A lagoa de Óbidos e o concelho das Caldas da Rainha são ricos em património arqueológico, mas há ainda muito a fazer para o explorar e divulgar. Esta uma das conclusões de um debate sobre arqueologia organizado pelos rotários caldenses no passado dia 10 de Agosto.
“Se pensarmos na geomorfologia da Lagoa de Óbidos e tivermos em conta o nível médio das águas do mar, o que temos são 19 quilómetros de território que em tempos foi terra, mas hoje está submerso”. Quem o diz é Tiago Fraga, um dos arqueólogos que está encarregue de acompanhar presencialmente a obra das dragagens na Lagoa de Óbidos. As dragagens têm de ser acompanhadas porque foi na Lagoa de Óbidos que foi encontrado um dos oito exemplares portugueses de anfibolitos, “os primeiros “passaportes” do Neolítico, uma peça conhecida a nível mundial”. Trata-se de uma “pedra” descoberta durante umas dragagens em 1999 e que tem 7000 anos.
Por isso as dragagens são agora sempre acompanhadas de um arqueólogo.
“O que temos actualmente é indicativo de uma auto-estrada de navios que chegava até Eburobrittium, mas também chegava a Óbidos e às Caldas e tinha ancoradouros e zonas de construção e reparação naval que hoje estão em terra e que estão por descobrir”, afirmou Tiago Fraga durante uma conferência sobre património arqueológico que teve lugar no dia 10 de Agosto na Junta de Freguesia de Nª Senhora do Pópulo.
Quando chegou à Lagoa de Óbidos para um estudo no âmbito da Associação Dinâmica, Tiago Fraga deparou-se com um lugar que “grita património cultural subaquático” porque “a lagoa tem uma história riquíssima”. Mas que está, praticamente na sua totalidade, por explorar. Por exemplo: o arqueólogo fez notar que existem apenas dois naufrágios conhecidos na lagoa (um deles o do Roumania), e que isso, para si, não faz sentido porque é suposto terem havido muitos mais ao longo dos séculos.
Caldas sem carta arqueológica
Já antes Ricardo Lopes, arqueólogo que colabora com a Câmara das Caldas e que acompanhou as obras no centro histórico, havia defendido a criação da Carta Arqueológica das Caldas e de um Centro de Interpretação Histórica. A Carta Arqueológica congrega todas as informações acerca do património e o arqueólogo julga que “as Caldas é dos poucos municípios que ainda não tem este instrumento”.
Nos trabalhos para desenvolver essa carta foi sendo possível encontrar novos sítios de interesse, como uma ponte romana no Carvalhal Benfeito (que está por baixo de uma mais moderna), uma capela em Alvorninha (que a estrutura dá a ideia de poder ser um templo judaico), uma inscrição romana por baixo de um altar joanino numa capela no cemitério de A-dos-Francos, ou um dos únicos exemplares de moinhos de madeira a nível nacional (Alvorninha).
Para além disso, na região existem outros pontos de interesse, como a Pocinha de Salir de Porto, o Pelourinho de Santa Catarina, o cais do Nadadouro, a inscrição romana no cemitério de Salir de Matos, as grutas artificiais em Ribeira de Crastos, o suposto caíque inglês em frente à duna de Salir do Porto ou o Castro de Santa Catarina.
Ricardo Lopes fez ainda um resumo dos achados nas obras de regeneração urbana e anunciou que os fragmentos encontrados estão expostos no espaço CRIA. Para além disso, afirmou a intenção de realizar umas jornadas do património nas Caldas, em Outubro ou Setembro.
O primeiro conferencista, Afonso Silveira Martins, lembrou que em várias obras é obrigatório o acompanhamento de um arqueólogo. “Os arqueólogos não param as obras”, disse, dando como exemplo, o centro histórico das Caldas, em que trabalharam em locais diferentes dos empreiteiros. No caso das dragagens, se fosse necessário, poderiam deslocar a boca da draga para o lado, não obrigando à sua paragem.
Afonso Silveira Martins apontou ainda a “falta de sensibilidade das autarquias e serviços pois muitas vezes os achados são escondidos ou tapados” e disse que a lei portuguesa do património tem sido reconhecida internacionalmente, servindo de modelo e que Portugal foi dos primeiros países a rectificar as convenções do património subaquático arqueológico.
Esta sessão integrou-se no ciclo de palestras anual do Rotary Club das Caldas, sendo apresentada pelo presidente Rui Rodrigues. Para além dos arqueólogos (Afonso Martins Silveira, Ricardo Lopes e Tiago Fraga), esteve presente Carlos Cravide (tesoureiro e representante da União de Freguesias) na palestra que se realizou na sala de sessões da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e S. Gregório na noite da passada segunda-feira, 10 de Agosto. Cerca de 50 pessoas assistiram à conferência.































Fico algo espantado com a notícia – nada do que foi dito é novidade.
Com todo o respeito por Tiago Fraga a informação que divulgou já era do conhecimento do meu primo J. Pereira da Silva que faleceu há um ano (faria este ano 105 anos de idade). O que me deixou, o desenho que ofereceu à Foz do Arelho e que consta de painel de azulejos no coreto da Foz do Arelho – as três lagoas.
Acho bem que se estudo, explore.
Mas façam-no de forma coerente, responsável.
E já agora, tratem da Lagoa todos os anos e da bacia hidrográfica também. Que seja criado um “fundo económico” para a Lagoa, para que as dragagens sejam cirúrgicas e sustentáveis. Não de 20 em 20 anos a gastar cerca de 10 milhões + x que gastam todos os anos para apenas proteger a praia