
O convidado foi apresentado pelo ex-presidente da Câmara de Óbidos que foi seu aluno, Telmo Faria. O convidado deu uma verdadeira lição de História tendo permitido aos participantes a compreensão dos avanços e recuos que teve a democracia portuguesa. O académico deixou ainda comparações entre Portugal e outros países europeus que também se libertaram de regimes ditatoriais como a Espanha e a Grécia.
Foi perante uma plateia composta sobretudo de docentes que Fernando Rosas abordou o 25 de Abril e o processo Revolucionário.
À Gazeta das Caldas, o convidado referiu no final da suas intervenção que há de facto um grande interesse pelo estudo e divulgação de Abril que faz com que o académico e investigador acabe por viajar não só de Norte a Sul do país como também pelo estrangeiro para dar a conhecer um pouco melhor como foi a Revolução dos Cravos.
“Vim de Mértola há dois dias, também estive na Suécia além de ter participado em vários colóquios e eventos académicos no último mês e meio”, contou, depois de ter respondido a várias pessoas que o escutaram e aplaudiram pela facto de ter dado uma visão panorâmica do que sucedeu, da pluralidade de visões e dos avanços e recuos que existiram na re-fundação da democracia lusa.
Segundo Fernando Rosas ainda há muitos temas a estudar relativos à História Contemporânea Portuguesa dado que este, do ponto de vista académico, “começou a ser alvo de estudos nos anos 80”. Logo há “um campo imenso para se estudar na História do século XX não só em relação ao Estado Novo como em relação ao processo revolucionário”.
Segundo o historiador, à medida que se avança no tempo vão-se conquistando para o terreno da História, os anos que antes não eram considerados pois estavam demasiado próximos. “Agora já é perfeitamente possível fazer a história dos anos 80”, comentou o orador.
Fernando Rosas explicou que podem a ser alvo de estudo quando “aquilo que hoje se diga sobre os assunto já não tenha qualquer influência nos assuntos, ou seja, os processos já foram encerrados”. Pois se tiver influência nos acontecimentos, então não é História contemporânea “é uma outra coisa como Jornalismo, Ciência ou Intervenção politica – quando o tempo passa há uma parte desses anos que se vai conquistando para terreno da história”.
Entre os temas que se deve prosseguir o estudo está, por exemplo, a descolonização portuguesa. Se bem que para Fernando Rosas, “quarenta anos depois da chegada dos retornados está tudo devidamente absorvido e integrado”. Agora o que é preciso, na sua opinião, “é que haja condições politicas para que se faça investigação científica e que sejam dados financiamentos para esta área aos jovens investigadores”.
Em relação a outros processos de transição para a democracia, o caso português foi para Fernando Rosas diferente de outros, como o da Espanha ou da Grécia. No país vizinho “é o franquismo que inicia o processo de transição” ao passo que na Grécia “são os coronéis que, no rescaldo de manifestações sangrentas, iniciam o processo de transição”. Em Portugal, explicou o académico “o poder caiu na rua por virtude de um golpe militar que se transforma num processo revolucionário e como tal há um recomeçar a partir do zero”. Na sua opinião, a partir da Revolução tentou-se fazer um país novo, não querendo pois adaptar o “pais antigo”. O historiador considera pois que houve “uma ruptura quase total da classe politica e há um começar de novo”. Fernando Rosas salientou o facto de se poder fazer investigação sobre história contemporânea em Portugal dado que os seus arquivos histórico-militares são abertos à consulta e sujeitos a regras universais de abertura. Pelo contrario, os arquivos histórico-militares de Espanha “continuam sujeitos a vários condicionalismos políticos que limitam o seu acesso. É algo muito diferente”. Para o historiador basta ainda lembrar que em Espanha a policia politica continuou enquanto que em Portugal esta “foi assaltada pelo povo. Os únicos mortos da revolução aconteceram no assalto à polícia politica…”, rematou Fernando Rosas.
O ciclo de aulas abertas evocativas dos 40 anos do 25 de Abril começou em Março e contou com oradores como Fernando Catroga, Joana Tornada, Francisco Louça, Arsélio Pato de Carvalho, David Justino, Joaquim Borges Gouveia e Guilherme Oliveira Martins.
Natacha Narciso
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