
Embora as diferenças salariais tenham diminuído nos últimos anos, as mulheres continuam a ter, tendencialmente, uma posição de desvantagem relativa perante o emprego, segundo a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
A conciliação da atividade profissional com a vida familiar e pessoal é o maior desafio para as mulheres. De acordo com a CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, a flexibilidade de horário é uma das dificuldades que as mulheres mais sentem na sua atividade profissional em articulação com a vida familiar e pessoal.
Em 2020, esta entidade constatou 561 situações em que as empresas pretendiam recusar a atribuição do regime de horário flexível e do regime de trabalho a tempo parcial a trabalhadores e trabalhadoras com filhos ou filhas menores de 12 anos. “A esmagadora maioria desses pedidos eram provenientes de mulheres”, explica a presidente da CITE, Carla Tavares, à Gazeta das Caldas.
A entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho está entre os fenómenos apontados como dos que mais tem determinado as recomposições sociais das últimas décadas em Portugal. Tem-se registado um reforço da presença feminina em todos os níveis do ensino e da formação profissional, o aumento da taxa de participação feminina e a progressiva integração das mulheres em cargos, profissões e setores que eram, no passado, quase exclusivamente masculinos. Ainda de acordo com a CITE, as qualificações ao nível do ensino superior têm aumentado de forma consistente nos últimos anos, especialmente entre as mulheres e a representação feminina também aumentou em cargos de administração nas grandes empresas e na política.
A diferença “salarial entre mulheres e homens diminuiu de forma significativa nos últimos anos, passando dos 18,4% em 2012 para os 14,4%, em 2019”, refere Carla Tavares. No entanto, e embora tenha diminuído, a disparidade salarial no mercado de trabalho permanece “elevada e resulta de um conjunto de fatores que, estruturalmente, colocam as mulheres numa posição de desvantagem relativa perante o emprego”.
Por exemplo, continuam a ser as mulheres quem mais trabalha nos setores dos cuidados e da educação, com salários comparativamente baixos.
“Existe uma sobrerrepresentação das raparigas nos cursos científico-humanísticos (55%) e, inversamente, uma sub-representação feminina nas ofertas de natureza profissionalizante (41%), bem como com uma escassa participação feminina nas áreas de estudo ligadas às Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, explica a responsável.
“O teletrabalho pode ser especialmente penalizador da força de trabalho feminina”
Carla Tavares,
presidente da CITE
Pandemia agudiza dificuldades
A pandemia agudizou as particulares dificuldades das mulheres na conciliação entre trabalho e vida pessoal. São elas quem “tradicionalmente continua a desempenhar grande parte das tarefas domésticas e o cuidado informal, o teletrabalho pode ser especialmente penalizador da força de trabalho feminina”, considera Carla Tavares.
De acordo com os dados disponíveis sobre a adoção do regime de teletrabalho, na primeira vaga da pandemia, a proporção da população empregada que trabalhou sempre ou quase sempre em casa chegou aos 25,2% nas mulheres e aos 21,1% nos homens, mas nas fases subsequentes esta diferença diluiu-se e a adesão ao teletrabalho passou a ser equilibrada do ponto de vista do género.
80% das mulheres recorreram ao apoio extraordinário à família, um indicador que mostra quem continua a prestar cuidados no seio familiar
As assimetrias registam-se sobretudo ao nível das condições para a prestação de trabalho em regime de teletrabalho, com as mulheres a sentirem mais dificuldades em conciliar a vida profissional, familiar e pessoal.
Foram as mulheres quem mais recorreram ao apoio extraordinário à família, sendo que “mais de 80% dos beneficiários deste apoio são mulheres, um indicador que ilustra de forma impressiva as assimetrias que continuam a marcar a prestação de cuidados no seio familiar”, explica a presidente da CITE. Para mitigar a situação, o governo criou o incentivo à partilha do exercício da assistência a filho.
Combater a discriminação
Ao longo dos seus 41 anos de atividade, a CITE tem procurado concretizar a igualdade e combater a discriminação entre mulheres e homens no mundo laboral, bem como proteger a parentalidade e promover a conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal.
Trata-se de um organismo tripartido, que integra representantes do governo, dos trabalhadores e de entidades empregadoras e tem desenvolvido ações de formação junto dos trabalhadores e campanhas para a igualdade salarial, conciliação da vida profissional, familiar e pessoal ou para a partilha da licença parental. ■






























