Caldas da Rainha foi elevada a cidade a 26 de Agosto de 1927. Mas como se chegou a esse “inesquecível” mês de Agosto para os habitantes do concelho das Caldas da Rainha? A resposta foi dada pelo historiador Nicolau Borges na conferência que deu nos ex-Paços do Concelho, no passado dia 26,onde se baseou nos factos ocorridos desde o início e até meados do século passado. Para o orador este terá sido “o momento mais partilhado e participado da vida cívica da cidade”.
Para Nicolau Borges o 26 de Agosto é uma data tão importante para as Caldas como o 15 de Maio ou o 15 de Agosto. Por isso quando foi vereador (eleito pelo PS) na Câmara caldense, sempre tentou que esta celebração fosse festejada dignamente. Este ano, foi na qualidade de historiador que partilhou com os presentes os factos históricos, nomeadamente a evolução demográfica do concelho, os acontecimentos políticos, económicos e sociais, ocorridos desde 1911 e que permitiram a elevação das Caldas a cidade.
Baseando-se em dados factuais, o investigador deu a conhecer um orçamento suplementar do Hospital Termal, datado de 1916, onde se recomenda que no seu novo regime orgânico se considere a “separação entre hospital e balneário, devendo este ser dado de exploração à iniciativa privada”. Também nesse ano é criada uma comissão para estudar as bases segundo as quais se efectivará o arrendamento do balneário e suas dependências, propondo-se a entrega do Hospital de Santo Isidoro à Câmara.
Em 1918 é concluída a instalação do Regimento de Infantaria 5 nas Caldas, ficando aquartelado nos Pavilhões do Parque. A nível político, em 1919 é criada a Nova Comissão Administrativa na Câmara, presidida por Custódio Maldonado Freitas e, nesse mesmo ano é conferida à então vila o grau de cavaleiro da Torre e Espada “pelo heroísmo, civismo e amor que manifestou em sustentar a integridade das instituições republicanas”, referiu Nicolau Borges.
Em 1920 realiza-se a primeira Exposição Agrícola, Pecuária e Industrial das Caldas da Rainha e, em 1926, é nomeada uma comissão administrativa municipal, presidida por José Saudade e Silva, em consequência do golpe de 28 de Maio (que levou à implantação do Estado Novo).
“Este é o momento de avançar com o plano de modernização das Caldas da Rainha, o qual encontra nas páginas da Gazeta das Caldas [criada em 1925] um excelente espaço de divulgação e de pressão sociopolítica”, referiu Nicolau Borges. Por outro lado, através da Associação Comercial, da qual faziam parte “algumas das personalidades muito influentes do concelho, caso de António Montês, entre outros, podemos avaliar a intencionalidade, os propósitos e a lucidez das elites caldenses de então”, acrescentou.
Em 1927 é inaugurado o busto de Rafael Bordalo Pinheiro, no Parque, a Gazeta das Caldas inicia uma subscrição para o monumento em honra da Rainha D. Leonor e dá-se a elevação das Caldas a cidade. O decreto, promulgado pelo marechal Óscar Carmona, eleva a então vila quase ao nível da capital de distrito, Leiria. De acordo com o historiador, foi uma “luta tremenda e, sobretudo a criação de uma sinergia de esforços entre todos os grupos sociais das caldas da época, principalmente das elites políticas, sociais e culturais”.
Nicolau Borges destacou o conjunto de personalidades que, nos anos 20 do século passado, estiveram à “altura dos grandes desafios com que o concelho foi confrontado, repto esse que foi enfrentado com motivação superestrutural e euforia participada”, daí resultando uma cidade. E esta foi construída, de acordo com o historiador, por um conjunto de “essências visionárias, apoiadas na sua disponibilidade colaborativa”, e foi “timbrada de tolerância e de recantos inspiradores ao desenvolvimento económico e à inspiração criativa, com qualidades únicas para se afirmarem como a Rainha das Termas de Portugal, desafio vencido na época e que terá de se vencer nos nossos dias”, disse na sua alocução.
Celebrações em Santo Onofre em 2015
Quase 90 anos depois, encontra-se uma cidade com “mais História, com todas as suas lições, todas as suas marcas identitárias e os seus feitos heróicos, a par dos seus fracassos imponderados e omissões silenciadas”, referiu o historiador. Na sua opinião, deve ser lembrada a rainha D. Leonor e o seu Compromisso, na defesa dos mais desprotegidos, assim como o exemplo de dedicação dos heróis da década de 20 do século passado que se “entregaram incondicionalmente às causas comuns da cidade e do concelho”.
Presente na cerimónia, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que faz todo o sentido que as freguesias da cidade promovam esta celebração e deixou o desafio para que no próximo ano esta aconteça na área da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro. O autarca referiu ainda que também actualmente as Caldas vive um momento de “desafio e transformação”, com a possibilidade de receber o património termal e com as obras da regeneração em curso.
Referindo-se ao futuro, Tinta Ferreira, considera que os caldenses devem ter uma “esperança realista”. As melhorias ao nível da mobilidade deverão surgir com uma ligação ferroviária mais rápida entre Caldas e Lisboa e a nível ambiental está prevista a dragagem do corpo principal da Lagoa começar no próximo ano. A autarquia está também a preparar a reedição das feiras no Parque e quer continuar a apoiar a iniciativa comercial.
Tinta Ferreira apelou ainda à entrega e envolvência positiva de todos para que as Caldas, quando se comemorarem os 90 anos, “possa estar ao nível da elevação”.
O presidente da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e Santo Onofre, Vitor Marques, destacou que há um “novo dinamismo” na cidade e que após as obras, surgirá uma cidade mais bonita e com melhores condições.
Destacou a excelência do comércio e serviços da cidade e acredita que se estão a fazer esforços “para capitalizar toda a nossa riqueza e ainda termos melhores resultados”.
O autarca realçou ainda que esta é uma cidade solidária, com um associativismo “muito forte e que faz coisas brilhantes”, e sempre aberta ao diálogo.
A cerimónia, que encheu o salão nobre dos ex-paços do concelho, contou com a presença de elementos do PSD, PS e Movimento Viver o Concelho. Ausentes estiveram representantes da CDU e do CDS/PP.
Antes, a Banda Comércio e Indústria assinalou a data interpretando temas do seu repertório frente à sede da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e S. Gregório.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt































