Maria da Conceição Pereira revela que a instituição pretende avançar, até ao final do ano, com investimento de meio milhão de euros numa nova cozinha
A provedora da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha aborda, em entrevista, o processo de reestruturação interna que encetou no último ano e meio. Em entrevista, Maria da Conceição Pereira revela alguns dos projetos para os próximos anos e destaca a “recuperação financeira” da instituição.
Tornou-se na primeira mulher a liderar a Misericórdia e sucede a um provedor, Lalanda Ribeiro, que esteve muitos anos no cargo. Por que decidiu avançar?
Apesar de integrar os órgãos sociais da instituição há vários anos, a candidatura foi algo inesperada. Fui desafiada pelo anterior provedor a avançar e, depois de ter efetuado alguns contactos, por sentir uma forte ligação à casa e por se tratar de uma área que me diz muito, decidi aceitar e constituir uma equipa para levar a cabo um projeto.
Já conhecia os cantos à casa…
Com exceção do Montepio, que intervém na área da saúde, a Santa Casa é a instituição social mais antiga do concelho das Caldas e a que tem maior abrangência em termos de serviços. Não tem sido fácil este início de mandato, porque assim que tomámos posse tivemos um surto de covid-19 e, depois, foi necessário começar a organizar a casa para o pós-covid. A pandemia causou muitos transtornos a este tipo de instituições, pelo que tivemos de repensar toda a orgânica e adotar normas que adequassem o funcionamento da casa aos tempos que vivemos. Além disso, era prioritário criar condições para voltar a ter uma saúde financeira que garantisse a continuidade da Santa Casa e, ao mesmo tempo, projetar uma intervenção profunda ao nível das instalações. Em 2021 fizemos uma recuperação financeira significativa e isso permitiu-nos ter condições para avançar com alguns projetos.
Quer exemplificar?
A cozinha está desadequada e, por isso, tivemos de passar a utilizar a cozinha das instalações no Colégio Ramalho Ortigão, que tem dado resposta, mas não resolve o transtorno do transporte da comida. Desenvolvemos o projeto para uma nova cozinha, estamos a aguardar o último parecer e contamos iniciar a obra, que está orçada em quase meio milhão de euros, até ao final do ano. Fazemos mais de 400 refeições por dia e, por isso, precisamos de uma cozinha que responda a todas as exigências. Mas queremos também requalificar a denominada Casa de Repouso e transformá-la numa Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas. Fizemos uma candidatura ao PRR, que não foi aceite, mas vamos continuar a insistir, pois é um investimento de 1,7 milhões de euros. Além disso, queremos fazer a ligação entre o Lar e o edifício que foi adquirido no Largo Vitorino Fróis, por forma a instalar alguns serviços administrativos e criar mais alguns quartos. A Santa Casa precisa de obras urgentes em alguns espaços e é nisso que estamos a trabalhar.
E em termos de pessoal?
Fizemos algumas mudanças, criámos um novo organigrama, estabelecemos um código de ética para os cerca de 150 funcionários, temos procurado valorizar os colaboradores e aumentar os vencimentos, mas este é um trabalho inacabado. Temos funcionários muito dedicados e empenhados e, por isso, temos procurado compensar, sobretudo, os mais antigos. A inflação atinge todos os setores e o setor social não é diferente. Temos de fazer um acompanhamento quase diário. Estamos no bom caminho, a Mesa Administrativa tem estado unida e procuramos valorizar a instituição.
E o património? É necessário vender para equilibrar as contas?
Temos procurado rentabilizar o património que, graças à generosidade de muitas pessoas, a Santa Casa dispõe. Vamos propor a venda de alguns prédios que se encontram degradados e que, neste momento, acabam por ser uma despesa, o que sucede com maior enfoque nas freguesias rurais. Estamos a dialogar com a Assembleia Geral no sentido de proceder a essas vendas para fazer face aos investimentos projetados. A Câmara e o Instituto da Segurança Social, certamente, estarão ao nosso lado, mas precisamos obter receitas que suportem as obras que queremos levar a cabo.
E a instituição tem alargado a área de intervenção…
Em vários domínios. Dou-lhe o exemplo do apoio que estamos a dar à comunidade, através da contratação de médicos de saúde familiar para os Centros de Saúde nas Caldas, em Santa Catarina, Landal e A-dos-Francos. O projeto já vinha de trás, mas foram contratados quatro médicos no âmbito de um protocolo assinado com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e com o Agrupamento de Centros de Saúde. Felizmente, temos recebido as verbas para fazer face às despesas, mas a Santa Casa praticamente nada recebe para o trabalho administrativo a que obriga. Mas é um serviço que estamos a prestar à comunidade, à semelhança dos projetos que estão instalados no Ramalho Ortigão. Falamos do CLDS4-G, que terminará em março e que não sabemos se terá continuidade, e do SAAS, que no final do ano passará obrigatoriamente para a Câmara. Da parte da Santa Casa, mostrámos disponibilidade à autarquia para continuar, porque temos técnicos disponíveis, mas ainda não obtivemos resposta. E temos várias outras valências, mas estamos num período de indecisão, a aguardar decisões do Governo e da Câmara.
Como tem sido o relacionamento com a Câmara Municipal?
Tem sido um relacionamento positivo, institucional. Fizemos uma visita às instalações com o novo executivo municipal e tivemos oportunidade de abordar várias questões que nos preocupam. Entre estas instituições o relacionamento tem de ser bom.
Admite fazer mais do que um mandato na Santa Casa?
Ainda é muito cedo. Faltam dois anos e meio para terminar este mandato, mas certamente não faltará dedicação e empenho à equipa que integro. Tenho sempre esta perspetiva. Quando vou para os lugares não estou a pensar em mim, estou a pensar em servir. Sempre com dedicação, empenho e vontade de fazer o melhor. Acredito que deixei a minha marca como vereadora e deputada, mas nunca trabalhei a pensar em mim. O que ambiciono é desenvolver estes projetos na Santa Casa e que quem vier a seguir que os continue. ■
“Foi na cidade que o PSD perdeu as autárquicas”
Ex-vereadora e candidata derrotada à maior freguesia do concelho acredita que o partido estará preparado para voltar a ser poder em 2024
Maria da Conceição Pereira teve uma longa carreira como deputada e vereadora. Nas últimas autárquicas, candidatou-se à União de Freguesias de Caldas – Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, perdendo para o Vamos Mudar. Quase um ano depois do ato eleitoral, a histórica social-democrata no concelho assume que “foi na cidade que o PSD perdeu as autárquicas”, mas acredita que o partido saberá tirar as ilações e preparar-se para 2024.
“Foram muitos anos e, pese embora as obras que foram feitas no último mandato, que foram muitas e interessantes, as pessoas quiseram mudar. O PSD ganhou mais freguesias, mas perdeu na cidade”, salienta a ex-vereadora de Fernando Costa e Tinta Ferreira, observando que no último mandato “foram feitos investimentos nas freguesias e talvez as pessoas da cidade não tenham gostado.”
“Ao fim de um ano, certamente que o PSD irá fazer balanços e vai preparar-se para as próximas autárquicas, até porque na política as coisas mudam muito rapidamente”, refere Maria da Conceição Pereira, sublinhando que o executivo de Vítor Marques na Câmara “tem tempo para implementar o seu projeto e daqui a três anos será avaliado”.
Quanto ao futuro político, a militante social-democrata revela indisponibilidade para novos desafios. “Antes destas eleições já tinha comunicado que não iria ficar como vereadora. Creio que dei ao concelho o melhor de mim e há muitas coisas que aconteceram, na Cultura e na Ação Social, que continuam a ser referência”, sublinha a caldense, que faz um balanço “muito positivo” da passagem pelos Paços do Concelho e deseja que o executivo “dê continuidade” a projetos que iniciou, nomeadamente o Museu da Cerâmica: “Já havia um projeto de conteúdos, com uma proposta liderada por João Bonifácio Serra, e estava previsto avançar com projeto de arquitetura para o novo espaço. É um projeto muito importante e espero que a Câmara o concretize”.
Oposição na Junta
Estar na oposição, neste caso na Junta, é uma novidade para Maria da Conceição Pereira, que tem procurado fazer uma “oposição construtiva”. Contudo, gostaria de ver mais dinâmica na equipa de Pedro Brás (Vamos Mudar).
“Ao fim de um ano ainda há muitas questões que gostaríamos de ver melhor tratadas, algumas das quais temos abordado na Assembleia de Freguesia. Falamos da limpeza da cidade e da necessidade da realização de obras no Coto e em São Gregório, que consideramos muito importantes, mas também uma intervenção na Rua da Estação, pois todos concordamos que as entradas da cidade deveriam ter outro cuidado. Isso estava no nosso programa, mas não temos tido resposta muito positiva às nossas propostas”, lamenta a eleita pelo PSD na Assembleia de Freguesia. ■






























