Adeus Ferreira da Silva

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FerreiraSilvaPrimeiraPartiu sem dizer adeus, mas ficamos sempre à espera que volte. Contudo, mestre Ferreira da Silva deixa memórias suas impregnadas nas paredes, nos objectos, nos espaços públicos, nas casas, ou seja, um pouco por todo o lado.
Será difícil deambular na cidade das Caldas da Rainha não se recordando do traço, da marca, da cor, do vinco que Ferreira da Silva nos deixou, na terra, na pedra, no metal, no vidro, no papel, em todos os materiais em que é possível criar arte e comunicação.
Tivemos o privilégio de conhecer e contactar quase em permanência com mestre Ferreira da Silva ao longo das várias décadas da nossa vida, mas hoje, quando ainda vão passadas poucas horas do seu apagamento, não queremos partilhar com os leitores esses momentos e essas experiências.
É necessário dar algum tempo. Sabemos quanto foram difíceis para ele os últimos anos, quando a saúde já faltava e as forças não eram muitas, querendo o mestre sempre fazer, fazer mais. Já na cama do hospital e ainda há poucos dias nos dizia com voz sumida e trémula: “Mas o que vou eu fazer amanhã? Tenho que trabalhar no projecto! E como?”
Era esse o seu suplício, entre outras penas que guardava, dos seus contemporâneos, que muitas vezes não o acolhiam como ele gostaria.
Ferreira da Silva era um tipo difícil, com um feitio arrevesado, mas com uma generosidade muito grande. Podia ter sido reconhecidamente um dos maiores da cerâmica portuguesa do século XX e não o foi porque nunca quis abandonar a terra que o cativou há mais de 70 anos, pela sua luz, como não se cansava de dizer.
Pensamos que ainda vai ser reconhecido no futuro como um grande inovador e criativo nesse estranho material que é a terra queimada num forno, como se fosse um grande pitéu que podia deliciar multidões de conhecedores.
Por várias vezes colaborou com a Gazeta das Caldas, associando-se especialmente à passagem dos seus 75º e 90º aniversários, este último que ainda comemoramos. Mestre Ferreira da Silva disse sempre presente. Mas, em qualquer situação, Gazeta das Caldas deve e deverá em tempos próximos, dedicar-lhe um espaço, em que os da casa e muitos dos seus amigos lhe possam prestar o justo tributo.
Dificilmente será esquecido porque as marcas que cá deixou são indeléveis, independentemente de muitos não lhe terem dado no tempo da sua vida, o valor que ele merecia.
Viva o Ferreira da Silva! Viva!  JLAS

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