Há duas semanas que a Martinha, a foca que se tornou célebre por durante um mês, entre Julho e Agosto, ter escolhido a baía de S. Martinho para sua residência provisória, foi vista pela última vez há pouco mais de duas semanas e desde então não regressou aos insufláveis nem à plataforma para motos de água onde costumava pernoitar. É provável que tenha regressado às suas águas nos mares da Irlanda.
A foca desapareceu. Morreu? Cansou-se da excessiva proximidade do bicho-homem? Ou simplesmente descansou uns tempos nestas águas e regressou aos seus mares de origem.
A primeira hipótese é a menos provável. A jovem foca aparentava estar de boa saúde e devidamente nutrida pois todos os dias atravessava a barra e ia ao mar alto alimentar-se. Por outro lado, e apesar de haver suspeitas de que estaria ferida numa das barbatanas, não aparentava ser nada de grave, pelo que o animal se movia facilmente. Não, a Martinha não terá morrido.
O mais certo é ter regressado ao seu habital natural, como é frequente acontecer às focas que de vez em quando são avistadas na costa portuguesa. Segundo a bióloga Catarina Eira, do Centro de Recuperação de Animais Marinhos de Quiaios (Figueira da Foz), a partida desta foca encaixa num comportamento típico de um animal que se desorientou no mar e usou temporariamente uma zona para descansar até regressar ao seu habitat de origem.
O que fica por provar é se a excessiva proximidade de alguns humanos potenciou essa partida. Nas redes sociais e em vários testemunhos que chegaram à Gazeta das Caldas, algumas pessoas dão conta de que as motas de água eram especialmente agressivas com a Martinha por navegarem muito próximas dela. E que houve gente que chegou a tocar na foca com remos.
“Ela tinha bom feitio”, conta a também investigadora da Universidade Aveiro, recordando que apesar de tudo estávamos em presença de um animal selvagem. Catarina Eira, que tem experiência na recolha de animais marinhos na costa, diz que alguns são mais agressivos e subscreve as recomendações das autoridades de que uma mordidela de uma foca pode ser perigosa devido à quantidade de bactérias que o animal tem.
Apesar de, por duas vezes, as autoridades terem tentado capturar a foca, tal não era uma operação fácil pois a plataforma onde se encontrava era instável e o animal estava de boa saúde podendo fugir facilmente.
Por outro lado, estaria fora de questão anestesiá-la com um dardo porque, tratando-se de um mamífero, fugiria ao sentir a picada e acabaria por morrer afogada.
Esta foca, que tem o nome científico de Phoca vitulina, apareceu pela primeira vez em 23 de Julho na baía de S. Martinho e, após várias tentativas subiu para os insufláveis de praia e ali ficou durante a noite, saindo de madrugada para o mar alto. Uma rotina que durou cerca de um mês, sob o olhar de centenas de pessoas, das objectivas fotográficas e até das câmaras de televisão que sobre ela fizeram reportagens. Uma página no Facebook mostra o quanto se tornou célebre este animal com um ar fofinho que, entretanto, terá rumado aos mares do Norte.
Boa viagem, Martinha.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt






























