A Costa da Galiza – segunda etapa do projecto volta à Península Ibérica em bicicleta

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Iniciámos o projecto “Volta à Península Ibérica em bicicleta” em 2012, pedalando durante 8 dias pela costa norte de Espanha desde Irun até Santiago de Compostela, num total de 951kms. Como grande parte deste percurso coincide com o caminho de Santiago do Norte, decidimos viajar como peregrinos com uma credencial que fomos carimbando pelo caminho e que nos permitiu usufruir dos albergues de peregrinos. Em Ribadeo desviámos para o interior em direcção a Santiago de Compostela.
Em 2013, continuámos o projecto recomeçando em Ribadeo, para durante 9 dias pedalarmos pela costa da Galiza até à fronteira com Portugal (760kms) e continuar pela costa portuguesa até Aveiro, onde apanhámos o comboio de regresso a casa, o que deu um total de 955kms.Ribadeo – Foz  (36km)

Na madrugada de 3 de Agosto, viajámos de carro de Caldas da Rainha até à cidade espanhola de Ribadeo (650km) de boleia com um casal amigo que foi passar uns dias de férias ao Norte de Espanha. Chegámos a Ribadeo às 16h15. Equipámo-nos, montámos os alforges nas bicicletas e ainda fizemos uma pequena etapa até à praia de Foz. Foi um percurso tranquilo de 36km, quase sempre à beira do mar. Pelo caminho passámos por um antigo viveiro de peixe, por belas e tranquilas praias e por muitas vivendas sobre o mar. Grande parte do caminho é feito numa espectacular ciclovia que passa junto às praias da região, das quais a mais bela e famosa é a praia Las Catedrales, que deve o seu nome turístico à forma peculiar das arribas no lado oriental, cuja forma faz lembrar uma catedral medieval devido aos arcos naturais. Em Espinhera, atravessámos o rio Masma até ao parque de campismo, que ficava na  margem oeste do estuário.

Foz – Valdoviño  (138km)

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Começámos o dia a pedalar junto ao mar, passando por belas praias encaixadas entre falésias, como as praias de Llas e Areoura.  Como era domingo e estava quase tudo fechado, comprámos comida em Nois. Próximo de Lieiro, pedalámos junto a uma grande fábrica de alumínio e por uns viveiros de peixe. Mais à frente na praia de Morás tomámos um banho e almoçámos numa sombra à beira-mar. Passámos na praia de Area, na ria de Viveiro. Depois de O Vicedo, continuámos em direcção a Porto do Barqueiro. Passámos próximo do cabo de Estaca de Bares, o cabo mais a norte da península ibérica e depois por Porto de Espasante, contornando a ria de Ortigueira. O objectivo era acampar em Cedeira, onde chegámos ao anoitecer. Decidimos jantar primeiro e depois procurar o camping. Só depois constatámos que o parque de campismo mais próximo ficava a 20 quilómetros. Ligámos as luzes e pedalámos mais de uma hora até Valdoviño, onde chegámos já depois das 23 horas. Montámos acampamento, tomámos um banho e enfiámo-nos na tenda, pois foi um dia muito cansativo, com mais de 140kms pedalados em terrenos muito ondulado.

Valdoviño – Sada  (87km)

Nesta etapa voltámos a ter um dia duro com muitas subidas e alguns quilómetros sem ver o mar.  A cidade de Ferrol já se avistava ao longe, mas optámos por seguir pela costa por uma tranquila estrada secundária, com espectaculares vistas para o mar. Ao fundo já se avistava La Coruña. Foi espectacular a entrada na ria de Ferrol, guardada por duas imponentes fortalezas. Chegámos ao centro da cidade já passava das três da tarde. Almoçamos na feira medieval que estava a decorrer no jardim da cidade. Descansámos um pouco e continuámos pela N 651 passando por Pontedeume e por Miño. Ao final da tarde começou a chover e quando houve uma aberta procurámos chegar rapidamente a um parque de campismo próximo da praia de Sada.

Sada-Malpica de Bergantinos  (95km)

O dia acordou cinzento e a ameaçar chuva. Descemos até à cidade de Sada onde tomámos o pequeno-almoço no jardim junto à praia. Seguimos por Oleiros e entrámos em La Coruña em direcção ao centro histórico. Visitámos a Torre de Hércules, o farol mais antigo do mundo ainda em funcionamento (sec.II), visitámos a cidade e fizemos uma paragem para almoçar. Saímos de La Coruña para oeste em direcção às praias e o objectivo era chegar a Malpica de Bergantinos. Já estávamos a pedalar na Costa da Morte, assim chamada devido aos inúmeros naufrágios ali ocorridos devido à traiçoeira costa rochosa. Foi uma viagem muito agradável, com paisagens magníficas, sempre com o mar ao nosso lado. No final de cada curva éramos surpreendidos com mais uma bela praia ou uma paisagem grandiosa. Espectacular a vista sobre a península onde fica a povoação e praia de Caión e muito bonitas as praias de Barrañan e de Alvite. A seguir à praia de Razo optámos por seguir por um caminho de terra (a ruta dos pinos do mar), por ser mais perto do mar, mas foi uma pequena aventura, pois o caminho era muito estreito e acidentado, com silvas e lama nalguns troços e algumas subidas difíceis, o que nos valeu alguns arranhões, mas a paisagem era espectacular. Ao fundo já se avistavam as ilhas de Sisargas. Em Buño passámos por uma feira de louça tradicional da região e uns quilómetros depois chegámos à praia de Malpica de Bergantinos, que fica no final de uma comprida descida, com prédios altos de cada lado da estrada que tapam completamente a vista da praia. Visitámos a praia, compramos comida e voltámos a subir, pois o parque de campismo de Sisargas, tranquilo e com muitas sombras, ficava uns quilómetros afastado da cidade. Chegámos já depois do por do sol e jantámos no restaurante do parque.

Malpica de Bergantinos- Finisterra  (94km)

Apesar de ter chovido durante a noite, dormimos muito bem. Quando parou de chover levantámo-nos e desmontamos o acampamento. Tomámos o pequeno-almoço no parque e começámos a pedalar por volta das 9 e meia. Mas a chuva que caiu durante a manhã, obrigou-nos a fazer algumas paragens. Optámos por estradas secundárias até Ponteceso e daí continuámos junto à costa até Laxe. É uma costa muito montanhosa e recortada, que de vez em quando nos surpreende com mais uma bonita e  tranquila praia. Em Ponte do Porto fizemos uma paragem para almoçar. Dali seguimos em direção a Muxia, vila situada numa língua de terra que entra pelo mar e que é local de passagem obrigatória para os peregrinos de Santiago que culminam o caminho em Finisterra. De entre os edifícios religiosos, o mais conhecido é o Santuário da Virgem da Barca, local de peregrinação desde o século XI, que durante a Romaria da Barca, combina celebrações religiosas e pagãs. Continuámos por estradas tranquilas e com belas paisagens, que de vez em quando nos deixavam ver o mar. Passámos pelo cabo de Touriñan, um dos mais bonitos da Costa da Morte. Ao fim da tarde chegámos a Cee e descemos até à praia de Corcubión, que dá nome ao estuário que nos acompanha até ao cabo Finisterra. Ainda faltavam 7km para o parque de campismo, situado na estrada entre Corcubión e Finisterra, onde chegámos ao pôr-do-sol. A visita a Finisterra ficou para o dia seguinte.

Finisterra – Boiro  (117km)

O dia amanheceu com sol e o céu limpo. Saímos do parque em direcção ao cabo Finisterra, sempre ao lado do mar. Em Finisterra visitámos o farol e alguns locais de grande simbolismo para os peregrinos de Santiago. Comprámos algumas lembranças e regressámos a Corcubión. Continuámos à beira mar, sempre com belas paisagens e vistas fantásticas sobre o mar, que nos faziam esquecer as subidas e os quilómetros percorridos. Muito bonita a praia de Vouga. Ao longe ainda se avistava o cabo Finisterra. Entretanto virámos para sul em direcção a Muros, onde parámos para almoçar e estivemos à conversa com um velho peregrino, que nos falou das suas peregrinações a Santiago. Ainda passámos pela praia de Carivota, e em Noia deixámos a costa, atalhando para o interior em direcção a Boiro, onde chegámos ao final do dia, ainda a tempo dar um mergulho na praia. O jantar foram hamburgers e pimentos de Padrón no restaurante do parque de campismo.

Boiro – Redondela  (110km)

Saímos do camping em direção a Rianxo e andámos alguns quilómetros afastados da costa até chegar à ponte da Ria de Arousa. Esta ria tem uma forte ligação às peregrinações de Santiago, pois de acordo com a lenda, foi por aqui que entrou a barcaça que transportava os restos mortais do apóstolo Tiago. Da ponte sobre o rio Ulla avistam-se ruínas de um antigo castelo viking e réplicas de barcos vikings. Continuámos até à Vila Garcia de Arousa, sempre à beira da ria. Em Vila Nova de Arousa, comprámos comida e fomos para uma praia em frente da ilha de Arousa, onde depois de um banho, almoçámos e dormimos uma sesta. Depois seguimos até Cambados e daí até às movimentadas praias de Sanxenxo, de areias brancas e água transparente e com muitas vivendas debruçadas sobre o mar. Estava muito calor e uns quilómetros à frente fizemos uma paragem para dar mais um mergulho e descansar. Pontevedra estava a 15 quilómetros e foi num ápice que lá chegámos. Visitámos o centro histórico e tomámos uma bebida numa esplanada. Prosseguimos pela N 505 em direcção a Arcade e foi pouco antes do por do sol que chegámos ao parque de campismo de Redondela, situado em frente da ilha de San Simon, ainda a tempo de tomar um banho na ria de Vigo.

Redondela –(La Guarda) – Ofir

Desmontámos acampamento e tomámos o pequeno-almoço no centro de Redondela. Seguimos em direcção a Vigo, pela estrada nacional, com vistas magníficas sobre a ria. Atravessámos a cidade de Vigo, pela zona ribeirinha e continuámos junto às praias que já estavam apinhadas de gente. Entretanto apanhámos a ciclovia que contorna a baía de Tiguan e continua até Baiona, onde fizemos uma paragem para almoçar umas deliciosas empadas em frente ao mar. Continuámos à beira mar pela espectacular ciclovia que liga Vigo até La Guarda. Descemos até à estação dos ferry, para fazer a travessia do rio Minho e assim concluir a viagem pela costa da Galiza, durante a qual pedalámos 760 quilómetros. Entrámos em Portugal pelas 17 horas em direcção à praia da Foz. Depois atravessámos a mata em direcção à praia do Moledo, onde parámos para um mergulho. Continuámos por um caminho de terra à beira mar  que nos levou até próximo de Vila Praia de Âncora, onde apanhámos a N 13 em direcção a Viana do Castelo. Depois de uma breve visita à cidade, atravessámos a ponte Eiffel e continuámos até Ofir onde ficava o parque de campismo. Montámos acampamento e jantámos uns deliciosos secretos de porco preto num restaurante mesmo em frente do parque.

Ofir – Aveiro  (144km)

Tomámos o pequeno-almoço no bar do parque de campismo e iniciámos o dia pedalando junto à costa, mas como as estradas eram todas empedradas e com muita trepidação, decidimos voltar à N 13. Só perto da Póvoa do Varzim voltámos a apanhar uma excelente ciclovia, onde e por ser domingo, havia muita gente a fazer praia e a caminhar ou andar de bicicleta. A partir de Vila do Conde acabou-se a ciclovia e voltámos à N 13 em direcção a Matosinhos, onde almoçámos  sardinhas assadas. Atravessámos Leixões e a caminho da Foz do Douro voltaram as ciclovias à beira-mar. Entrámos no rio Douro, passámos pela ribeira do Porto repleta de turistas e atravessámos o tabuleiro inferior da ponte D. Luís até Vila Nova de Gaia, que nos oferece espectaculares vistas para a cidade do Porto. A partir de Vila Nova de Gaia e durante cerca de 5km acompanhámos o rio Douro até à foz. A partir daqui foram cerca de 20kms de espectaculares ciclovias até Espinho. A partir daqui o objectivo era chegar a Aveiro a tempo de apanhar o comboio regional com destino a Santarém, onde estava a nossa boleia para casa.

Balanço

Foi uma viagem espectacular em todos os aspectos. As paisagens são deslumbrantes, as praias magníficas, com areias brancas e águas  transparentes, algumas muito tranquilas. Visitámos grandes cidades como Ribadeo, Ferrol, Corunha, Pontevedra e Vigo. Pernoitámos sempre em parques de campismo, mas no norte da Galiza, devido à menor oferta de parques, é importante planear bem os locais de fim de etapa. Em relação às refeições, durante o dia comprávamos comida e comíamos tranquilamente em jardins ou junto às praias. Só à noite jantávamos em restaurante. Os meus companheiros de viagem Jó Monteiro e Mário Santos foram espectaculares, reinando sempre a boa disposição e um perfeito entendimento. E as bicicletas, apesar do seu peso total rondar os 25 kg, portaram-se muito bem, não se tendo registado quaisquer avarias.

Próximas etapas

O projeto volta à península Ibérica em bicicleta vai continuar nos próximos meses, pedalando por toda a costa portuguesa e no próximo Verão  o objectivo é entrar de novo em Espanha para pedalar na costa da Andaluzia.

Vítor Milheiro

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