A Semana do Zé Povinho – 25/08/2017

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Gazeta das Caldas
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Filipe Mateus

Pode acontecer que um cidadão que seja técnico e reúna competências para analisar documentos oficiais e contas de uma pequena autarquia, corra o risco, se não estiver atento ao vocabulário, de cair num procedimento irregular.
Qualquer leitor mais atento percebe que Zé Povinho se refere ao quadro superior da Administração Pública, Filipe Mateus, que por apenas 2500 euros, teve que percorrer e verificar milhares de documentos (72 pastas de arquivo com mais de 14 mil folhas, bem como cerca de 1200 cheques), da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, entidade que, alegadamente, não cumpria as normas mínimas que se exigem para lidar com dinheiros públicos.
O cidadão inspector, e não auditor ou revisor, no final do seu trabalho de mais de seis meses, conseguiu reconstruir a trama dos fluxos financeiros da autarquia da Foz do Arelho e concluiu que não se podiam explicar ou justificar legalmente as trajectórias seguidas por cerca de 200 mil euros de dinheiros dos fregueses daquela vila.
A missão havia-lhe sido atribuída, sem oposição, pelo órgão superior daquela autarquia – a própria Assembleia de Freguesia – e ele fez o seu trabalho, tendo no final apresentado um escaldante documento que alegadamente compromete, de forma fundamentada, os responsáveis máximos do executivo daquela Junta.
Se esse documento se chamasse “relatório” não teria merecido nenhuma contestação, mas como lhe chamaram “auditoria”, o mesmo é posto em causa, não pelo seu conteúdo, mas sim pela forma e pela autoria.
Para mais, e ingenuamente, o próprio relatório intitulado de “auditoria” foi transmitido, ao que foi anunciado publicamente, às autoridades judiciais, que já deviam ter validado ou invalidado o mesmo, por eventuais razões de forma, mas que pela gravidade do seu conteúdo, já deveria ter sido dado seguimento.
Enquanto se trocam piropos, como “abuso de poder”, “usurpação de competências”, nem o Ministério Público nem a Polícia Judiciária, já se pronunciaram ou mesmo se movimentaram, naquilo que é do conhecimento público.
Zé Povinho manifesta alguma comiseração pelo Dr. Filipe Mateus que, ao que diz, nunca se assumiu como auditor ou revisor oficial e agora se vê confrontado com uma série de aborrecimentos. Mas manifesta também a sua solidariedade pelo bom documento produzido, próprio de alguém que tem vasta experiência em auditar processos na Administração Pública.

Gazeta das Caldas
Carlos Nogueira

O Dr. Carlos Gomes Nogueira só é presidente do Conselho da Administração da CP desde o passado dia 1 de Julho. E não tem no seu curriculum qualquer experiência de gestão em empresas ferroviárias, necessitando, por isso, de algum tempo para se inteirar da realidade da casa que agora administra e das especificidades do sector.
Mas este estado de graça não pode eternizar-se.
O presidente da CP já tem conhecimento que há uma linha no país – a linha do Oeste – onde todos os dias são suprimidos comboios porque …não há comboios. Ou seja, a transportadora ferroviária não tem material para fazer o serviço que é o “core” da sua actividade.
É como uma companhia aérea querer operar sem aviões ou uma transportadora marítima tentar navegar sem barcos.
Sete semanas é um período mais do que suficiente para que o Dr. Carlos Gomes Nogueira se dê conta da gravidade da situação na linha do Oeste e, no mínimo, saiba dar um murro na mesa para que a sua técnicoestrutura desperte da inépcia em que se encontre e procure soluções criativas para este problema.
O que o responsável máximo da CP não pode fazer é ser cúmplice desta saga de supressões, desta maldita fatalidade que se tem abatido sobre a linha do Oeste, onde se concentram as automotoras mais velhas e em pior estado de toda a frota da empresa.
Zé Povinho até pode compreender que o Dr. Carlos Gomes Nogueira se sinta incomodado e até meio perdido com esta desorganização, mas lamenta a sua falta de atitude e de determinação para resolver este grave problema.

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