Num mundo de gente convencida e com pêlo na venta, não é fácil encontrar pessoas do mundo cultural bem dispostas e que se dispõem a ousar experiências que à partida podem não dar certo.
Contudo, como o povo diz, “quem não arrisca não petisca”, razão pela qual Zé Povinho tem grande admiração pelo maestro Adelino Mota, que é exímio em inovar e procurar sempre experiências novas, como aconteceu agora no Concerto de Ano Novo que decorreu no CCC.
O que é interessante é que Adelino Mota em cada concerto apresenta sempre algo inesperado para o público e que deslumbra a assistência, mostrando que nele reside sabedoria e maturidade, que lhe dá latitude para arriscar.
Convidar três solistas para um concerto de uma filarmónica amadora, mesmo com grande qualidade e maturidade, em três combinações improváveis, e propor aos seus músicos peças complexas e difíceis, que só com muito trabalho e afinação, podem resultar, são riscos que o maestro Adelino Mota não teme.
Não admira assim que os seus concertos de Ano Novo na grande sala do CCC esgotem com várias semanas de antecedência e vejam o público alegre e satisfeito.
Mas também não é de admirar ver o mesmo maestro e os seus músicos nos corsos de Carnaval, a animarem de igual modo os desfiles que vão percorrer as ruas da cidade no próximo mês.
Eis um homem multidimensional e multifacetado, que tem sido uma alma grande da já histórica Banda de Comércio e Indústria, que acaba de comemorar 70 anos, mas que parece jovial que nem um adolescente, congregando cada vez mais executantes. Parabéns ao Maestro Adelino Mota por estas proezas.
| D.R.
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Os Correios de Portugal foram durante muitas décadas uma instituição de referência, tanto para quem envia o correio como para quem o recebe, sendo os carteiros aqueles amigos que visitavam as residências diariamente e que em muitos locais davam a palavra amiga de carinho aos residentes mais isolados.
A evolução tecnológica não se compadeceu, mas a empresa, em vez de antecipar as transformações, foi deixando andar e com a sua privatização em 2014 a solução foi a mais óbvia para quem tem um único e exclusivo objectivo de ganhar dinheiro: abandonar os áreas de negócios menos rentáveis.
Apesar da privatização ter em conta que os correios são serviço público e que têm responsabilidades para com o consumidor português, é sempre fácil argumentar que se tem de “modernizar”, “melhorar o serviço”, “simplificar”, “rentabilizar”, com o objectivo de dispensar pessoal e de encerrar instalações.
Esta saga com os correios – em que a imprensa regional tem sido uma das principais vítimas podendo levar à sua extinção – tem-se prolongado nos últimos anos, não faltando desde há mais de uma década a continuada queixa pelo serviço deficiente das estações onde as filas com os clientes são infindáveis.
Mas agora a principal razão de queixa é a da entrega da correspondência ao domicílio, não se percebendo o que a empresa deseja fazer no futuro, se acabar aos poucos com o serviço, se cansar os clientes e serem estes a acabar com o correio.
O público, contudo, tem sido alertado que os novos investidores que concorreram à privatização têm-se encarregado de despejar os cofres da companhia, para se ressarcirem rápida e definitivamente do investimento inicial feito. As entidades reguladores permanecem mudas e quedas como nada se passasse com elas.
Uma empresa que diz ter por missão “assegurar soluções de comunicação e logística bem como produtos financeiros, de proximidade e excelência e estabelecer relações de confiança e inovação” e por valores “trabalhar proactivamente a satisfação dos interesses e das necessidades dos clientes” e “com paixão e empenho para vencer em equipa, tendo nos seus quadros as melhores pessoas”, mostra bem a diferença entre os propósitos cínicos e a dura realidade.
Zé Povinho certamente não pode aceitar a forma displicente e pouco interessada como o CEO da empresa, Dr. Francisco de Lacerda, trata estas coisas, mostrando estar ali apenas para servir o capital que adquiriu a empresa há menos de quatro anos e que é beneficiado nas cotações bolsistas na razão directa do anúncio das saídas de pessoal e inversa do aumento das queixas dos clientes.