A “menina Gracinda”, como é conhecida e carinhosamente tratada entre os familiares e amigos, comemorou um século de vida no dia 17 de Setembro. Natural do Paraíso (Alvorninha), grande parte da sua vida foi passada no campo, onde trabalhou na agricultura e também na casa de uma família caldense.
No dia do seu aniversário pouco falou, mas quem convive com ela diariamente garante que ainda conversa e tem uma memória “fantástica”. Os responsáveis da Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de Alvorninha (ADSFA) preparam-lhe uma festa de anos, onde não faltaram familiares e amigos para cantar os parabéns à centenária, que nasceu dias antes da República, em 1910.
Ofélia Costa, esposa do sobrinho de Gracinda, é dos membros da família mais chegada (Gracinda Mendes é solteira) e trouxe-lhe rosas brancas para assinalar a data. Conhece-a desde pequena e recorda que “era muito conversadora e muito amiga de ajudar”.
Gracinda Mendes não tem o curso de enfermeira, mas sempre foi ela quem ajudou as pessoas da terra, dando-lhes as injecções ou tomando conta dos medicamentos. Era também a parteira da freguesia e, por isso, muito procurada pelas mães para as ajudar nos primeiros meses do bebé, chegando a pernoitar nas casas das parturientes.
A ajuda estendia-se às festas da comunidade, onde participava activamente.
A aniversariante é também a utente mais antiga do apoio domiciliário da ADSFA, não só de idade, mas porque já integra aquele serviço há 11 anos. “Quando entrou ainda era muito autónoma, tinha só a alimentação, agora já está muito dependente, vamos lá duas vezes por dia fazer-lhe a higiene pessoal, levar a alimentação e, felizmente, também tem o apoio da sobrinha, porque era impensável estar sozinha”, conta a directora técnica, Susana Costa.
Esta responsável, que convive com a idosa há uma década, destaca ainda o seu gosto em vestir bem. “Aos 90 anos ainda mandava fazer roupa à costureira e a saia tinha que combinar com a blusa”, conta.
Até aos 94 anos costumava ir de férias para a Casa do Oeste, uma estância para idosos na Lourinhã, onde chegava a permanecer durante mês e meio. E como adorava fazer teatro, idealizava antecipadamente uma peça e levava os adereços, ou então escrevia poemas para partilhar com os seus amigos.
Apesar dos seus 100 anos, Gracinda passa grande parte do tempo sozinha em casa, onde tem por companhia a rádio e, em particular, a Rádio Renascença. É para esta estação que chegou a escrever ao locutor José Candeias. Uma reportagem da Gazeta das Caldas de 2001, em que Gracinda Mendes foi entrevistada, dá conta disso mesmo. ”Escrevo para o senhor José Candeias há já muitos anos e sou correspondida”, dizia na altura, acrescentando que também escreveu ao locutor Luís Salgueiro para lhe tocarem parabéns na rádio. “Na carta dizia que fazia 91 anos, mas que era uma jovem, não tinha rugas e gostava muito de brincar. Senão, ele pensava que com esta idade eu era uma velhinha”, relatava.
Agora, além da família, tem por companhia as ajudantes de acção directa no serviço de apoio domiciliário. Clementina Santos vai à sua casa há cinco anos, desde que começou a trabalhar naquele serviço. “Foi sempre uma pessoa por quem tive muito carinho”, contou à Gazeta das Caldas.






























