
Para um desenvolvimento equilibrado, a criança/jovem deverá ter determinados hábitos e rotinas. O primeiro diz respeito ao sono.
O sono é um processo fisiológico natural, imprescindível a um desenvolvimento físico, mental e intelectual saudável. Corresponde a um período de diminuição do estado de consciência e da actividade física motora, tendo uma função regeneradora e de recuperação. No entanto, está longe de ser um período em que nada acontece: Restabelecem-se vários sistemas e asseguram-se diversas funções essenciais ao crescimento, à regulação hormonal e do sistema imunitário, e ao desenvolvimento do sistema nervoso central e da capacidade cognitiva. Durante o sono é filtrada toda a informação recebida e feita a integração das aprendizagens, retendo as memórias mais importantes.
Dormir é essencial, mais ainda para as crianças e adolescentes. Não só porque necessitam de um maior período de sono, mas também porque a aquisição de bons comportamentos de sono na infância favorece a manutenção de um padrão de sono adequado na idade adulta.
A tabela 1, indica o número de horas que cada criança/jovem deve dormir:
Muitos estudos relacionam o tempo de sono com o desempenho escolar, concluindo que este é afetado negativamente por um período de sono insuficiente. Comportamento mais inquieto e instável, sonolência, diminuição da capacidade de atenção, dificuldades de memória e irritabilidade são alguns dos sintomas que se manifestam em crianças que dormem pouco e que inibem a sua disponibilidade para a aprendizagem.
Ao longo de décadas as horas de sono têm vindo a diminuir desde o aparecimento da eletricidade, sobretudo após a generalização da televisão, telemóveis ou computadores. Passar demasiado tempo em frente a um ecrã tem um impacto negativo na saúde das crianças, na sua auto-estima e nas aptidões de socialização. O quarto deve ter um ambiente sereno e escuro, com uma temperatura amena.
Os equipamentos eletrónicos devem ser desligados mais de 30 minutos antes de adormecer e, idealmente, devem ser mantidos fora do ambiente do quarto. Apesar de cada vez mais tarefas escolares recorrerem às novas tecnologias, cada família deverá ter bem claras as regras da sua utilização durante o período de aulas. Assisto frequentemente na minha prática, a alunos de pré-escolar e 1º ciclo, que têm como horário para dormir, 23h00 ou mais, quando têm de se levantar no dia seguinte às 07h00. Ora isto é demonstrativo do quão disfuncional se torna para o equilibrio físico e emocional da criança/jovem.
Outros hábitos e rotinas são igualmente importantes, tais como: a leitura, o desenvolvimento de atividades lúdicas especialmente ao ar livre. Deste modo é extremamente importante dinamizar com a criança jogos que estimulem a memória, a concentração e o espírito crítico. Os benefícios da leitura são múltiplos e comprovados,estimula a criatividade, enriquece o mapa referencial, reforça processos cognitivos e refina a memória.
A este propósito e a título ilustrativo, sabe-se que a Índia é o país do mundo em que se lê mais (cerca de 10 horas e 45 minutos por semana), seguindo-se a Tailândia, China e Filipinas.
“Não é preciso queimar livros para destruir uma cultura. Basta fazer com que as pessoas deixem de lê-los!”
Atualmente através do uso excessivo das redes sociais, muitas das crianças e jovens lêem cada vez menos, passam demasiado tempo, num mundo que é virtual, que não lhes permite desenvolver determinadas competências e “serem eles próprios”. Mascaram muitas vezes os sentimentos, as atitudes e vivem como que numa realidade paralela.
Desenvolvem uma linguagem própria, repleta de palavras calão e cheia de abreviaturas que mais parecem hieroglifos. Expressam-se e escrevem mal e não têm capacidade e espírito crítico.
Perdoem-me o desabafo, mas provoca-me algum constrangimento quando ouço recorrentemente na TV, em algum tipo de programa em horário nobre, palavrões ditos expressamente e sem qualquer pudor, quando supostamente nesse horário crianças e jovens estão ainda a assistir. Durante anos não me lembro que isto acontecesse, só em determinado tipo de programas e noutro tipo de horário. Parece-me que existe atualmente uma banalização total do “falar bem português”. Parece que já é normal dizer palavrões de qualquer forma.
Bem sabemos que a evolução é importante e que não podemos regredir do ponto de vista tecnológico, no entanto podemos enquanto educadores orientar a criança e o jovem a controlar o uso deste tipo de informação e até monitorizá-los. Proporcionar-lhes determinadas rotinas e hábitos desde tenra idade é fundamental.
Como ouvi há uns anos o Dr. Daniel Sampaio dizer: “Deixem as crianças se sujarem, rebolarem na relva, saltar na rua”. De facto é isto, cada vez mais, assisto a pais que se preocupam com a imagem das crianças, se têm roupa de marca, tenis de marca e telemóveis topo de gama, ao invés de se preocuparem com a sua essência, com a forma como se relacionam com os pares e se são seres educados e solidários. Se dizem por favor e obrigada, se tratam bem os animais ou se são generosos com os outros.
O individualismo, a vaidade e o egocentrismo dos adultos é muitas vezes refletido nas crianças e consequentemente exercido por estes no seu dia-a-dia.
Pequenos gestos fazem a diferença e temos de ter a consciência que as crianças modelam o comportamento dos adultos. Temos a obrigação de lhes mostrar que no mínimo podem ser seres humanos melhores que nós, que não se deixem levar por vezes pelo consumismo, ou pelo uso excessivo do facebook, que comecem a ponderar se realmente estar horas a fio em frente à TV ou ao computador lhes traz felicidade como se fossem à praia jogar à bola ou passear no parque, se serão mais felizes num shopping toda a tarde ou se pelo contrário podem alternar com uma ida ao mercado de rua.
































