
Aos 72 anos, Isabel Castanheira promete continuar a surpreender. Rafael Bordalo Pinheiro e os gatos são duas das suas paixões conhecidas e que, em breve, vão dar origem a novos livros
Conhecida como a livreira das Caldas, Isabel Castanheira foi uma importante agente cultural que, durante 35 anos, organizou atividades literárias, através da livraria Loja 107, que abriu ao público em 1976.
Aos 72 anos, a timorense recusa-se a baixar os braços e já tem projetos para novas obras, uma relacionada com Bordalo e outra com gatos. O primeiro reúne as ilustrações que Bordalo Pinheiro publicou em livros de outros autores. “São mais de uma centena”, referiu a livreira, que conta com o seu habitual editor João Paulo Cotrim e que, em princípio, será uma obra que terá design gráfico de Jorge Silva. “Bordalo era um génio. Daqueles que aparece um, de 100 em 100 anos”, diz Isabel Castanheira, que dedica horas ao trabalho gráfico bordaliano, menos conhecido do que a incursão na cerâmica.
A segunda obra será um “Diário de um Gato Livreiro”. É conhecido o seu gosto também pelos felinos, alguns dos quais habitavam na sua livraria. Um dos mais emblemáticos, conhecido de todos os clientes, foi Gil Vicente. “Vou contar a história de um gato que habita numa livraria e como foi o convívio com vários escritores”, disse a agente cultural, que tem recordações várias, incluindo interações entre os escritores que convidou e que ultrapassaram a centena e os seus animais de estimação. Este seu novo projeto vai contar com fotografias de felinos em cerâmica, feitos por ceramistas das Caldas.
A timorense, com várias obras publicadas, foi a responsável pela vinda de centenas de escritores às Caldas e criou na livraria – no número 107 da Rua Heróis da Grande Guerra – um verdadeiro ponto de encontro e de realização de eventos de celebração do livro e da leitura. “Sempre amei os livros”, disse Isabel Castanheira acrescentando que foi por isso que decidiu abrir uma livraria nas Caldas, em 1976. Uma livraria que foi a primeira do país a ser informatizada, ainda na década de 1980, e que até chegou, por causa disso, a ser notícia no Jornal de Letras.
À Gazeta, a livreira recordou que as primeiras vindas de autores, no início dos anos 1980, aconteceram por sugestão dos vendedores. Isabel Castanheira ganhou-lhe o gosto e foram anos em que os escritores vinham apresentar as obras. As sessões decorreram em vários espaços, no GAT, em cafés e auditórios e que estas davam a oportunidade aos leitores da região de contactar com os autores favoritos. Os melhores anos, em relação a vendas, estão relacionados com os tempos em que funcionou o polo da UAL nas Caldas, perto da década de 1990.
Isabel Castanheira reconhece que o setor das livrarias continua a não passar bons tempos.
“Temos um Presidente da República que é tão defensor dos livros e afinal o setor vai de mal a pior”, referiu a autora, que não compreende porque é que as livrarias tiveram que encerrar. Foi colaboradora da Gazeta com quem co-organizou iniciativas, entre as quais dois suplementos especiais sobre o Zé Povinho e Bordalo Pinheiro.
Foi com as crónicas publicadas que publicou “Caldas de Bordalo”. Outras das obras que escreveu em 2018 foi “Una piccola storia d’amore” sobre o romance de Bordalo com a atriz italiana Maria Visconti.
A Câmara das Caldas, reconhecendo o percurso e dedicação, atribuiu-lhe a medalha de ouro. Por sua vez, a Assembleia Municipal distingui-a com um louvor pelo trabalho em prol da Cultura. Os rotários das Caldas distinguiram-na como Profissional do Ano. A BookTailors e a Câmara da Póvoa de Varzim deram-lhe o prémio nacional para a Melhor Livreira.
Isabel Castanheira está satisfeita com o facto de, este ano, estar prevista a inauguração de uma estátua onde estão Bordalo e o Zé Povinho e relembra que sempre defendeu que pudesse existir uma Casa Bordalo nas Caldas, já que este criador por cá viveu durante 21 anos. E, para que a ideia não morra, brinca, pedindo que enquanto aguarda que a deixem sentar-se ao pé deles, na Praça, “para ouvir as suas conversas”. ■
Perfil
Isabel Castanheira
Livreira
Abriu, em 1976, a livraria Loja 107, que trouxe às Caldas autores como Manuel Alegre, José Saramago, António Lobo Antunes, Mia Couto, Lídia Jorge, Hélia Correia, Daniel Sampaio, Pedro Strecht, Eduardo Agualusa, Vitorino d‘Almeida, António Barreto, Nuno Crato, Ana Maria Magalhães, Jaime Rocha, entre outros. Deu atenção constante aos autores locais, promovendo apresentações das suas obras, assim como iniciativas de celebração do livro e da leitura. A livraria não resistiu à crise e fechou portas em 2011, deixando um enorme vazio literário. ■






























