Pepa Delgado e o seu namorado, Eduardo Hernandez, vêm de Sevilha. A actriz de 41 anos falou à Gazeta das Caldas acerca da sua experiência em Portugal e de alguns aspectos da relação entre portugueses e espanhóis.
GAZETA DAS CALDAS: É a primeira vez que vem às Caldas?
PEPA DELGADO: É a terceira vez que vimos às Caldas, mas a Portugal já viemos outras vezes, embora não me recorde quantas, talvez cinco ou seis. Já fomos ao Algarve e a Lisboa por exemplo.
GC: De que é que gostou mais na cidade?
PD: Além do Parque, gosto do facto de a cidade ser grande – quando vim cá a primeira vez pensei que estava a vir a uma aldeia, mas logo me apercebi que era maior do que eu pensava. E numa cidade desta dimensão é necessária uma zona verde como este parque, que é um local amplo e com muito encanto. Também me atrai bastante a parte mais antiga da cidade, embora também exista uma outra zona, também antiga, mas mal cuidada, que já não é atractiva. Por vezes acontece passar-se por casas abandonadas. É um grande contraste para uma cidade como esta.
Gosto também da produção cerâmica da zona. O meu namorado chegou a ver em cafés sevilhanos o boneco do Zé Povinho, mas ninguém sabia que era português, muito menos desta zona. No geral, esta zona supera as expectativas que se têm antes de aqui chegar – em Espanha não é possível existirem cidades pequenas como Alcobaça ou Batalha com mosteiros tão impressionantes.
GC – E de que é que gostou menos?
PD – Acho mal o facto de esta zona ser totalmente desconhecida aos espanhóis. Especialmente o meu namorado, que trabalha em turismo, acha incrível que praias como S. Martinho do Porto ou Foz do Arelho sejam desconhecidas entre os agentes turísticos de Sevilha. Quando falamos com amigos espanhóis que vieram a Portugal, dá a impressão que o país é o Algarve, pois é a única zona que visitam. Do nosso grupo de amigos conhecemos quatro que já têm casas em Portimão e Alvor, mas não conhecem esta região.
GC: E acha que nos últimos anos tem havido um esforço para divulgar mais esta zona?
PD: Quase nada. Mesmo ao meu namorado não tem chegado nada, inclusive nas feiras de turismo que frequenta nunca encontrou referências a esta região. Mas por outro lado, achamos que o facto de este sítio não ser muito conhecido é bom pois não se gera grande afluência de pessoas
GC: Há grandes diferenças de preços entre Portugal e Espanha?
PD: Aqui as coisas são muito baratas. Outro dia almoçámos cinco adultos e três crianças por 30 euros numa feira na Batalha. Em Espanha esses preços são impossíveis. Mas em roupa de marca já não há diferença entre os preços dos dois países.
GC: Que outros locais aqui perto visitou?
PD: Gostei imenso de visitar a Foz do Arelho, mas não posso dizer o mesmo do Bom Sucesso. A ideia de urbanização de luxo e a construção em si não me parecem adequadas. Além disso, ter sempre um segurança a perguntar onde se vai não é agradável. A própria ideia de fazer algo assim tão grande, com tantos muros à volta, parece-me muito pouco humana.
GC: Tem apreciado a gastronomia portuguesa?
PD: Gosto principalmente do vosso pão. Em Espanha é muito do tipo industrial e come-se porque é preciso, mas aqui dá vontade de comer pão. E têm muito mais tipos de pão do que temos em Espanha. Há outra coisa que acho curiosa – antes de vir cá detestava água com gás, mas depois de beber a de cá isso mudou. E mais uma vez acredito que há um desconhecimento mútuo entre portugueses e espanhóis das gastronomias dos países.
GC: Tem uma opinião acerca dos portugueses?
PD: O nosso caso é diferente da maioria dos turistas porque já vimos para cá para ficar em casa de um amigo e não para ficar num hotel. Mas tentando responder de uma forma objectiva, acho surpreendente a proximidade que vocês têm com os desconhecidos, algo semelhante à que temos na Andaluzia. Tinha a ideia do português como uma pessoa mais fechada, e afinal somos mais parecidos com vocês do que imaginava. Por exemplo, qualquer português entende um espanhol, sem saber falar castelhano, e para nós é muito mais complicado entender um português. Também perguntámos há uns tempos como chegar a um restaurante em Óbidos, porque estávamos perdidos, e as pessoas foram no carro delas à nossa frente, a guiar-nos. Penso que a imagem que passa para o estrangeiro do português é de uma pessoa fechada, mas ao chegar cá a imagem muda completamente.
GC: Acha que existe uma certa rivalidade cultural entre Portugal e Espanha?
PD: Creio que para vocês essa rivalidade é mais significativa. Historicamente, a Espanha foi sempre a invasora, mas para nós é muito mais comum recordar as batalhas contra a França e Inglaterra. Por exemplo, vocês têm um centro de interpretação da Batalha de Aljubarrota. Tenho a certeza que o português vê muito mais o espanhol como inimigo do que o contrário. Se existiu em Espanha um conceito negativo de Portugal até há alguns anos, isso deveu-se a que o português que lá ia era o das feiras, muito associado à etnia cigana. Mesmo a rivalidade do futebol tem ajudado a erradicar essa visão negativa do português – pessoas como José Mourinho e Cristiano Ronaldo ajudaram a cimentar a ideia de que Portugal tem pessoas de alto valor.
GC: Como vê as recentes manifestações em Espanha em relação à actual situação financeira?
PD: O que está a ocorrer a nível de revoltas parece-me que já devia ter acontecido há mais tempo, mas ainda bem que está agora a acontecer. Parece-me genial que surja um movimento destas características – aparecido do nada e sem um líder definido, e que se vai expandindo de forma desorganizada. Também acredito que estas revoltas irão mais longe no caminho para melhorar a situação actual. Actualmente já não há nenhuma ideologia política que valha, não é como se a esquerda solucionasse os problemas causados pela direita.
Óscar Morgado
omorgado@gazetadascaldas.pt






























