Na intempérie do fim-de-semana, a linha do Oeste esteve encerrada durante dois dias sem que a CP assegurasse qualquer transporte alternativo aos seus clientes. Na passada terça-feira, na sequência de um choque de comboios em Alfarelos que interrompeu a linha do Norte naquela estação, a CP não vislumbrou na linha do Oeste uma alternativa para desviar o tráfego ferroviário para Lisboa por esta via.
Linha do Norte. Linha da Beira Baixa. Linha da Beira Alta. Linha do Vouga. Linha do Oeste. Estas as linhas que ficaram interrompidas devido ao mau tempo no fim-de-semana passada. O leitor adivinha qual foi a última a ficar operacional?
A linha do Oeste, claro. Entre Caldas da Rainha e Amieira (Figueira da Foz), houve pelo menos dez árvores caídas que obstruíram a via férrea. A Refer desimpediu a linha 48 horas depois, já depois de resolvidos os problemas nas outras linhas do país.
Mas durante o fim-de-semana a CP não se dignou encontrar transporte alternativo para substituir os comboios suprimidos. Para a CP, pelos vistos, a linha do Oeste já está semi-fechada e não vale a pena o esforço de tentar satisfazer os seus poucos clientes que ainda arriscam nela apanhar o comboio.
No entanto, na linha do Norte e na Beira Alta a CP activou transbordos rodoviários entre troços que tinham ficado temporariamente interrompidos pelo mau tempo.
Gazeta das Caldas perguntou à CP porque motivo não teve idêntico procedimento na linha do Oeste, mas não obteve resposta.
AS RAZÕES QUE A RAZÃO DESCONHECE
Na passada segunda-feira, um aparatoso acidente entre dois comboios em Alfarelos (do qual felizmente não resultaram vítimas mortais) interrompeu a linha do Norte durante o dia de terça-feira e provavelmente durante parte de quarta-feira (à hora do fecho desta edição não se sabia quando voltariam a circular comboios no local do acidente).
Numa tradição que tem mais de um século, a linha do Oeste costumava ser alternativa à linha do Norte quando esta ficava encerrada devido a alguma ocorrência (normalmente acidentes ou inundações). Mas nos tempos que correm a CP parece nem considerar esta hipótese e rapidamente optou por suprimir dez dos 30 comboios de longo curso que tinha previstos entre Lisboa e o Porto na passada terça-feira. Aos restantes 20 assegurou-lhes transbordo rodoviário entre Pombal e Coimbra.
Gazeta das Caldas perguntou à CP porque motivo a ligação entre o Porto e Lisboa não foi feita pela linha do Oeste. A lacónica resposta da empresa limitou-se a duas palavras: “razões técnicas”.
Já a Refer, em resposta oficial, disse que “dentro das limitações de exploração da Linha do Oeste nada obsta a que esta possa ser vista como uma alternativa à Linha do Norte”.
Por isso, o nosso jornal insistiu junto da CP, pedindo uma explicação sobre as razões técnicas invocadas, tendo em conta que a resposta anterior nada esclarecia. Mas a porta-voz da empresa disse que “a resposta mais curta do que o habitual se deve à atenção que estamos a dar às pessoas e à mobilização de meios para minorar os transtornos das populações, na sequência do acidente de ontem”.
No seu departamento de Comunicação, a CP conta com nove pessoas, sendo que algumas se encontram na “prateleira” por terem sido nomeadas por administrações de cores políticas diferentes.
Nelson Oliveira na Assembleia da República
O caldense Nelson Oliveira, especialista em transportes ferroviários, esteve na passada terça-feira na Assembleia da República para ser ouvido pela Comissão de Economia e Obras Públicas, no âmbito do seu estudo sobre a linha do Oeste.
O grupo de trabalho foi coordenado pelo deputado Nuno Matias (PSD) e nele participaram os deputados Rui Figueiredo (PS), Helder Amaral (CDS/PP) e Bruno Dias (PCP).
Os deputados felicitaram o autor pelo trabalho efectuado, que consideraram ser um documento técnico de grande relevância para reavaliar o que no PET (Plano Estratégico de Transportes) está definido sobre a linha do Oeste. Ficou, aliás, implícito que este estudo foi decisivo para que a preconizada medida de supressão dos comboios de passageiros a norte das Caldas da Rainha não tenha ainda sido concretizada.































