A semana do Zé Povinho

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Zé Povinho a andar de skate, a fazer surf, windusurf e outras modernices que nem se sonhavam no tempo do seu criador, Rafael Bordalo Pinheiro? Claro que sim. O artista Francisco Moutinho assim o entendeu e Zé Povinho não pode estar mais de acordo com esta actualização.
Natural do Porto, o autor Francisco Moutinho já viveu em Trás-os-Montes e em Lisboa, mas tem agora a Foz do Arelho como seu local de eleição e é nesta vila que tem o seu atelier onde faz peças em madeira, desenhos e caricaturas (entre elas a de Zé Povinho).
O seu refinado sentido de humor e o empenho com que cria as suas obras têm sido fundamentais para o ajudar a enfrentar uma inoportuna doença degenerativa contra a qual tem lutado com grande coragem.
A dois dias das próximas eleições legislativas, em que o povo português vai a votos para escolher quem o vai representar e governar nos próximos quatro anos, Zé Povinho, que orgulhosamente se assume como alter ego desse mesmo povo, sente-se vaidoso por este banho de modernidade que o autor Francisco Moutinho lhe proporcionou e aproveita aqui para o cumprimentar e desejar boa sorte.

Uma história tipicamente lusitana, que deliciaria Rafael Bordalo Pinheiro e em que Zé Povinho poderia ser o protagonista nas várias dimensões desde a origem, foi o inacreditável assalto aos paióis militares de Tancos e depois as rocambolescas manobras que levaram à descoberta das armas e a sua reposição na origem, passando a mensagem de que ainda tinham sido encontradas mais do que as subtraídas.
Zé Povinho e o saudoso Raul Solnado – com a sua ida à guerra – não teriam feito melhor, e no meio destas histórias todas, descobre-se dois anos depois, uma tramoia que ultrapassa um script de uma comédia mexicana que imita as guerras do Oeste entre cowboys e índios pela conquista do forte no meio da pradaria.
Mas a história do assalto português até tem como cenário os campos ribatejanos, próximos do próprio local do roubo, a que não falta o aviso antecipado de um possível assalto a que o poder judicial não dá crédito.
No final, ao espectador distante até parece que alegadamente todos conheciam mais ou menos a história, quer directa ou indirectamente através de assessores e impedidos, tendo o ex-chefe Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte, o superior hierárquico dos envolvidos, e o ex-ministro, Dr. Azeredo Lopes, responsável político pelas Forças Armadas, negado no Parlamento aquilo que parece terem sabido ao longo do processo.
Ouvir as suas declarações no período a seguir à descoberta das armas mostra bem como não sabiam muito bem mentir, deixando pelo caminho muitas frases dúbias e sem sentido. Enfim pode-se apanhar mais rapidamente quem falta à verdade que um coxo, como diz o povo!
Afinal os responsáveis diretos da maquinação – ao que parece para lavarem a honra perdida das Forças Armadas e para serem mais tarde distinguidos medalhisticamente pelo inefável professor Marcelo Rebelo de Sousa – quando descobertos tentaram envolver todos os outros responsáveis, espalhando informações com o rasto à vista.
Foi fácil para o Ministério Público e para a Polícia Judiciária desmontar a tramoia e, com algumas escutas telefónicas, foram encontrados os principais protagonistas que, por falta de experiência como delinquentes, piedosamente narravam às famílias e amigos os pseudo-êxitos da sua actuação. Para simplificar Zé Povinho escolhe os ex-ministro e chefe do Estado Maior, Dr. Azeredo Lopes e general Rovisco Duarte, em nome dos restantes, como as figuras tristes da história…

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