A semana do Zé Povinho 26-01-2018

0
1233
1
 As cidades devem cada vez mais promover os seus activos intangíveis, isto é, as memórias relacionadas com a sua História e que se revestem de interesse para os locais e para quem os visita. Esse património imaterial tem, ainda assim, alguma correspondência ao nível físico pois há espaços, lugares, edifícios, monumentos, objectos que – por muito singelos que sejam – ganham significado quando associados à História e aos episódios que a compõem.
Vem isto a propósito do desafio lançado durante a apresentação do livro “Refugiados da II Guerra Mundial nas Caldas da Rainha” para a cidade implementar rotas turísticas relacionadas com os refugiados, desde os Boérs fugidos da África Austral, aos detidos alemães da I Guerra, até aos muitos estrangeiros que marcaram a cidade nos anos 40, aquando da II Guerra Mundial.
Nos últimos anos, e à medida que vão partindo os testemunhos vivos desses épicos anos 40 relacionados com a Grande Guerra, tem aumentado o interesse de sobreviventes, familiares, investigadores e turistas pelos locais de passagem dos refugiados do nazismo.
Por isso, Zé Povinho considera que uma tal rota seria uma boa aposta e que Caldas da Rainha bem pode agradecer à Dra. Carolina Pereira o seu “pontapé de saída” para esse projecto graças ao seu livro agora editado.
Acresce ainda – e Zé Povinho gosta de sublinhar o mérito alcançado pelo esforço – que esta jovem leiriense só tem 23 anos e está já lançada num doutoramento em História depois da sua tese de mestrado sobre os refugiados que lhe valeu uma nota de 18 valores.
Há, pelos vistos, uma nova geração de historiadores que é promissora e que saberá certamente acrescentar valor aquilo que são as histórias do passado, mas que permitem perceber muito do presente e bastante do futuro. Parabéns Dra. Carolina.

 

2
Comemoraram-se nos dias 20 e 21 de Janeiro os 40 anos do Festival Pela Vida e Contra o Nuclear realizado nas Caldas da Rainha e em Ferrel. Passou meio século desde que esse projecto era uma bandeira dos tecnólogos convencidos da energia nuclear, que em Portugal estavam baseados na então Companhia Portuguesa de Electricidade, que depois daria lugar à EDP, se bem que no seu seio havia vários técnicos credenciados que não eram favoráveis a essa via.
Por estes protestos, bem como pela luta dos próprios habitantes de Ferrel, como ainda por inúmeras outras razões a que não foram alheias as próprias condições económicas do país, o nuclear nunca viu qualquer hipótese em Portugal.
Isto ao invés da Espanha, Bélgica, Reino Unido, Alemanha e França (estes dois últimos produtores de centrais) que hoje responsabilizam esta estratégia pelo atraso com que estão em relação à utilização das energias alternativas e renováveis, com maior sustentabilidade e hoje já mais baratas.
Esta situação permite que Portugal esteja livre dos problemas actuais de desmantelamento das centrais que chegaram ao fim da sua vida, bem como dos resíduos cuja radioactividade ultrapassará muitas centenas de anos.
As lutas presentemente nesses países – com destaque para Espanha e para o caso de Almaraz junto à fronteira portuguesa – respeitam, não à construção de novas centrais, mas sim ao prolongamento da sua vida útil.
Se nos anos 70 e 80 do século passado os defensores do nuclear apresentavam muitos argumentos a seu favor, especialmente de ordem económica, hoje estão totalmente desmentidos e a evolução que sofreram as tecnologias do sol, do vento, das ondas, etc., mostra bem qual seria a irrazoabilidade se Portugal tivesse seguido esse caminho. Para não falar da falha sísmica que depois foi observada em Ferrel, bem como de todo o desenvolvimento económico e turístico da zona costeira à roda de Ferrel e Peniche atraindo hoje milhares de pessoas para fruírem um ambiente sustentável e para consumirem os produtos saudáveis, tanto da terra como do mar, que ali se produzem.
Zé Povinho deixa aqui uma piedosa condenação de todos aqueles que durante várias décadas quiseram despertar o nuclear em Portugal.

 

- publicidade -