Na primeira vez que as comemorações do Dia do Exército se realizam fora de uma capital de distrito, Caldas da Rainha foi a feliz cidade contemplada para tão nobre evento. Essa escolha coube, sem margem para dúvidas, ao Chefe do Estado Maior do Exército, general Pina Monteiro, perante o qual Zé Povinho se coloca desde já em posição de sentido, prestando, na sua pessoa, homenagem aos militares do Exército Português.
O principal responsável por este ramo das Forças Armadas não esconde que as contenções orçamentais ajudaram a ditar a escolha das Caldas da Rainha, devido à sua boa acessibilidade, à existência da ESE para apoio administrativo e logístico e aos bons ofícios da autarquia local que acarinhou o evento.
Mas este general não teve pejo em relembrar a importância de um evento que foi decisivo para o 25 de Abril – a tentativa de golpe de 16 de Março de 1974, realizada a partir do quartel das Caldas, que colocou na altura a cidade nas páginas dos jornais do mundo inteiro e que, em Portugal, fez tremer o anterior regime de Marcelo Caetano.
Zé Povinho expressa, por isso, o seu apreço ao senhor general Pina Monteiro, a quem as Caldas da Rainha podem agradecer um fim-de-semana movimentado (calcula-se em 1400 o número de militares presentes mais as respectivas famílias), que teve certamente bons reflexos na economia local e constituiu igualmente um meio de colocar a cidade no centro dos acontecimentos nacionais.
O ministro da Defesa, Aguiar Branco, referiu no seu discurso do Dia do Exército que os “comentadores de fato cinzento e gravata azul”, ao colocarem em causa as Forças Armadas, representam um perigo para o país, maior do que qualquer outra ameaça externa.
Uma forma subtil de tentar aliar-se aos militares que nos últimos tempos – tal como a maioria dos portugueses – têm contestado as políticas de austeridade que também a eles afecta. Ao arranjar um inimigo comum – os “comentadores de fato cinzento e gravata azul” – o Dr. Aguiar Branco julgava obter assim a simpatia da tropa, que lá se vai arrastando como pode com cada vez menos meios.
Mas acontece que o senhor ministro não resistiu a criticar também as associações militares, que, segundo disse, se movimentam nos salões dos hotéis em reuniões para discutir política.
Zé Povinho acha que o discurso deste governante é demagógico e revela pouco sentido de Estado. Mais polido foi seguramente o do Chefe do Estado Maior do Exército que, de forma mais elegante soube fazer passar a mensagem de que o Exército está a atingir limites mínimos que põem em causa a sua operacionalidade e que precisa de mais equipamento.
Acresce ainda que, tal como tem acontecido com outros membros do Governo, o ministro da Defesa, não escapou também a alguns apupos e assobios do público, que não disfarçou a sua revolta contra o empobrecimento de que os portugueses estão a ser alvo.
Zé Povinho acha que só o aparato de centenas de homens fardados e o decoro perante altas patentes presentes na avenida 1º de Maio, impediu que a vaia fosse ainda maior, para maior incomodidade do senhor ministro.






























