A história da Secundária Rafael Bordalo Pinheiro é querida a Zé Povinho, que se acha irmão da escola que também teve origem naquele que hoje lhe dá o nome.
Criada há 140 anos, está no edifício actual há meio século, fazendo jus ao seu patrono e tendo visto passar pelas suas salas nomes tão famosos nas artes como do próprio Bordalo, mas também de Von Bonhorst, Eduardo Gonçalves Neves, Cunha Ferraz, Francisco Elias, José Fuller, Eduardo Mafra Elias, João Fragoso, António Duarte, Alexandre Angélico, Vasco da Conceição, António Vitorino, Manuel Rainho, Martins Correia, Santa Bárbara, Armando Correia, Herculano Elias, Eduardo Constantino, etc.
Nas artes, nas tecnologias, nas ciências e nas áreas empresariais passaram por aquela escola milhares de jovens cheios de ilusões, mas também com muita força de progredirem e de se afirmarem nas suas profissões.
Aquele estabelecimento escolar tem pedigree, uma vez que em 1884 foi uma das oito escolas de desenho que foram criadas no país, inspiradas nos modelos dos países europeus mais desenvolvidos: três em Lisboa, três no Porto, uma em Coimbra e outra nas Caldas da Rainha.
No final do século XIX Caldas da Rainha era uma localidade que contava e tinha a sua retribuição, tendo a escola sido o testemunho mais forte dessa importância num país que era muito mais amorfo.
Por isso, Zé Povinho regozija-se com este meio século do modelar edifício da escola caldense, que só foi renovado no início desta década, e só exige que a cidade das Caldas da Rainha saiba hoje exigir a mesma valorização que os seus antepassados o conseguiram no último século e meio.
A história da obra do empedrado na Praça da República, naquilo que muitos consideram um dos ex-libris das Caldas da Rainha, tem tanto de anedótico como de caricato e pode ser mesmo um dos símbolos do planeamento das obras de regeneração urbana com 10 milhões de euros de dinheiros comunitários.
Os caldenses mais atentos que acompanham o desenrolar daqueles trabalhos começaram por admirar-se do tempo exagerado inicialmente consumido na colocação das condutas e outros meios de abastecimento de energia, água, gás, bem como de recolha de esgotos, etc. Foram longos meses em que se abriam e fechavam valas, colocando e acrescentado tubos, sem se saber bem se havia um plano delineado antes e se se utilizavam os modernos meios de fazer aqueles trabalhos.
Mas o pior estava para acontecer. E aconteceu com a colocação do empedrado que, para manter a traça de origem, viu substituírem-se equipas e ritmos de obra, uma vezes lentos outras vezes mais acelerados.
Nas últimas semanas parecia que havia ritmo e que, apesar de não se cumprirem os prazos várias vezes adiados, o final estava à vista, apesar dos pormenores terem ficado descuidados, como os bancos, os chafarizes e a recolocação dos próprios candeeiros.
Só que na última semana, ao que parece, alguém descobriu que a simetria do desenho original da Praça não estava a ser respeitada, para além de muitas imperfeições nos trabalhos iniciais. E aí “ó da guarda!”, é necessário desfazer e voltar a fazer, adiando uma vez mais a conclusão da obra que já tinha data de inauguração e tudo.
Zé Povinho, com uma paciência de Job apesar de uma certa dose de ironia, pensa que muito do que se passou foi grave e teve consequências pesadas para os vendedores da Praça e para os logistas em seu redor, que perderam bastante dinheiro com toda esta história.
Mas para ser salomónico na sua pena, Zé Povinho não pode esquecer a forma atabalhoada e apressada como o plano de regeneração urbana foi concebido e preparado pelo vereador Dr. Hugo de Oliveira, e depois assumido pelo eleito Dr. Tinta Ferreira, que aceitou acriticamente sem protesto tudo o que estava concebido e levado a cabo (apesar das imensas alterações que as obras têm sofrido sem nexo ao longo dos meses).
Mas no final Zé Povinho não pode esquecer que este foi sempre o método de planeamento do Dr. Fernando Costa, o anterior presidente da Câmara durante 28 anos, assente no acidental e sempre corrigido em cima do joelho, respondendo a pedidos do povo e usando a régua e mestre escola para corrigir os acidentes de percurso.
Hoje o Dr. Fernando Costa não está nas Caldas e até se vangloria em Loures por aquilo que nunca foi capaz de fazer nas Caldas. Mas é a sua sombra que assombra os seus discípulos e herdeiros – Tinta Ferreira e Hugo de Oliveira – que para mal das suas penas sentem na iminência uma ameaça permanente do seu regresso. Por isso Zé Povinho coloca-os aos três na mesma fotografia.






























