A semana do Zé Povinho – 23/10/2015

0
732

LoboPEstacionamento copyO actor José Ramalho deu vida a Rafael Bordalo Pinheiro – criador de Zé Povinho – na inauguração da rota bordaliana que teve lugar no chuvoso sábado de 17 de Outubro.
O mínimo que se pode dizer é que este artista encarnou na perfeição a figura do grande mestre ceramista, cartonista, jornalista e ilustrador. Fustigado pelo vento e pela chuva, José Ramalho, perdão, Bordalo Pinheiro, percorreu a cidade à frente de um pelotão de quase 200 pessoas, apresentando as suas peças com um discurso humorístico e mordaz. Para mais, de improviso, ao sabor de uma organização meio descontrolada, comandada pelos intervalos dos aguaceiros que varriam a cidade.
O artista está, por isso de parabéns.
Mas Zé Povinho engloba nesta homenagem, além de José Ramalho e dos seus acompanhantes Zé Povinho e Saloia das Caldas, também o próprio Rafael Bordalo Pinheiro, cuja memória e obra as Caldas da Rainha tem sabido, finalmente, resgatar e promover.
Et pour cause de, homenageia também a Câmara e a própria cidade, o grupo Visabeira e a Jéssica Gonçalves (aluna da ETEO que foi a mentora deste projecto através de um trabalho escolar), por este roteiro de peças cerâmicas que em boa hora foi inaugurado nas Caldas. Só foi pena que não tivesse havido uma maior articulação deste projecto com as fachadas azulejares caldenses, que deveriam ter integrado esta rota. Rota essa, aliás mais alargada, que chegou a estar prevista.
Contudo, o saldo é amplamente positivo, pelo que José Ramalho, que foi o mestre Bordalo durante um dia, está, em representação de todos, de parabéns!

No momento eAngola: Cerimónia de tomada de posse de José Eduardo dos Santos como Presidente da Repúblicam que este jornal sair à rua não se sabe se o luso-angolano, Luaty Beirão, pertencerá ainda ao mundo dos vivos, uma vez que cumpria já na passada terça-feira 30 dias de greve da fome.
O activista é um dos 15 detidos pelas autoridades angolanas, acusados de terem conspirado para fazer um golpe de Estado. Isto porque na sua posse tinha livros considerados subversivos.
Tudo isto se passa num país – Angola – onde os direitos humanos há muito que continuam espezinhados, apesar de constitucionalmente o regime se considerar como democrático.
Angola é tido por organizações internacionais como um dos países onde os mais pobres se encontram entre os mais pobres do mundo, a taxa de mortalidade infantil é a segunda pior do mundo. Uma em cada seis crianças morre antes de completar cinco anos.
O mesmo país onde uma oligarquia vive faustosamente à custa dos rendimentos do petróleo e dos diamantes, recursos em que o país – aqui sim – é muito rico.
José Eduardo dos Santos, um autêntico Luís XIV a quem só falta dizer que “o Estado sou eu”, é o Presidente desta triste república. A sua filha (será coincidência?) é a mulher mais rica de África com uma fortuna estimada em 2,6 mil milhões de euros.
A cleptocracia que governa este país está a deixar morrer um dos seus cidadãos, em greve de fome, indiferente aos apelos internacionais.
Diga-se, de passagem, que na sua habitual subserviência para com os interesses angolanos em Portugal e portugueses em Angola, o governo da também triste República Portuguesa pouco tem feito para ajudar Luaty Beirão, que, como português (tem dupla nacionalidade), deveria merecer mais protecção. E, já agora, que também é criticável a atitude do PCP pelo seu apoio aos seus camaradas do MPLA, apesar de ninguém daquela gente de negócios angolana ter qualquer ponta de ideologia marxista.
Mas no topo da pirâmide desta história pouco digna, Zé Povinho não tem dúvidas em apontar o dedo ao sempre eterno Presidente José Eduardo dos Santos. É típico dos ditadores perpetuarem-se no poder e perderem a noção da realidade.

- publicidade -