A linha do Oeste posta em causa
A 13 de Janeiro é noticiada a apresentação do estudo sobre a linha do Oeste, feita por Nelson Oliveira, à Plataforma de Defesa da Linha do Oeste, que é composta por autarcas e deputados de todos os partidos da região Oeste.
O autor do referido estudo, o caldense Nelson Oliveira, defende que os maus resultados de exploração da CP na linha do Oeste têm a ver com a maneira como a oferta está historicamente estruturada e afirma que o custo por passageiros/quilómetro no troço em risco é “significativamente inferior” àquele que é indicado no Plano Estratégico de Transportes e que serviu de base para a decisão de encerrar o serviço de passageiros.
O documento avança medidas concretas que permitem aumentar, num horizonte de três a cinco anos, a procura de passageiros em 16% ao mesmo tempo que se reduz o custo por passageiro/quilómetro em 22%.
Estas propostas passam pela ligação directa dos comboios do Oeste a Coimbra (e não à Figueira da Foz como insistentemente a CP tem feito), pela adequação dos horários, pelo fim dos transbordos inúteis nas Caldas da Rainha e por uma revisão do tarifário que não penalize – como agora acontece – os passageiros desta linha que pretendem seguir para a linha do Norte.
Todos os intervenientes elogiaram o documento apresentado, que classificaram de “tecnicamente bem feito”, “realista” e “com os pés bem assentes na terra”.
Fernando Costa, que liderou esta Plataforma Política de Defesa da Linha do Oeste, afirmou que o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, tinha “algumas expectativas positivas” em relação ao resultado deste estudo e sublinhou várias vezes a unanimidade partidária que existe em torno desta questão.
Em 2009 a CP encomendou um estudo a uma empresa suíça, com o objectivo da melhoria da rede ferroviária portuguesa, que recomendava para a linha do Oeste a introdução de quatro comboios diários em cada sentido entre Lisboa e Figueira da Foz e entre Lisboa e Coimbra.
Por Caldas da Rainha passariam 16 comboios diários que ligariam a cidade à capital, à Figueira da Foz e também ao nó de Coimbra, onde o estudo previa que os horários estivessem articulados com os da linha do Norte.
Contudo este estudo nunca foi implementado e a linha do Oeste perdeu uma oportunidade de integrar na rede ferroviária nacional. Se tal tivesse acontecido, não estaria presentemente nesta situação de encerramento iminente.
Num debate realizado em São Martinho do Porto, Fernando Costa, porta-voz da Plataforma de Defesa da Linha do Oeste, lançou um repto aos seus colegas autarcas: que podem as Câmaras fazer pela linha do Oeste para que não se diga que os municípios só exigem e nada dão em troca?
O presidente da Câmara sugeriu que as autarquias financiassem os passes dos seus munícipes (sobretudo dos jovens) que viajam na linha do Oeste, por forma a aumentar as receitas para a CP e assim tornar o serviço menos oneroso.
Os presidentes de Câmara de Leiria, Alcobaça e Nazaré não rejeitaram a ideia de poderem vir a suportar um serviço rodoviário de rebatimento sobre o caminho-de-ferro nas estações de Leiria e Valado dos Frades. Uma forma de dar continuidade a quem, vindo de comboio, se dirija ao centro de Leiria ou às localidades de Alcobaça e Nazaré.
A LUTA CONTINUA
Numa outra frente de luta contra o encerramento da linha, realizaram-se no dia 3 de Fevereiro sete vigílias em estações da linha do Oeste, entre Leiria e Bombarral, com o objectivo de protestar contra o fim do serviço de passageiros. Em cada estação juntaram-se algumas dezenas de pessoas, mas a maior concentração foi de 50 participantes na Marinha Grande que procederam ao corte da linha durante quase meia hora.
As vigílias foram organizadas pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste.
Uma semana depois, é publicado um texto de opinião intitulado “Linha do Oeste – a realidade”, de Nuno Moreira, vogal do Conselho de Administração da CP. Nele se lê que “Não é objectivo criticar ou defender a opção do Governo sobre o assunto a quem compete decidir onde deve ser aplicado o dinheiro dos contribuintes, mas não podemos deixar de responder às vozes que atribuem culpas exclusivas à CP pela fraca adesão da população do Oeste ao transporte público ferroviário. Adicionalmente, importa também comentar os recentes estudos elaborados a pedido do Município das Caldas da Rainha, para que não se transmita a ideia da sua verdade absoluta”.
O estudo sobre a linha do Oeste foi entregue, na Secretaria de Estado dos Transportes, pelo presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, no dia 3 de Abril.
Junto ao estudo, como anexo, foram entregues diversos depoimentos em defesa da linha, assinados pelos presidentes das câmaras de Coimbra e Figueira da Foz, do presidente do Turismo do Oeste, António Carneiro, e do empresário Henrique Neto, entre outros.
Fernando Costa justificou que o estudo apresentado propõe que a linha não seja fechada ao transporte de passageiros entre as Caldas da Rainha e a Figueira da Foz. “Caso seja mesmo necessário, é preferível reduzir o número de comboios, mas nunca encerrar o percurso”, disse. O objectivo é “segurar” a linha em funcionamento até que haja recursos para a sua modernização.
O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, comprometeu-se a “realizar uma análise detalhada” do estudo sobre a sustentabilidade da linha do Oeste que lhe foi entregue
Um grupo de ferroviários e de reformados que prestam ou prestaram serviço na linha do Oeste aprovaram uma moção, a 26 de Maio, na qual contestam a intenção do governo em encerrar ao serviço de passageiros o troço entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.
O documento exigia a anulação dessa decisão e apresentava como boas as propostas do estudo da Plataforma para a Defesa da Linha do Oeste, da autoria do especialista caldense, Nelson Oliveira.
Os ferroviários diziam ainda que é necessário concretizar o projecto de requalificação da linha do Oeste “no quadro da definição do transporte ferroviário como um elemento estratégico no desenvolvimento económico e social do país e da região”.
A moção foi aprovada por unanimidade aclamação.
A Comissão de Defesa da Linha do Oeste organizou uma sessão pública, que juntou cerca de 50 pessoas, no dia 12 de Junho, numa altura, em nada se sabia quanto ao futuro desta linha. Rui Raposo, responsável pela comissão, prometeu não baixar os braços continuar a lutar pelo não encerramento da linha.
Susana Gonçalves
susanagoncalves@gazetadascaldas.pt






























