Perceber os comportamentos disruptivos (transgressão de regras escolares) levou uma turma da Josefa de Óbidos a realizar um inquérito a alunos, professores e famílias. As conclusões de meses de trabalho foram apresentadas no passado dia 17 de Junho, no auditório da Casa da Música.
À escola Josefa de Óbidos deixaram o desafio da criação de um grupo de trabalho, que envolva a escola, alunos, famílias e outras entidades, de modo desenvolver acções para ajudar a resolver esses comportamentos menos adequados.
“A maioria das famílias, dos alunos e dos professores acredita nesta escola e no seu activo humano e actua de forma a contribuir para um ambiente promotor de qualidade e de civismo”. Esta é uma das conclusões do estudo feito pelos alunos do secundário nocturno, intitulado “Melhor cidadania: estudo dos comportamentos disruptivos na Escola E. B. 2-3/S Josefa de Óbidos”, realizado no âmbito do programa NEPSO- Escola Opinião.
No estudo foi pedido aos inquiridos que avaliassem o comportamento dos alunos da escola relativamente aos colegas, aos professores, à direcção executiva e também aos auxiliares de acção educativa. A maioria dos alunos considera que o seu comportamento em relação aos professores é bom (42,9%), em relação aos colegas não é nem bom nem mau (60,3%), e para com a direcção executiva e os auxiliares de acção educativa é bom, com (38,1%) e (39,7%), respectivamente.
Já os professores acham que o comportamento dos alunos em relação aos docentes é mau (39,1%) e entre os próprios alunos é mau e nem bom nem mau (ambas as alternativas de resposta com 34,8%). No que se refere ao comportamento dos alunos com a direcção executiva entendem não ser nem bom nem mau (43,5%), assim como em relação aos auxiliares de acção educativa (39,1%).
As famílias inquiridas consideram que o comportamento dos alunos em relação aos professores é bom (55%), entre eles não é nem bom nem mau (37%), com a direcção executiva é bom (44%), assim como com os auxiliares de acção educativa (46%).
Os quatro auxiliares de acção educativa entrevistados consideram negativo o comportamento dos alunos com qualquer um dos intervenientes, embora refiram que também há excepções.
Já o director da escola, Fernando Jorge, refere que relativamente ao comportamento dos professores não tem factos a assinalar. Sobre os alunos nota que, na generalidade, têm um bom comportamento, apesar de uma minoria apresentar comportamentos incorrectos. O responsável diz “estarmos a viver os problemas que as escolas das grandes cidades viviam já há 20 anos atrás e que entretanto se agravaram”.
Ao cruzar os resultados, o grupo percebeu que há duas realidades: a percepção dos professores e dos auxiliares de acção educativa que classificam o comportamento dos alunos de forma educativa, e a percepção dos alunos, familiares e director, que, no geral, classificam os comportamentos como positivos.
Sobre o que leva os intervenientes a frequentar ou leccionar na escola, as respostas foram variadas. A maioria dos professores concorreu àquela escola por estar perto da sua residência, não tendo o critério “projecto educacional” tido peso na altura em que concorrem. Também para as famílias a proximidade da escola é importante, embora também tenham expressão os critérios “confiança na escola” e “oferta formativa”.
Não há uma efectiva relação entre famílias e escola
Alunos e professores consideram que a Josefa de Óbidos corresponde às suas expectativas e as famílias destacam que a escola oferece um ensino de qualidade ao seu educando.
Os alunos referiram ainda que a utilização das novas tecnologias é o que mais os motiva nas aulas e que usam poucas vezes vocabulário inoportuno e incorrecto. Já os professores têm uma opinião diferente, com a maioria a fazer notar que ouvem esse vocabulário muitas vezes.
Sessenta por cento dos alunos respondeu já ter agredido fisicamente alguém da comunidade educativa, ao passo que a esmagadora maioria dos professores disse nunca o ter feito.
O inquérito revela ainda que não há uma efectiva relação entre famílias e escola. Estas, normalmente, apenas vão ao estabelecimento de ensino para dar ou receber informações e, de vez em quando, numa comemoração ou num evento.
Entre as conclusões, o grupo destaca que todos os intervenientes são responsáveis nos comportamentos disruptivos que existem na escola.
“É necessário que cada um encontre a sua cota parte de “culpa””, dizem, acrescentando que faz parte do programa do agrupamento a criação de uma comissão alargada para desenvolver um projecto com vista à diminuição desses comportamentos.
Sugerem que o conceito seja trabalhado de forma alargada e que a comissão seja constituída por alunos, familiares, técnicos dos serviços de psicologia, elementos das várias associações existentes no concelho, representantes dos professores, dos auxiliares da acção educativa e da direcção do agrupamento. Mas também é importante, frisam, que se envolva a comunidade, os alunos e as famílias pois “o problema não é da escola, é da sociedade”. Sugerem que a escola fomente encontros regulares com os intervenientes para discussão do problema, em assembleias onde todos se possam pronunciar ao mesmo nível, discutir os seus problemas, as suas vivências.
“Gostaríamos que essa comissão não partisse “do que se diz por aí”, mas sim da voz que demos às famílias, aos alunos, aos professores, aos auxiliares da acção educativa e da entrevista que fizemos ao director”, concluem no estudo.
Paula Queirós, fundadora da Vox Populi (fundação que se dedica à difusão de boas práticas dos estudos de opinião), esteve presente na apresentação e destacou o trabalho feito pelo grupo no âmbito do programa NEPSO- Escola Opinião. O tema da cidadania foi o mais escolhido pelos grupos, embora cada escola o trabalhe de maneira diferente.
Sobre os dados apurados, a responsável disse encontrar “muitas pistas e que agora é preciso ler as entrelinhas”.
Também o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, disse que o estudo permite tirar ilações sobre o funcionamento da escola. Mostrou a sua preocupação com o facto de a maioria dos professores escolherem a escola em função da residência e não do projecto educativo, assim como com o afastamento das famílias em relação à escola. Considera essencial a participação dos pais no projecto educativo das escolas e destaca que este não é um problema que se regista apenas em Óbidos, mas na generalidade das escolas portuguesas.
“A escola actual, para ser atractiva, não pode estar desligada do que a rodeia”, salientou o autarca, acrescentando que é importante realizar projectos que tirem partido do capital humano e talento dos seus participantes.
Alunos criam projectos originais com material reutilizado
Uma mesa multimédia feita a partir de um tampo de máquina de lavar, uma pirâmide luminosa numa estrutura em acrílico e uma maqueta de uma casa sustentável, foram três dos projectos feitos pelos alunos do curso técnico de Informática de Sistemas, que estiveram em exposição no hall de entrada do auditório da Casa da Música.
Os trabalhos foram desenvolvidos nos módulos de formação técnica depois dos professores terem lançado aos alunos o desafio de criar um novo conceito de computador. “A única exigência era o uso da criatividade”, revela Henrique Fidalgo, um dos professores envolvidos, destacando que, no caso da mesa multimédia, foram também os formandos que desenvolveram o software utilizado pelo computador.
O curso acaba dentro de dois anos e esta é também uma forma de mostrar às empresas da região o trabalho que estes formandos conseguem desenvolver, assim como possibilitar-lhes algumas ideias de negócio.
Estes projectos deverão agora ser melhorados no próximo ano e também ser enviados a concursos da área.






























