentas de trabalho”, lembrou a filha, acrescentando que a analogia entre o camponês e o artista é bem notória na sua obra.
Homem simples, mas de uma procura de conhecimento e sabedoria intensa, trabalhava ao mesmo tempo que foi para as Caldas da Rainha tirar o curso comercial. “Ia para as Caldas estudar a pé, comprou depois uma bicicleta, que viria a vender para comprar um dicionário”, que seria, aliás, uma das suas principais ferramentas durante toda a vida.
Nos anos 70 entra no Instituto de Belas Artes (antigo IADE) e, de acordo com Leila Santos, viveu um período áureo uma década mais tarde, altura em que as suas cabaças pintadas eram uma referência turística de Óbidos. Ao mesmo tempo escrevia (muitos dos seus textos foram publicados na Gazeta das Caldas), encenava e coreografava para teatro.
“Óbidos foi para Albino parte substancial do seu ser. Nasceu, viveu, trabalhou e sonhou com a sua terra, que gostava de ver dignificada e divulgada”, referiu a filha, lembrando o seu contributo para o turismo cultural daquela terra.

Era um homem simples, mas de uma procura de conhecimento e sabedoria intensa

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Entre os presentes na homenagem, obidenses e amigos partilharam como Albino d’Óbidos marcou as suas vidas. “Fui de tal maneira influenciado que também comecei a pintar os recantos de Óbidos e, mais tarde, fui para a Sociedade Nacional de Belas Artes”, recordou Narciso Correia, que conviveu desde criança com o multifacetado artista. Começou por ajudar a pintar algumas das peças que produzia e depois Albino “puxou-o” para o teatro, junto com outros jovens obidenses. José Machado recordou-o como um homem “profundamente cristão, que tendo passado muitas dificuldades em criança e jovem, ajudou muita gente do ponto de vista material, mas também intelectual e espiritual”, destacando os seus horizontes “muito avançados” para a época. Entre as pessoas nascidas no século passado em Óbidos é uma das que “mais qualidades manifestou devido ao seu esforço”, rematou.
A ideia de homenagem partiu do empresário João Baiana, proprietário do estabelecimento comercial que fica situado na antiga oficina, mas que mantém todo o espólio e identidade ao artista. “Há a intenção de dignificarmos o espaço e a sua memória”, manifestou, acrescentando que pretendem repetir a iniciativa. Também a filha do artista, Leila Santos, deixou o repto para que no próximo ano possam ter uma exposição e que a imensidão do trabalho deste artista e divulgador cultural de Óbidos possa ser mais conhecido e apreciado. ■

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