Agência de viagens caldense Atlastravel deixa clientes em terra

Metade dos lesados optou por aceitar novas reservas (asseguradas agora por outra agência de viagens), mas os restantes exigiram o seu dinheiro de volta. Foi inclusive apresentada uma queixa à polícia e alguns dos clientes viram os seus planos para as férias irem por água abaixo.
Nancy Penas, proprietária da agência – que está encerrada desde finais de Agosto – assume as culpas e diz que perdeu o controlo dos pagamentos aos operadores turísticos enquanto se encontrava no hospital. Tinha acabado de ser mãe.

O caldense Filipe Esgaio Augusto tinha viagem marcada para Punta Cana no dia 29 de Agosto. Partiria um dia após o seu casamento para a lua-de-mel, mas duas semanas antes foi surpreendido quando tomou conhecimento que a sua viagem estava cancelada desde o dia 9 de Agosto por falta de pagamento da agência Atlastravel Viagens, com a qual – supostamente – tinha marcado tudo.
Foi o operador turístico Soltour que o informou do sucedido, no dia 17 de Agosto, esclarecendo que as passagens de avião tinham sido pagas, mas o mesmo não se verificava com a reserva do hotel. Filipe Augusto soube que a sua lua-de-mel para Punta Cana estava em risco, não através da agência Atlastravel, mas sim porque telefonou para o operador Soltour. “Quando disse o nome da agência, disseram-me logo que já existiam vários casos semelhantes com a Atlastravel”, contou o lesado à Gazeta das Caldas.
O nosso jornal contactou a Soltour para apurar quantas reservas efectuadas pela agência das Caldas haviam sido canceladas, mas a direcção da Soltour respondeu apenas que as informações sobre os seus clientes eram confidenciais.

1800 euros foram devolvidos

No dia 8 de Agosto Filipe Augusto pagou a última de três fracções de 600 euros (num total de 1800 euros), faltando apenas entregar mais 200 euros quando recebesse os bilhetes. A primeira tranche foi paga a 3 de Julho, dia em que Nancy Penas, a proprietária da Atlastravel, lhe apresentou uma simulação do orçamento para Punta Cana.
Só que logo no dia 8 de Agosto, o caldense ficou desconfiado quando se dirigiu à agência do E. Leclerc e assistiu a uma reclamação de outro cliente. Nessa tarde foi-lhe dito por uma funcionária para voltar à loja no dia 11, uma quinta-feira, altura em que Nancy Penas já deveria estar na agência para lhe entregar os bilhetes. Isto porque, no dia 8, Nancy Penas ainda se encontrava no hospital onde tinha dado à luz há três dias.
Contudo, chegado o dia 11 e a Atlastravel tinha as portas fechadas. Filipe decidiu aguardar mais seis dias, ligando várias vezes para a responsável, que nunca lhe atendeu, até que soube pela Soltour  que não havia viagem nenhuma.
“No dia 17, quando estava na esquadra das Caldas a apresentar queixa por burla, recebi uma chamada da Nancy que disse que me ligaria no dia seguinte para ir à agência resolver a situação. Não o fez. Só soube que ela lá estava porque umas funcionárias do café em frente me ligaram. Arranquei logo”, contou Filipe Augusto. Estava assustado, confessa, “afinal já tinha gasto 1800 euros e faltavam apenas duas semanas para o meu casamento”.
Foi então, no dia 18 de Agosto, que Filipe Augusto obteve respostas de Nancy Penas, que lhe propôs efectuar uma nova reserva para Punta Cana, explicando-lhe que a viagem tinha sido cancelada pois a própria tinha perdido o controlo dos pagamentos enquanto estava no hospital. “Não aceitei, quis o meu dinheiro de volta”, disse o lesado, que nesse mesmo dia, duas horas mais tarde, recebeu os 1800 euros.
Dois dias depois Filipe retirou a queixa que apresentara à PSP. O caldense e a esposa acabariam por reservar com outra agência uma viagem para Marrocos.

“FIQUEI SEM FÉRIAS”

Cristiana Silva foi outra das clientes que saiu prejudicada pela Atlastravel. Só que, ao contrário de Filipe Augusto, Cristiana não conseguiu fazer outra reserva (mesmo noutra agência), pois soube apenas dois dias antes da partida para Cabo Verde que a viagem havia sido cancelada. Além disso, a sua disponibilidade para viajar era reduzida.
“Ia com duas amigas e quando nos dirigimos à Atlastravel para pagar o restante montante, a Nancy Penas informou que a TAP tinha cancelado o voo. Não acreditámos”, contou, acrescentando que lhe foi devolvido o valor que pagou de sinal: 630 euros.
Segundo a proprietária Nancy Penas, a todos clientes com reservas canceladas foram apresentadas duas soluções: marcação de uma nova reserva ou devolução do dinheiro. Acontece que as viagens remarcadas custaram à Atlastravel mais dinheiro que o previsto inicialmente, pois foram agendadas com menos antecedência. Segundo a responsável, a agência teve um prejuízo na ordem dos 30 a 40 mil euros, sendo necessário a ajuda dos seus pais, que lhe emprestaram 30 mil euros.
Actualmente, as novas reservas estão a ser asseguradas por outra agência de viagens, a quem Nancy “passou” os seus clientes.
À Gazeta das Caldas, Nancy Penas assumiu a culpa das reservas canceladas, como aliás diz ter feito com todos os clientes.
“Fiquei mais tempo no hospital do que previa, pois o meu filho nasceu de cesariana e sem um rim. Foram várias as complicações que me prenderam no hospital por mais tempo e, embora estivesse sempre com o telemóvel a tentar responder aos e-mails, não consegui assegurar os pagamentos das reservas dentro do prazo”,  justificou. Além disso, Nancy Penas afirmou que solicitou aos operadores turísticos mais uns dias para realizar os pagamentos, mas que os pedidos não foram aceites.
Ficaram prejudicados os clientes que tinham viagens marcadas para finais de Agosto e para o mês de Setembro, assegurou a responsável, que também assumiu que “deveria ter deixado no seu lugar, enquanto estava indisponível, alguém com mais experiência e a quem deveria ter dado mais formação”.
Gazeta das Caldas falou com mais clientes que estiveram na mesma situação que Filipe Augusto e Cristiana Silva e todos garantiram que viram o seu caso resolvido e que, até à data, a Atlastravel tinha funcionado bem.
A agência estava aberta no E. Leclerc há pouco mais de um ano e meio e, de momento, encontra-se encerrada. Pelo menos até Nancy Penas gozar a licença de maternidade. No entanto, a responsável encontra-se contactável e tem-se dirigido pontualmente ao estabelecimento para se reunir com clientes.