O Núcleo de Fibromialgia das Caldas da Rainha foi a primeira associação a estabelecer um protocolo com o Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON) no sentido de beneficiar de descontos nos seus tratamentos com as águas termais. Já várias utentes fizeram o tratamento e garantem que as águas lhes permitem momentos de relaxamento e até em prescindirem de alguma da medicação que estão a fazer.
A administração do CHON pretende assim demonstrar a validade do tratamento clínico tradicional pelo tratamento termal e, por essa via, até a “redução de alguns encargos para o Serviço Nacional de Saúde, e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que podem fazer o tratamento conjunto”, explicou Carlos Sá à Gazeta das Caldas.
As portadoras da doença reconhecem as melhorias provocadas pelas águas termais
Cândida Oliveira sofre de fibromialgia há 16 anos e, para aliviar a dor, costuma fazer tratamento no Hospital Termal com as águas medicinais. A doente diz que nota os resultados e tece os maiores elogios às águas caldenses.
Começou os tratamentos a 22 de Novembro e já reduziu a medicação, sobretudo os da tensão arterial. “Os tratamentos são uma alternativa à medicação, mas não a podemos deixar”, conta Cândida Oliveira, acrescentando que esta é uma doença que, embora não seja visível, incapacita muito as pessoas.
A residir nas Caldas há 22 anos, e há uma década fibromiálgica, Maria Fonseca, experimentou pela primeira vez os tratamentos com água termal no início do mês e aguarda pelos resultados. A utente não esconde o cansaço que sente após cada sessão, mas depois ainda tem de ir trabalhar. “Para a próxima vez que fizer banhos pretendo tirar férias, porque ficamos muito cansadas, mas também muito relaxadas”, explica Maria Fonseca.
“Costumo dizer que às 16h00 as pilhas acabaram e tenho mesmo que me deitar”, conta, dando nota do cansaço com que as portadoras desta doença se debatem. Ainda para mais, Maria Fonseca tem um filho com doença mental, que lhe exige muita dedicação.
Natural de Odemira e residente nas Caldas, Antonieta Vicente tem a doença há 15 anos. Recentemente tornou-se sócia do núcleo caldense de fibromialgia e começou a fazer os tratamentos no Hospital Termal. “Senti-me muito bem”, conta à Gazeta das Caldas, acrescentando que pretende repetir.
Marília Nobre, de S. Martinho do Porto, tem fibromialgia há 15 anos e há 5 anos foi diagnosticada a mesma doença à sua filha, de 22 anos. “A situação é muito difícil e eu tenho um factor psicológico a agravar, porque vejo a minha filha a sofrer”, conta a doente que sente conforto nas outras sócias do núcleo, com quem pode partilhar as experiências. “A embalagem por fora está bonita, o problema é por dentro, pois a doença não se nota e as pessoas acabam por desvalorizá-la”, realça a utente que começou recentemente o seu tratamento.
A caldense Isabel Puga tem fibromialgia há 8 anos e há 4 que anda medicada, sobretudo com anti-depressivos. “Agora já fiz 14 tratamentos e sinto-me melhor, embora ainda esteja muito cansada”, conta, adiantando que já tem feito termas em anos anteriores e nota resultados.
A criação núcleo trouxe-lhes vantagens, nomeadamente no custo do tratamento, que rondou os 140 euros. O protocolo estabelecido engloba a realização de 14 dias de tratamento, dos quais dois dias são gratuitos. Permite ainda que as associadas façam banhos duas vezes por ano, na época baixa (entre Fevereiro a Abril) e na época alta (em Junho). Embora os preços praticados nessas alturas sejam diferentes têm sempre o desconto dos dois dias.
Duplicar o número de utentes no Hospital Termal
Durante o tratamento os doentes podem ficar internados no Hospital Termal e fazer as suas refeições no refeitório
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De acordo com Carlos Sá, presidente do Conselho de Administração do CHON, este é um dos exemplos de como as águas termais podem ser aproveitadas para a saúde. O Núcleo de Fibromialgia foi o primeiro a aderir ao projecto, mas o objectivo passa por levar para dentro do Hospital Termal diferentes associações de pessoas com doenças nas áreas da reumatologia ou otorrino, entre outras, para demonstrar a validade do tratamento clínico tradicional pela via termal. “Estamos a testar e a confirmar cientificamente a validade da utilização destes dois tratamentos”, explica Carlos Sá, acrescentando que até agora o que têm tido são resultados empíricos.
O CHON pretende fazer um estudo de acompanhamento das pessoas que utilizam as águas termais, de modo a validar cientificamente os benefícios que o tratamento concomitante das duas terapêuticas traz para os doentes. “Poderá passar por aí uma maior dinamização do Hospital Termal”, disse, especificando que esta estratégia pretende diminuir a sazonalidade dos banhistas e também atrair mais pessoas. “Se pudermos comprovar cientificamente que há benefícios práticos no tratamento dos doentes passa a ser um tratamento médico como todos os outros”, afirma o responsável.
O Hospital Termal já chegou a acolher dez mil pessoas, mas actualmente a média anual ronda as 1800 pessoas, vivendo muito da sazonalidade. O objectivo passa por dobrar este número, ultrapassando os 3 mil utentes por ano, assim como o volume de receitas. “A partir daí o Hospital Termal tenderá a ser auto-sustentável financeiramente, que é aquilo que é importante que aconteça”, realça.
De acordo com Carlos Sá este aumento de utilizadores implicará apenas investimento na área da hotelaria, com a adaptação de alguns quartos/enfermarias para poder acolher as pessoas que pretendam ficar a pernoitar no hospital.
O responsável desmistifica ainda a ideia de que os tratamentos são caros. Cada tratamento tem três ou quatro especialidades diferentes, e cada uma delas custa em média quatro ou cinco euros por banho.
Aposta na vertente do lazer
A procura que o Hospital Termal começa a ter na vertente do lazer, leva-o a querer apostar mais nessa área. “Este ano houve muita gente a procurar-nos pelo lazer e descanso. Tivemos muitos professores e educadores de infância, quase em estado de depressão, e procuravam relaxamento e bem estar”, explicou a coordenadora do balneário, Maria Fortunato.
Esta responsável acrescenta que muitas vezes, os utilizadores não estão à espera dos efeitos muito profundos que a água termal produz, e que são benéficos para a sua saúde.
Para dinamizar mais esta vertente estão previstos alguns projectos. O administrador hospitalar Paco Lamelas teve recentemente uma reunião com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, com o objectivo de obterem por parte dos estudantes de Turismo, novas ideias e posturas para cativar o público.
O responsável considera também que há muito a fazer a nível internacional. “Tendo em conta que temos aqui ao pé Óbidos, que já é conhecido a nível internacional, julgo que podemos aproveitar as sinergias e potenciar o termal”, conclui Paco Lamelas.