Depois do simbólico protesto em frente à sede do CDS-PP, em Lisboa, a associação Animal rumou no passado sábado, 24 de Julho, até às Caldas para contestar a corrida de touros promovida pelo CDS-PP e mostrar ao partido que “a população e os votantes estão a ver esta vergonhosa tourada do CDS”. Mas a manifestação começou bem antes da reunião dos activistas da Animal, pois ainda durante a manhã, o deputado do Bloco e Esquerda, Heitor de Sousa, distribuiu comunicados aos caldenses, a darem conta do seu apoio à acção. O CDS-PP ficou “surpreendido” com a atitude do BE, e acusa-o de “aproveitamento político”.
Foi em frente à Praça de Touros, por volta das 20h00 (mais de uma hora antes da corrida começar) que a meia centena de activistas da Animal, em silêncio, vestidos de preto, com as mãos pintadas de vermelho (a simbolizar sangue), e com vários cartazes em que apelavam à “Abolição das touradas” e o “Não à cultura sangrenta”. Menos silenciosos foram os comentários dos aficionados que se encontravam no café em frente à Praça de Touros. “É só sangue, é só sangue”, gritavam, com ironia, os populares, enquanto os activistas banhavam com tinta vermelha, a faixa negra com a palavra “vergonha”. Enquanto isso, um grupo de polícias protegia os pacíficos manifestantes de um eventual acto mais agressivo, que nunca se verificou.
Os activistas da Animal não responderam a provocações nem se moveram. Tinham uma missão: demonstrar que “o CDS-PP sujou as suas mãos com sangue”, e que “na altura de votar não esqueceremos o apoio de um partido político a um espectáculo tão polémico e degradante como este”.
“Não se trata de apenas um apoio [à tourada], mas sim de ser o próprio partido a organizá-la. Isso é especial chocante quando sabemos que nos últimos anos, é a primeira vez que acontece esta situação”, afirmou a presidente da Animal, Rita Silva. “O presidente do CDS-PP é aficionado e faz questão que isso seja público. É grave e triste, pois não pode de maneira nenhuma transparecer que é um gosto do partido”, acrescentou a activista, dando a conhecer ainda que os aficionados mataram um porco durante, para antecipar os festejos, ou seja, “um culminar de grande miséria”.
Embora a presidente da Animal frise que a associação é uma “organização apartidária”, a acção de protesto não deixou de ter o apoio de militantes do BE que durante a manhã estiveram na confluência da Praça da Fruta com a Rua das Montras (onde até foram colados folhetos no edifício da junta de freguesia de N. S. do Pópulo) para “dar conta à opinião pública do seu protesto contra a realização da tourada do CDS”. Rita Silva saudou que “haja alguns partidos políticos que queiram também manifestar-se”, mas não deixou de observar de que “é importante que esse apoio não seja apenas por questões políticas”. “Espero que o Bloco de Esquerda tome e continue a tomar medidas sobre a protecção dos animais, mas não seja unicamente por ser contra um partido organizador contrário”, disse.
Já o ex-secretário-geral do CDS-PP, João Almeida, (que deixou o cargo para ser presidente do Belenenses) afirmou, antes da tourada, que ficou “surpreendido” pela tomada de posição do Bloco de Esquerda em relação à manifestação, visto que a única autarquia bloquista do país (Salvaterra de Magos) promove touradas e rodeos. “Movimentos a apoiarem esta acção tudo bem, mas agora o Bloco de Esquerda envolvido no protesto é no mínimo incoerente e hipócrita, pois não se manifesta contra a prática da sua Câmara”, acusou o deputado centrista, reafirmando o “aproveitamento político” dos bloquistas nesta acção.
No decorrer do protesto, foram várias as vezes que se ouviram a carrinha dos anúncios do Circo Chen, que se encontra na cidade. Os animais no circo são outra matéria que a associação contesta. “A Animal é uma organização que defende os direitos dos animais, portanto seja circo ou tourada, ou outra qualquer actividade que se explorem animais, nós estamos contra”, disse Rita Silva. No entanto, “temos que escolher os alvos e as estratégias de trabalho, e para isso, felizmente, há um grupo local que faz manifestos contra os circos, o que a nós como organização nacional, deixa-nos um pouco mais descansados sabendo que existem núcleos de pessoas a fazer este trabalho noutras localidades. Queremos dar ferramentas às pessoas para elas próprias tomarem acções”, advogou.
Por agora, a Animal vai continuar a manifestar-se em todas as grandes Praças de Touros, mas também, segundo adiantou Rita Silva, “estamos a preparar uma iniciativa para apresentar no início da próxima legislatura” sobre a abolição das corridas de touros em Portugal, onde, pelo menos, já contam com o “total apoio” do deputado centrista João Rebelo.
Até Setembro (início da próxima legislatura), “seja com uma pessoa ou com mil iremos continuar a marcar presença, porque não podem pensar que são impunes a esta desgraça. Estamos do lado da razão e a História vai provar isso, assim como já provou com outros movimentos sociais”, rematou a presidente da Animal.
Tânia Marques































