Os manifestantes foram até perto da residência oficial do primeiro ministro, onde deixaram estudos e pareceres, mas também a promessa de continuarem a luta, até serem ouvidos
Maria Celeste Almeida subia a Rua Almeida Brandão (já de costas para a residência oficial do Primeiro Ministro), de braço dado com Deolinda Santos. Têm 85 e 73 anos, respetivamente, e foram de autocarro, de Santa Catarina até Lisboa, para participar na marcha de protesto contra o anúncio do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de construir o novo hospital no Bombarral. “Viemos cá lutar pelo nosso hospital, não queremos que saia das Caldas”, conta, entusiasmada com a quantidade de pessoas que a marcha juntou. Já com alguma dificuldade em andar, e apoiada pela amiga, a octogenária é peremptória: a vontade e a coragem é que são importantes. “Quando queremos tudo se faz… e esperemos que o dia de hoje tenha resultados”. Também Fernando Vaz, de 84 anos e a residir há 55 nas Caldas, defende que o hospital nas Caldas é uma “necessidade de primeira” e quis dar o seu contributo para que permaneça na cidade. “É muito importante para as pessoas não só das Caldas, como dos concelhos de Alcobaça e Rio Maior, que também não têm resposta em termos hospitalares”, referiu, acrescentando que nem todos têm possibilidades de mobilidade, para se deslocar para o Bombarral. Já Carlos Manuel, de 82 anos, considera que se deve apostar na remodelação da atual unidade hospitalar para dar uma resposta eficaz aos utentes.
Natural do Bombarral e residente na freguesia de Salir de Matos, Anabela Alves não esconde o seu descontentamento pela localização do novo hospital não estar prevista para as Caldas. “Não acho lógico ficarmos sem um hospital nas Caldas, que tanto precisamos. Para o Bombarral, para onde está previsto, não há transportes e tão boas acessibilidades. Tenho, inclusive, falado com pessoas idosas que se queixam que depois não têm transporte, enquanto que na cidade têm o Toma”, disse a manifestante que se fez acompanhar pelo marido, filhos e sogros. “Sabemos que o atual hospital já não dá resposta, mas espero que seja construído um novo hospital nas Caldas e que esta marcha seja um contributo para isso”, concretizou.
Também Helena Almeida foi de autocarro até Lisboa, onde marchou alinhada com outras duas mil pessoas. “Considero o hospital das Caldas um bem essencial”, disse a caldense de adoção, que é natural do Bombarral.
A tirar o curso de enfermagem, Madalena Bolou, de 17 anos, realça a tradição que as Caldas tem na área da saúde. “Temos as condições físicas e de acessibilidades necessárias para acolher o novo Hospital e há toda uma envolvência económica e social associada a um equipamento desta natureza, que querem colocar no Bombarral. Não me parece uma decisão justa”, manifestou a jovem que, no futuro, “gostaria de trabalhar num hospital, na minha terra”.
Olímpia Louriceira foi com o marido e, munidos de um cartaz a lembrar que a tradição hospitalar remonta a D. Leonor, apelavam à permanência do hospital nas Caldas. “É preciso o apoio de todos, porque o hospital não pode sair das Caldas e ir para o Bombarral, como o governo agora quer fazer”, disse à Gazeta das Caldas.
Também o caldense Luís Filipe quis dizer presente e apoiar a mobilização. “Todos temos de fazer a nossa parte em prol do bem-comum”, disse, destacando a presença de pessoas de “diferentes cores políticas, ideias, valores, mas com um objetivo comum, e isso é que é importante”. Para Luís Serrenho, o “povo está a ser prejudicado ao levar-se o hospital para outro lado”, dando nota que os concelhos próximos das Caldas também têm interesse que este seja construído na localização Caldas-Óbidos. O caldense fala de lobbies e da necessidade de mostrar o descontentamento para com a decisão ministerial, e lamenta que a marcha tenha ficado a 100 metros da residência oficial do Primeiro-ministro, e não ter podido chegar ao local próprio, acompanhando a entrega da documentação.
Luís Serrenho espera que este seja o “fermento” para que, “se houver alguma contrariedade no percurso, possam ser 30 ou 40 mil”, apelando à mobilização dos outros concelhos, que estão de acordo que o hospital seja feito nas Caldas.
Jacqueline Branco não parou na tarde de sábado. Ainda o autocarro em que seguia não tinha partido e já estava a oferecer salgados e águas a quem a acompanhava na viagem. Essa dedicação continuou no regresso, com a oferta de sandes e até bolo, para recuperar as forças da marcha, na qual também participou. A voluntária, natural da Zâmbia e residente nas Gaeiras há mais de três décadas, ajuda os cidadãos estrangeiros residentes na região mas que têm dificuldades em falar português, nas idas ao hospital.
À espera da audiência
A mobilização partiu das Caldas pouco passava das 14h00 de sábado e debaixo de fortes aguaceiros. Perfilados, os 32 autocarros rumaram a Lisboa, onde os seus passageiros se viriam a encontrar com outros caldenses, frente à Basílica da Estrela, para dar início à marcha, que percorreu a Calçada da Estrela, Rua Bela Vista à Lapa, Rua dos Navegantes e Rua Almeida Brandão, onde teve de parar, por razões de segurança, a 100 metros da residência oficial do primeiro ministro.
Os cartazes empunhados e os gritos de ordem mantiveram-se enquanto o presidente da Câmara, acompanhado pelos representantes da Assembleia Municipal e Comissão da Saúde, foram à residência oficial de António Costa para entregar os documentos, que deixaram na recepção. Apesar de saber que o primeiro ministro não os iria receber, o presidente da Câmara, Vítor Marques, “estranhou” que não estivesse ninguém do seu gabinete. O autarca lembra que a razão que os levou a ir a Lisboa foi a falta de resposta, por parte do primeiro ministro e também do Presidente da República, aos vários pedidos de audiência. Gostaria, por isso, que o próximo passo fosse a audiência com António Costa. “Não acontecendo, não temos uma decisão ainda tomada do que fazer mas vamos continuar a lutar até que a voz nos doa!”, garantiu.
Inicialmente, o percurso previa a passagem pela Assembleia da República, mas tendo em conta que estava a decorrer no local outra manifestação, a organização caldense optou por dirigir-se diretamente ao Palacete de S. Bento. Para Vítor Marques tratou-se de uma “marcha ordeira, de águas mornas, pela cidade de Lisboa, mas marcando a nossa posição”, que entende ter sido desenvolvida no “tempo certo” porque permitiu-lhes entregar os três documentos, que foram elaborando ao longo do tempo, a contestar as conclusões do estudo da OesteCIM e, mais recentemente, do relatório do grupo de trabalho liderado por Ana Jorge.
O autarca reiterou que movem-se no interesse das Caldas e do Oeste e porque entendem que este território do Oeste norte é o mais carenciado em termos de resposta hospitalar. “Uma decisão de 250 milhões não pode ser tomada de ânimo leve”, rematou.■

Caldas, a escolha natural do novo Hospital!
Refrão
Caldas é Saúde!
Caldas é Termal!
Caldas não prescinde
Do novo Hospital
Bis
Caldas é Saúde!
Caldas é Termal!
Em Óbidos e Caldas
O Novo Hospital.
Os povos do Oeste às Caldas unidos
Na sua vontade querem ser ouvidos,
Há também a história para respeitar
Hospital nas Caldas já é secular
Refrão
Dizer ao poder… respeite a vontade!
Do povo do Oeste e sua Liberdade,
Óbidos e Caldas deve ser escolhido
Pro novo Hospital aqui ser construído
Refrão
Caldas é Saúde!
Caldas é Termal!
Caldas não prescinde
Do novo Hospital
Bis
Caldas é Saúde!
Caldas é Termal!
Em Óbidos e Caldas
O Novo Hospital.
Também no presente o povo tem voz,
O povo é poder e aqui estamos nós,
Saúde, nas Caldas vem da tradição!
Já desde a Rainha e sua doação
Joaquim DiBeira
(Caetano Santos)
Caldas da Rainha 30-9-23































