ADMIRÁVEIS DESTINOS – Um mundo chamado Marrocos a 1h30m de distância

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Sim, um mundo diferente. Um mundo totalmente diverso a apenas 1h30m de avião! Curiosas roupas e costumes, deliciosas e aromáticas comidas, compras frenéticas num mundo de cores e odores. Sim, um mundo diferente, um mundo chamado MARROCOS.

BOAS VINDAS… INTENSAS

Alt Benhaddou – Património da Unesco

Elegemos Marraquexe como ponto de chegada e como base. De tudo o que ouvimos, lemos e aprendemos, esta cidade é pulsante de vida, de originalidade. Aqui se reúne o exotismo e a autenticidade. Apanhamos a autocarro que nos leva do aeroporto à famosa praça de Djemaa-el-Fna, a enorme praça que ao entardecer se torna palco de um surreal espectáculo. Malabaristas, contadores de contos, encantadores de serpentes, músicos, pintoras de mãos, vendedores, acrobáticos e lunáticos enchem a praça de magia. Misturam-se os frenéticos sons e os aromas que pairam no ar das numerosas barraquinhas de comida e está montado o fantástico cenário. Esta praça foi declarada pela Unesco, em 2001, património mundial, considerada «uma obra mestre do património oral e imaterial da humanidade».
Porém é um bafo intenso e desagradável que nos recebe. Dezenas de dromedários e cavalos puxando carruagens, empestam o ar com os seus odores. No entanto, sorrimos e antecipamos a alegria de experienciar costumes diferentes. O ar enche-se dos cânticos que soam dos vários minaretes, chamando os fiéis à oração numa mística cacofónica. No lusco-fusco juntamo-nos à multidão e embrenhamo-nos pelas ruas labirínticas da Medina (cidade murada), procurando o nosso alojamento.
Pululantes de vida, as ruas são verdadeiros souqs (mercados), apelativos e intermináveis. Logo alguém solícito acorre em nosso “socorro” conduzindo-nos à Riade que tínhamos escolhido. Uma Riade é uma casa tradicional com jardim interior e as suas paredes escondem muitas vezes verdadeiras jóias, inimagináveis do exterior.
Marraquexe está em processo de recuperação de inúmeras destas riades. A cidade foi fundada em 1602 pelo sultão almorávide Yusuf Bin Tachin que a ampliou e embelezou utilizando grande parte da riqueza saqueada durante a conquista almorávide em Espanha. No entanto, a sua época dourada foi debaixo do domínio de seu filho Ali, cuja mãe era uma escrava cristã. Para além dos palácios, mesquitas e banhos, mandou construir uma ampla Khettara (canais subterrâneos de irrigação).

POR CURVAS E CONTRACURVAS

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O dia seguinte, já de carro alugado, conduz-nos através do grande Atlas, 500km mais para sul, na direcção de Zagora. Este gigante montanhoso parece intransponível e a estrada interminável. Entre curvas e contracurvas vamos parando para admirar a paisagem ou as gentes. Desviamo-nos do caminho principal para visitar Ait Benhadou, uma das kasbas (forte ou cidadela) mais exótica e melhor conservada de toda a região do Atlas, também património da Unesco. Rodeada por um palmeiral demonstra a imponência de um castelo e crê-se que foi erguida pelos almorávides no séc. XI para controlar uma rota de caravanas.
Ingressamos nesta cidadela feita de barro que, apesar de existir há séculos, nos parece agora frágil e efémera no seu tom monocromático. No seu interior ainda habitam as gentes locais, pois cidadelas como esta ainda são representativas da vida actual.
Novamente pelas curvas seguimos, admirando as inúmeras pedras que nos “oferecem”. São pedras resultantes de erupções, que escondem no seu interior as mais maravilhosas cores, consoante o mineral que encerram. Chegamos tarde e cansados a M’Hamid, o nosso destino, mas ainda queremos procurar um alojamento que nos permita no dia seguinte ir para o deserto. Sem problemas!

NOITE DE NATAL!

Nesta Noite de Natal somos presenteados com um alojamento simples e maravilhoso, deliciosa comida e a companhia simpática dos tuaregues que ali trabalham e moram. Apesar de não comungarmos as mesmas tradições religiosas, o Natal é lembrado ao som de tambores e de cânticos tradicionais berberes. Emocionamo-nos perante esta manifestação sincera e espontânea de simpatia. Assim é o Natal no deserto!
Amanhece frio, mas com sol. O deserto espera-nos! Ansiosos montamos nos “nossos” dromedários, para uma bamboleante e desconfortável viagem de 3 horas, até ao local onde os jipes nos esperam. Somos conduzidos deserto dentro por mais 60 Km até Erg (dunas) Chigaga, com uma paragem no oásis de Iriki. Este idílico oásis representa a verdadeira acepção da palavra: uma nascente de água alimenta um pequeno palmeiral que providencia sombra, alimento e água. Um verdadeiro refúgio no implacável deserto. E finalmente as dunas…

RENDIDOS AO DESERTO

O sol pinta a paisagem de intenso laranja. Estamos rodeados por uma paisagem árida, seca. As ondulantes dunas, redesenhadas a todo o instante pelo vento soprante, fazem lembrar as vagas do mar, majestosas e poderosas. Movemo-nos sobre elas, sentimo-las, a solidão da paisagem, a dureza da caminhada. Caminhamos em direcção ao pôr-do-sol. Temos como objectivo a duna mais alta das redondezas, o topo atrai-nos como um íman e outros viandantes se juntam a nós.
Caminhada dura, estimulante: como prémio um magnífico e inolvidável pôr-do-sol! Jogos de luz desenrolam-se perante o nosso olhar, cores e sombras, brincando nas dunas ondulantes. Partilhamos um mesmo sentimento de encantamento perante este espectáculo efémero e irrepetível… amanhã será diferente!
Regressamos ao acampamento onde nos espera um chá quente e bolachinhas, reconfortante na amplitude térmica. Debaixo de um céu profusamente estrelado, com fogueira e cantares prepara-se mais um jantar delicioso de Tajine (estufado) de galinha. Estamos rendidos ao deserto…
Das dunas de M’Hamid vamos à procura das dunas de Merzouga. A cada “passo” paramos nos interessantes lugarejos de barro, imitações de ruínas, que abrigam esta surpreendentemente simpática população. Tamegroute merece uma paragem mais pormenorizada e visitamos a sua Medina. Logo acompanhados, por um guia não solicitado, visitamos os famosos fornos das telhas verdes, ainda utilizando as mais rústicas e antigas formas de fabrico. Contudo, o produto final das suas cerâmicas é muito belo e compreendemos a sua fama.
Repete-se o mesmo cenário e, já noite caída, procuramos alojamento. Sem preocupações… e logo acompanhados! Somos conduzidos a vários alojamentos, permitindo uma escolha mais ponderada, numa relação imprescindível de qualidade-preço.
Uma magnífica Kasba é a nossa eleita: lindíssima, cheia de personalidade. Os seus inúmeros pátios interiores abrigam quartos amplos, limpos e bem adornados. As flores perfumam o ar e a água cantante preenche o silêncio do deserto, literalmente ali ao lado! As dunas circundantes de Erg Chebbi são ainda mais fascinantes. Uma areia fina e vermelha torna a paisagem cor de fogo altamente contrastante com o palmeiral de Hassi Labied, a localidade que mora à beira das dunas.
Segundo uma lenda local, Erg Chebbi formou-se quando Deus castigou uma família rica da zona, enterrando-a debaixo da areia, por não oferecer hospitalidade a uma mulher pobre e seu filho. É o único erg saariano autêntico de Marrocos.
Trata-se de uma impressionante cadeia de dunas de areia que podem alcançar os 160 metros de altura e parece ter-se separado de outra duna muito maior que há do outro lado, perto da fronteira com a Argélia. A paisagem é mágica e as dunas mudam de cor consoante a hora do dia, tornando-se fascinantes. Apreciamos condignamente o ambiente circundante, apodera-se de nós um sentimento de plenitude, onde o “Belo” impera, agora incondicionalmente rendidos!

PROFUNDAS E FRIAS GARGANTAS

A inóspita paisagem do deserto é agora substituída pela perturbante e avassaladora paisagem das gargantas de Todra e de Dadés. Em Todra a separação das placas tectónicas formam uma profunda fenda vertical que divide o grande Atlas das montanhas Sarho. No seu profundo seio emerge um rio de águas cristalinas que alimenta no seu percurso várias aldeias. O tom monocromático terracota das rochas e das casas, contrasta com a explosão de verde dos campos cultivados. O seu ponto mais estreito tem apenas 300m de largura.
Não menos impressionante, e talvez ainda mais mística, é a garganta de Dadés. A estrada serpenteante conduz-nos por fabulosas formações rochosas, pontilhadas por impressionantes e desabitadas Kasbas e Ksours (fortalezas). O sol reflecte nas paredes rochosas conferindo-lhe um tom enganadoramente quente. A luz esconde-se veloz nas profundezas da garganta, dando lugar a um frio penetrante que nos leva a procurar alojamento com celeridade.
Habituamo-nos rapidamente, por estas paragens, que a dormida venha com bónus de comida, de boa comida. Os tajines (estufados) são variados em Marrocos (dispensamos o famoso e insípido Couscous), e assim saboreamos mais uma típica refeição acompanhada por pão deliciosamente quentinho.
Aqui, no coração do desértico Atlas, visitamos ainda as inimagináveis cascatas de Ouzoud. Ouzoud significa azeitonas em berbere (e se em Marrocos elas são boas!…) e este nome refere-se ao cultivo de oliveiras na zona. As cascatas precipitam-se 110m em três níveis, penetrando no desfiladeiro de Oud-el-Abid. Desenvolve-se aqui um ecossistema muito próprio e frágil, habitado por divertidos macacos da Berbéria.
Parece incrível esta manifestação de vida da Natureza na estéril paisagem circundante. A montanha vence-nos, cansa-nos enfrentar este interminável sobe e desce de curvas e contracurvas por este Atlas imenso, ansiamos por planícies…

POR TERRAS OUTRORA PORTUGUESAS

Dirigimo-nos à costa, respiramos o Atlântico em terras anteriormente portuguesas. Em El Jadida encontramos uma relíquia bem conservada de intrincadas ruelas e maciças muralhas do séc. XVI. Os portugueses de outrora deixaram aqui a sua indelével marca, nas portentosas muralhas, na magnífica cisterna, nas simples placas das ruas.
Conhecida como Mazagan, foi o primeiro porto português, construído juntamente com outras fortalezas costeiras para proteger as suas, cada vez mais numerosas, caravelas que viajavam até à Índia e China. Deambulamos pelas simpáticas ruas, orgulhosos de um passado muito longínquo. Compramos o típico pão achatado acabado de sair do forno comunitário… também construído pelos portugueses! Respiramos calma e tranquilidade na cisterna portuguesa.
Uma incrível abóbada, iluminada por um único raio de luz que penetra insinuante na magnífica construção. A fina película de água que cobre o solo reflecte o tecto e as elegantes colunas, testemunhas de um engenho perdido. A cisterna subterrânea é um local de serenidade, soberba arquitectura, que representava a gloriosa e fundamental tarefa de recolher a água da chuva.
Desilude-nos a vizinha Casablanca imortalizada pelo filme do mesmo nome. De ruas caóticas e sujas, uma Medina desorganizada (ainda mais!) e pouco atractiva, ressalva-se a Mesquita de Hassan II, a terceira maior mesquita do mundo.
A mesquita, criação do rei Hassan II para comemorar o seu 60º aniversário, eleva-se sobre o mar num afloramento rochoso. À noite um raio laser saído do seu alto minarete de 210 metros de altura aponta a Meca. As suas decorações são riquíssimas e apresenta ainda um tecto retráctil e aquecimento do chão. Este edifício enorme e moderno, de construção polémica, pode albergar 25.000 fiéis no seu interior e outros 80.000 nos pátios em seu redor.

MEMORÁVEL PASSAGEM DE ANO… OU NÃO!

O tempo impõe-se e está na hora de regressar a Marraquexe, para uma passagem de ano que antecipamos memorável, na vibrante praça Djemaa-el-Fna. Para o último dia do ano não corremos riscos e reservamos antecipadamente o nosso hotel, afinal é noite de ano novo!
Ironia das ironias e caso inédito, a nossa reserva não é aceite e vimo-nos assim, na última noite do ano, a percorrer as ruas em busca de um alojamento condigno… e acessível. O “passeio” torna-se, no entanto, interessante pois ainda não tínhamos visto esta parte da cidade e… sucesso!
Agasalhados saímos do hotel, cruzamo-nos com um sem número de pessoas que se movimentam de lá para cá e de cá para lá… Aguardarão o Ano Novo?
A praça, contudo, encontra-se deserta, inabitada dos seus seres bizarros. Estranho cenário este para uma noite de passagem de ano de arromba… Defraudados, a par de outros turistas desanimados, percorremos a agora calma praça, também nós de cá para lá e de lá para cá!
Sabemos que as tradições não são as mesmas… mas nem um foguetezinho para os simpáticos turistas!? Conformados, subimos ao terraço de um café para um rico sumo de laranja (em Marrocos não são vendidas bebidas alcoólicas) e consolamo-nos com a contagem decrescente feita por um outro turista, logo alegremente acompanhado pelos demais. No horizonte apenas se destaca o silencioso e imponente minarete da venerada mesquita Koutobia!
Sim, um mundo diferente. Um mundo de cores e odores, surpreendentemente fascinante, acessível. Uma população simpática, comunicativa… insistente! Um destino tão próximo e tão díspar, um ADMIRÁVEL DESTINO!

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