Acabaram os “Cavaquinhos das Caldas”

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2-capaCDCavaquinhosOs Cavaquinhos das Caldas encerraram a sua actividade musical, ao fim de 22 anos. Problemas de saúde que atingiram vários dos seus elementos, e a falta de espectáculos remunerados para fazer face às despesas, ditaram o final de um grupo que já teve meia centena de elementos e que agora contava com cerca de uma dúzia.

Foi sob a coordenação do músico João Arroja, que era então um dos quatro directores dos Pimpões que nasceu o Grupo dos Cavaquinhos em 1993 naquela colectividade. “Éramos um grupo de amigos que se juntava, pois era a música que nos unia”, contou Lurdes Santana, elemento do grupo que, desde a primeira hora, além de cantar, sempre teve em mãos as questões questões de logística do grupo. Quando eram só três cavaquinhos e uma guitarra portuguesa, tiveram a primeira actuação na Festa de Natal da colectividade que os acolhia, os Pimpões. Além dos instrumentos de cordas (cavaquinho, guitarra, viola, baixo, bandolim e banjo), foram-se juntando ao grupo tocadores de flauta, bombo, ferrinhos, pandeireta e acordeões. Ao todo, ainda na colectividade, chegaram a ser 50 elementos. Gente de todas as profissões com gosto pela música integrava esta formação de adultos enquanto também noutro grupo se ensinavam os mais novos.
“Tínhamos repertório para duas horas”, contou Lurdes Santana à Gazeta das Caldas, recordando com pormenor como foi a participação do grupo caldense na 38ª Eurpeade que teve lugar em Zamora (Espanha), em 2001. “Éramos conhecidos como el grupo de las guitarras pequeñas [cavaquinhos]”, recordou a responsável, contando ainda que levaram vários materiais de divulgação turística, sobretudo do concelho vizinho porque das Caldas “não havia quase nada de informativo para levarmos”.
No ano seguinte, a 39ª Europeade teve lugar em Antuérpia (Bélgica) e “nós angariámos os fundos necessários para podermos actuar naquele festival dedicado à música popular europeia”, disse a responsável. Faziam noites de fados, rifas e conseguiram alguns patrocínios entre os empresários locais que lhes permitiu viajar e participar naquele evento.
Até ao ano 2000 tudo decorria com normalidade até que os Pimpões entraram em obras e “nós não tínhamos espaço para ensaiar”. O grupo sentiu-se “pouco acarinhado” pela colectividade que os acolhia, apesar de a terem representado, assim como à cidade um pouco por todo o país, tendo inclusivamente actuado em vários programas televisivos.
Saíram dos Pimpões em Outubro de 2003 e passaram a designar-se Grupo de Cavaquinhos das Caldas da Rainha, tendo-se constituído como associação. Passado um ano, já tinham adquirido o seu próprio equipamento de som e, dois anos depois compraram uma carrinha, com o apoio da Câmara, para se deslocarem aos espectáculos.
Segundo a vocalista do grupo, viveram-se os anos áureos do grupo entre 2005 e 2008 com muitas centenas de actuações um pouco por todo o lado, interpretando canções do cancioneiro português (incluindo das ilhas) e alguns temas da revista à portuguesa. Os Cavaquinhos das Caldas chegaram a gravar dois álbuns.
Em 2011 a crise bateu à porta do grupo. Além de lhes ser pedido muito menos actuações – na maioria das vezes pediam ao grupo para actuar gratuitamente. Juntaram-se os problemas de saúde, até porque a média de idades ultrapassa os 60 anos e há vários com mais de 70.
“Não há condições para continuar com o grupo…”, disse Lurdes Santana explicando que, entretanto, o dinheiro amealhado durante os anos áureos está a acabar. Já venderam a carrinha que os levava às actuações, mas ainda há o aluguer de espaço de ensaios que exige pagamento mensal.
A última actuação do grupo na cidade decorreu a pedido da ACCCRO, na época natalícia, a 12 de Dezembro.
“Temos vindo a adiar o fim do grupo. Actuamos uma ou duas vezes por ano, mas sem espectáculos as pessoas perdem o incentivo e deixam de aparecer nos ensaios”, explicou a responsável.
Lurdes Santana agradece ao público que sempre acompanhou o grupo e, à medida que desce o pano sobre os Cavaquinhos, estes saem com o sentimento do dever cumprido por, ao longo de 22 anos, terem levado a música portuguesa a todo o território luso e ainda a alguns países estrangeiros.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

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