Walter Chicharro cumpre o quinto ano como presidente da Câmara da Nazaré e herdou a terceira Câmara mais endividada do país, pelo que salienta a redução da dívida como uma das suas principais conquistas, afirmando que a oposição não apresenta soluções sobre esse tema. O autarca refere que “sem o Fundo de Apoio Municipal não é possível continuar a demanda de investimento”.
Apesar de os seus munícipes, quando precisam de cuidados hospitalares, serem encaminhados para Leiria, o autarca não deixa de defender um grande hospital para o Oeste e realça ainda a importância da Linha do Oeste. Além de pretender construir uma Área de Localização Empresarial em Famalicão, o eleito pelo PS revela a intenção de alargar a ALE de Valado dos Frades.
GAZETA DAS CALDAS – Que balanço faz do primeiro ano deste mandato?
WALTER CHICHARRO – Esta é uma semana fantástica para fazer um balanço, a todos os níveis. Os últimos 15 dias foram absolutamente avassaladores do ponto de vista emocional e de concretização de objectivos, desde logo com a presença em Toronto para homenagear nazarenos, seguida de uma gala dedicada ao futebol de praia no Dubai, onde a Nazaré ganhou o prémio para o maior evento do ano de futebol de praia, passando pela visita a Roma para entrega de uma imagem e de uma carta de pedido de apoio à candidatura do culto de Nª Sra. da Nazaré como Património da Humanidade e terminando com estes três dias fantásticos, em particular a sexta-feira com o Nazaré Challenge e o domingo com uma sessão de Tow-In (surf de ondas gigantes).
Este primeiro ano é de continuidade. Continuámos os projectos do mandato anterior, alguns já estão em execução, como por exemplo, o Centro de Saúde da Nazaré. Há obras do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano já concluídas e acaba hoje o prazo de resposta do Tribunal de Contas para o visto prévio do Centro Escolar de Famalicão, pelo que acredito que poderemos iniciar dentro de dias essa obra.
O que falta fazer do PEDU na componente de requalificação dos espaços públicos estará concluído em termos de projecto até ao final do ano, para apresentação de candidaturas a fundos comunitários.
A redução e controlo da dívida tem sido uma preocupação desde que assumimos funções. Um passo importante foi a aprovação da adesão ao Fundo de Apoio Municipal (FAM), que já foi enviado para visto prévio do Tribunal de Contas. Estamos a aguardar resposta.
Na Área de Localização Empresarial (ALE)de Valado dos Frades vendemos mais um lote a semana passada. Restam cinco de toda aquela área. Quatro deles são pequenos e um é muito grande.
GC – E em que ponto está a ALE de Famalicão?
WC – Já foi indicada à CCDR a pretensão e uma zona para a instalar, mas o projecto ainda não está muito desenvolvido. Temos a indicação da área e trabalharemos ainda este mandato no desenvolvimento do projecto. Posso revelar que é nossa intenção começar a perspectivar o alargamento da ALE Valado dos Frades, que está vendida e a caminho de estar quase toda ela ocupada. Além das empresas que já estão instaladas, há mais alguns processos de obra a decorrer na Câmara para as empresas se instalarem.
GC – Como tem visto o papel da oposição neste mandato? Têm tido uma postura de hostilização ou colaboração?
WC – Tem sido acima de tudo uma postura de não apresentarem soluções, ainda que digam que têm soluções. Mas até hoje, em particular em relação à questão da dívida, que é a mais premente, não tenho visto até agora uma postura de encontrar soluções. Vejo uma tentativa de concentrar críticas nessa matéria, mas sem nunca apresentar soluções e esquecendo o muito que já foi feito pelo anterior executivo que já liderei, e por este, do ponto de vista da redução da dívida, que é efectiva e que nos permitiu, entre outras coisas, ter um plano de investimento bem assinalável, bem demonstrado, bem capaz, já com muita obra feita, numa lógica que é fácil de explicar: ou bem que aproveitávamos o quadro comunitário e fazíamos investimento, ou bem que ficávamos parados e a terra certamente iria definhar ainda mais.
GC – Herda a terceira Câmara mais endividada per capita e já reduziu a dívida em 12 a 13 milhões de euros. Como é que se abateu esta dívida?
WC – Passando os normais clichês de aumentar a receita e diminuir a despesa, o que é um facto é que, do ponto de vista da despesa, o lançamento de um conjunto de concursos para as áreas mais prevalentes e com maiores gastos nos permitiu ter poupanças muito assinaláveis. Depois foi implementada uma atitude muito simplista como pedir três orçamentos para tudo.
Do ponto de vista da receita, houve situações muito positivas, desde logo a candidatura no mandato anterior ao apoio transitório de urgência no âmbito do FAM, que nos permitiu fechar os projectos comunitários do quadro anterior, pagar centros escolares, recifes e CAR Surf. Depois, a postura clara de investir na requalificação do espaço público e numa campanha de promoção muito forte, com base nos eventos de praia e de mar, que nos levou a chegar aos ecrãs LED da Times Square, em Nova Iorque. Tudo isso garantiu uma receita adicional porque estamos na moda, na área do imobiliário, em particular com o IMT e licenciamento urbanístico.
Isso tem vindo a dar-nos uma capacidade financeira diferenciada e que nos permite, apesar da dívida que temos, lançar uma série de obras a concurso e em que facilmente (ao contrário de tempos muito recentes de executivos anteriores aos meus) aparecem empresas a concorrer, o que é sinal de que a Câmara da Nazaré tem bom nome, de bom pagador.
O trabalho não está acabado, é diário. Amanhã dão entrada cerca de 222 mil euros de IMT, o que é bem acima do que é habitual da nossa parte e que vão ser usados para abater dívida.
A gestão financeira e orçamental da Câmara é fundamental para continuar a fazer investimento. Se melhorarmos o espaço público, se fizermos boas campanhas internacionais e estivermos presentes em feiras relevantes do ponto de vista turístico, se por essa via ajudarmos a que o metro quadrado na Nazaré esteja a um preço extremamente competitivo que faça com que mais promotores nacionais e particularmente internacionais queiram desenvolver aqui os seus projectos, se não temos sazonalidade turística, tudo isto converge no sentido de ter mais receita e tornar a Câmara mais capaz do ponto de vista financeiro.
Sem o FAM não é possível continuar esta demanda de investimento, no sentido de continuar a gerar receitas adicionais para abater dívida. Aquilo que hoje a Câmara paga de juros financeiros e de mora comerciais, está muito acima daquilo que com a aprovação do FAM vamos ter que assumir anualmente.
De 2018 para 2019 a Câmara da Nazaré pode passar de um dos piores pagadores, para um dos melhores, que não me dá especial agrado porque sei que era uma questão da dívida, mas é um indicador interessante.
UMA PROMOÇÃO INTERNACIONAL MUITO FORTE
GC – A Nazaré tem sido um dos concelhos que mais tem evoluído em termos de receitas imobiliárias? Existe uma fórmula ou é fruto da imagem?
WC – É fruto da promoção internacional muito forte, de campanhas de marketing do ponto de vista digital fabulosas, fruto de um naipe de eventos que colocam a Nazaré debaixo dos olhos do mundo, o que faz com que os promotores locais, nacionais e internacionais vejam a Nazaré como o espaço ideal para desenvolver os seus projectos, por força da rentabilidade que vão tirar deles e de termos dez a 12 meses de turismo internacional.
Há um elemento adicional nesta questão do dinamismo urbanístico, que é a capacidade que a Câmara hoje tem, por força de um conjunto de medidas que implementei, de alguma urgência na aprovação de processos urbanísticos. Aqueles que hoje em dia são capazes de consensualizar com a Câmara em termos legais o que querem construir, têm condições para, em muito pouco tempo, poderem iniciar as suas obras. É mandatório que estes processos sejam tratados com carácter de urgência porque geram dinheiro e mais-valias ao município.
GC – Ter um governo da cor política do seu partido traz benefícios para a Nazaré ou é indiferente?
WC – O Governo anterior, que não era da minha cor política, teve na pessoa de António Leitão Amaro, à data secretário de Estado das Autarquias Locais, um papel fundamental nesta questão da dívida. Sempre tivemos uma boa relação com o anterior governo.
Naturalmente, hoje em dia temos uma relação fantástica com o actual governo, com o meu bom amigo António Costa como primeiro-ministro, que tem uma sensibilidade muito própria para as autarquias, porque era presidente da Câmara da Lisboa e vê os autarcas como parceiros na procura da melhoria do território.
A escolha, por parte do Governo e do Turismo de Portugal, da Nazaré para representar Portugal nos Estados Unidos da América, é um apoio tremendo.
Sempre tive, da parte do António Costa, a porta aberta para um conjunto de assuntos, numa lógica de intercâmbio entre a administração central e o município. Tem sido um apoio muito importante para o município da Nazaré.
GC – Concorda com a agregação de freguesias que foi feita ou deveriam reverter-se as uniões?
WC – O cenário na Nazaré não se alterou nada depois da chamada Lei das Freguesias. Continuamos a manter as três freguesias.
Mas não é um processo que possa ser feito sentado num gabinete, quase de olhos fechados numa lógica de corte e costura. É algo que deve envolver audição das populações.
Provavelmente algumas das que foram agregadas não seriam desagregadas mediante vontade popular, mas julgo que haverá situações muito prementes em que a Junta é a única ligação à administração central que existe naquele território e isso deve ser ponderado muito seriamente por todos os partidos, tentando gerar uma solução que seguramente não vai agradar a todos, mas que seja a mais aproximada das necessidades reais dos territórios. Acredito que provavelmente algumas seriam revertidas.
Mas também deixo para reflexão uma questão para a qual não tenho resposta: será que há razoabilidade para, a partir de um determinado tamanho de território, haver juntas de freguesia nas sedes de concelho?
GC – É a favor da descentralização de competências que está a ser posta em prática?
WC – Concordo com a lógica de delegar competências. A Câmara da Nazaré é quem investe nas praias, das quais tira nenhum benefício e nas quais tem nenhuma competência de licenciamento. O que está em causa não são as receitas. Pelo menos, no caso da Nazaré não estamos à espera de nenhuma receita extraordinária, mas não podemos aceitar ser nós a investir onde outros ganham dinheiro. Isso é uma lógica que para nós não é aceitável e que, de certa forma, o actual governo está a tentar reverter, que as Câmaras não passem a vida a substituir-se à administração central, mas que executem as competências por delegação do Governo com a devida propriedade.
O porto da Nazaré tem um potencial enorme, mas não há capacidade, por uma questão financeira, para a Docapesca dar a atenção ao porto que a Câmara pode e lhe vai dar. O que é fundamental é o devido envelope financeiro. Acho importante que exista a possibilidade de, com o passar dos anos, haver um fundo de descentralização que possa compensar os casos em que se prove que o envelope financeiro não correspondia ao valor real.
Eu concordo com a lógica da delegação porque em todo o lado em que nos substituímos ao Governo a Câmara tem mostrado que faz muito melhor, até pelo carácter de proximidade. Um exemplo claro disso é o Forte de São Miguel Arcanjo, que está sob gestão da empresa municipal Nazaré Qualifica desde 2014. Começámos com 40 mil visitantes e estamos a fechar Outubro com mais de 230 mil visitantes. Esta dinamização está associada à promoção internacional e aos eventos de surf, mas também com o cuidado que o município tem com aquele imóvel.
Há processos, até do ponto de vista do financiamento comunitário, que já é a Câmara que lidera. Por exemplo, a construção do novo centro de saúde. A obra deveria ser da Administração Central, mas foi o município que lutou por ela e que a fez incluir no Pacto de Desenvolvimento e Coesão Territorial assinado entre a CCDR e a OesteCIM. A obra está a decorrer e o dono de obra é a Câmara por autorização da Associação Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e do Ministério da Saúde.
GC – E quando abre o Centro de Saúde?
WC – A construção está em curso acelerado. O prazo de obra são dez meses, estamos com um mês, faltam nove. É uma obra que desde o início teve um grande trabalho deste executivo para que um edifício com 36 anos que era provisório, fosse tornado definitivamente num centro de saúde com todos os requisitos dos dias de hoje, numa terra visitada por mais de 100 nacionalidades.
GC – Qual a importância de um novo grande hospital para o Oeste? Qual seria a melhor localização?
WC – A Nazaré vive uma dicotomia do ponto de vista da saúde muito interessante, que por vezes nos traz alguns problemas. Tem os cuidados primários sediados nas Caldas e Lisboa e os cuidados hospitalares sediados em Leiria e Coimbra. A Nazaré é o único município do Oeste que na totalidade caminha para o Hospital de Leiria, muitas vezes via hospital de Alcobaça.
Isso quer dizer que não achamos importante uma solução para um bom hospital para o Oeste? Achamos! Até do ponto de vista da afirmação do território oestino.
Provavelmente, não querendo desmerecer o conhecimento dos meus outros 11 colegas, eu venho do sector hospitalar, da indústria farmacêutica, com conhecimentos daquilo que são os vários hospitais que o Oeste tem. E não é à toa que na altura, não como presidente de Câmara da Nazaré, mas como presidente da concelhia do PS, assumi claramente que a solução para os doentes hospitalares da Nazaré passava pelo hospital de Leiria.
É incontornável que o Oeste se assuma como território com um hospital e que clarifique alguma confusão e a não total capacidade de resposta por parte dos hospitais do Oeste.
Sobre a localização, haverá melhores entendidos na matéria do que eu, mas entre uma influência muito marcada a Norte, por Coimbra e uma influência muito marcada a Sul, por Lisboa, teremos de encontrar ali pelo meio a melhor solução.
“NÃO DEIXO A PROMOÇÃO DA NAZARÉ NAS MÃOS DE NINGUÉM”
GC – A ideia de delegar os transportes dos municípios nas CIM pode ser replicada noutras áreas, tornando as CIM verdadeiras entidades supra-municipais?
WC – A delegação nas CIM no que diz respeito aos transportes, tem a ver, entre outras coisas, com uma lógica de economia de escala, que pode ser eventualmente aplicável às concessões de electricidade e outras.
Essa lógica prevalece, tanto ao nível da potenciação da receita, como da minimização dos custos.
Parece-me que uma lógica oestina intermunicipal deve ser cada vez mais trabalhada, mas naturalmente não me parece que os municípios estejam disponíveis para perder competências essenciais para a sua gestão.
A lógica das CIM parece-me extremamente importante, a atitude de um território comum em eixos estratégicos parece-me muito razoável, mas há competências que devem ser sempre executadas por quem mais proximamente as puder fazer.
GC – O turismo é uma das áreas que pode ser desenvolvida a nível oestino e não apenas concelho a concelho?
WC – Estou disponível para isso, como tenho estado para que, quer o Turismo do Centro, quer o Turismo de Portugal, façam a promoção de, entre outros temas, a Nazaré. Não vou é deixar isso nas mãos de ninguém porque acho que esse processo tem de ser liderado pelo município. É o município, sou eu que conheço o meu território, serei a entidade mais indicada, mais bem preparada, para promover o meu território. E depois há coisas que não são possíveis conciliar. Por exemplo, os mercados emissores prioritários para a Nazaré podem não ser para Alcobaça, Torres Vedras, Caldas, Óbidos. Isso faz toda a diferença e já foi discutido a nível de CIM.
Uma lógica de haver uma promoção do território com as variáveis dos 12 municípios assente na CIM parece-me bem e é algo que terá o nosso parecer positivo. O que eu nunca vou deixar de fazer é a promoção do meu território. No próximo ano a Nazaré estará presente em pelo menos três feiras internacionais de turismo – Paris, Madrid e Munique. Estamos a atacar os três mercados essenciais. França e Espanha são os principais mercados e os alemães são o povo que mais viaja.
Depois é importante para nós fazer algumas feiras de forma rotativa, como atacar o mercado do Canadá, não só o da saudade, mas também o canadiano, de onde já recebemos muitas pessoas. Atacar, tal como atacámos este ano, os EUA através da SurfExpo em Orlando, e queremos atacar o mercado brasileiro que é dos que mais nos visita também.
GC – A onda gigante trouxe uma onda de turismo. É este o tipo de turismo que o município quer?
WC – O município quer todo o tipo de turismo. É importante relevar que deve-se à Nazaré, em Portugal e em todo o mundo, que um nicho de mercado do surf chamado ondas gigantes, esteja hoje em dia no mainstream da comunicação. Conseguimos fazer essa alavancagem para a primeira linha de comunicação mundial.
É importante que se perceba que aqueles que vêm ver o surf comem nos restaurantes o nosso peixe e hortícolas, ficam nos nossos hotéis, vão ao farol e viajam no ascensor, que é nos últimos quatro anos o que transporta mais passageiros no país, segundo dados do IMT.
A presença em feiras e a comunicação digital muito forte permitem que possamos estar presentes em vários sectores e em vários nichos do mercado turístico. Há outras variantes, em particular a variante de luxo, do turista mais endinheirado, que numa lógica de trabalho conjunto entre a Câmara e entidades locais do sector privado, é já uma realidade – há restaurantes que são grandes sucessos, alguns deles até bastante recentes, que trabalham quase exclusivamente com estrangeiros.
A segunda habitação com estrangeiros é gigantesca. E aqui estamos a falar de um trabalho mais ou menos articulado entre a Câmara e as entidades do sector imobiliário, como os promotores e os construtores.
Há um projecto que está a ser trabalhado e do qual não quero revelar muito, porque não tenho a certeza de que possa vir a ver a luz do dia, que é apontado a um cliente de luxo e que acredito que será uma diferenciação adicional dentro da diferenciação que hoje em dia vivemos na Nazaré.
GC – O que pode já adiantar sobre esse projecto?
WC – Nada, porque não está dependente do município da Nazaré. Mas posso-lhe adiantar que estamos com uma postura muito agressiva junto de empreendedores que querem montar aqui, por exemplo, novas propostas hoteleiras. A Câmara lançou concurso para uma unidade hoteleira num espaço seu, que foi ganho por uma empresa nacional e que a breve prazo irá iniciar construção. É um hotel na lógica dos bungalows de madeira, com 35 quartos, num espaço que é premium, que é o Parque da Pedralva.
GC – Que outros atractivos tem o município além do surf e das ondas gigantes?
WC – Quando saímos para uma feira e queremos fazer uma degustação levamos peixe-seco, o nosso caviar, e os hortícolas. Está a ser desenhado um conjunto de eventos gastronómicos em época baixa e uma componente gastronómica na presença em feiras, que permitem dar uma diferenciação à Nazaré.
Estamos a trabalhar num novo grande evento desportivo internacional de uma modalidade que nunca se realizou na praia da Nazaré e que é um desporto com presença nas Caldas, que é o rugby. Vai trazer muita gente em época não alta.
A aposta no futebol de praia é muito efectiva e transforma completamente a Nazaré em finais de Maio com 1600 atletas presentes.
A candidatura do culto de Nª Sra. Da Nazaré vai reforçar a lógica que existe do turismo religioso. E estamos a trabalhar no turismo náutico.
Projectos não nos faltam. Sabemos que a nomeada que temos em termos internacionais nos ajuda muito, mas para a qual é preciso termos postos nos territórios, desde a requalificação e ordenamento de espaços públicos à criação de soluções de estacionamento e de parque e soluções de trânsito.
GC – Hoje a imagem de marca da Nazaré já não é os chambres, rooms e zimmers?
WC – Diria que mudou a toponímia. A Nazaré hoje também é conhecida pela lógica do Alojamento Local, o que me deixa satisfeito, até porque tenho uma licenciatura em Gestão paga através do aluguer de quartos nos finais da década de 80, inícios de 90.
Provavelmente a Nazaré tem muitos apartamentos turísticos, com quartos de altíssima qualidade, que batem muitos quartos de bons hotéis pelo mundo fora. Portanto, também continua a ser conhecida por esse alojamento local, sem dúvida alguma, mas não pela imagem da senhora na rua com a placa. Isso mudou um bocadinho.
“Não recebo lições de defesa do património natural»
GC – Mantém-se a intenção de construir a zipline, apesar da contestação?
WC – Tenho de voltar àquilo que disse em sede de Assembleia Municipal. Não recebo lições de defesa do património natural e histórico da Nazaré de ninguém. Tenho muitas medidas tomadas que remetem para essa defesa da herança cultural, patrimonial e natural.
O Sítio tem a proeminência que tem hoje em dia, do ponto de vista das ondas gigantes, muito pelo que foi gerado pelos executivos que lidero. A praia ganhou o prémio como a que melhor cumpre as medidas ambientais a nível nacional.
Em termos de património natural, estamos a tratar da Lagoa do Valado dos Frades. Está a ser feito o projecto e a breve prazo será apresentado e candidatado a fundos.
O importante é que se perceba que o que se está a testar é uma ideia. Não há uma definição exacta. Haverá mediante as propostas de privados no final do concurso e nessa altura é que teremos de ponderar se há o tal impacto visual, se há impacto na encosta e na natureza.
O que está em causa é um teste aos privados no sentido de saber se uma ideia é exequível e que propostas fazem para a executar e depois, sim, iremos decidir. Se acharmos que há impacto, não o vamos aprovar seguramente.
Para mim é surreal ver algumas entidades, representadas por pessoas que a nível pessoal, nos seus negócios, são as primeiras que dão cabo do património histórico da Nazaré, virem defender um suposto ataque ao património natural da Nazaré.
GC – Qual a estimativa de custos para tratar a Lagoa do Valado dos Frades?
WC – Temos a estimativa de que seja meio milhão de euros, mas estamos a falar só nas componentes de arborismo, birdwatching e trilhos em madeira. Falta perceber o que vai custar a recuperação da Lagoa. E falta lançar o concurso para concessão a privados de um pequeno estabelecimento de comida que dinamize aquela área, porque também acho que seria importante criar condições para criar uma praia fluvial em Valado dos Frades, com o qual temos uma ligação muito forte. Estamos em contactos afincados e muito urgentes com o ICNF que tem a jurisdição daquela área, para a dinamizarmos.
GC – O Museu Joaquim Manso será uma obra de Siza Vieira?
WC – A DRCC está nesta fase, em conjunto com entidades conhecedoras da matéria, a elaborar o plano museológico, que é crucial para o arquitecto Siza Vieira decidir o que vai fazer. A minha expectativa é que será uma obra de Siza Vieira. Não tenho nada que me aponte o contrário. Mas antes dessa obra, temos de fazer obras no actual museu e também aí a DRCC, em conjunto com a Câmara, está a dar passos para que possam ser feitas.
Problemas de há 30 anos na Linha do Oeste
GC – A linha do Oeste continua a definhar. Qual a importância de ter uma linha ferroviária num concelho tão turístico?
WC – É muito importante ter uma boa linha ferroviária. Eu sou do tempo de regressar de Lisboa à Nazaré de comboio nos meus tempos de faculdade e aquilo que me desagrada ver é que 30 anos depois os problemas são precisamente os mesmos ou pioraram. Os comboios são os mesmos e a linha está na mesma.
É crucial electrificar a linha e dar-lhe horários condizentes com a necessidade de mobilidade das pessoas. Consideramos o comboio melhor para o ambiente e uma alternativa adicional para transportar uma boa percentagem de potenciais visitantes.
Preocupa-me que se perderam 30 anos. Estamos piores. Os horários são uma miséria e isso acaba por ser uma preocupação para mim. Mas não só do ponto de vista turístico, mas também de escoamento de produtos. A área de localização empresarial do Valado e, no futuro, a de Famalicão, estão junto à linha, que é estratégica no escoamento de produtos para todo o mundo. O comboio pode ser uma alternativa para fazer chegar esses produtos ao destino no estrangeiro ou para os dois aeroportos internacionais e os dois portos marítimos mais relevantes. É crucial para o futuro do país que seja tomada a decisão de investir na Linha do Oeste. Todos nós temos conhecimento que de Caldas para baixo há muita gente que vive no Oeste e trabalha em Lisboa e se calhar na Nazaré também há alguns. Estaríamos também a ajudar Lisboa ao reduzir os automóveis a entrar na capital.
É muito simples. Ninguém descobriu a roda. Se tivermos um caminho de ferro rápido, com boas carruagens, numa linha electrificada, estaremos a ajudar os nossos cidadãos, teremos uma política de mobilidade muito mais assertiva e coerente, estaremos a tirar automóveis de Lisboa e a ajudar o país em termos ambientais.
GC – Caso a linha funcionasse como era suposto, admitiria criar um autocarro que fizesse a ligação entre o Valado e a Nazaré?
WC – Se fosse a última opção e ninguém a assumisse, claro que sim, mas julgo que nem isso será necessário, por uma razão muito simples – julgo que estará criada a breve prazo, com o projecto que estamos a desenvolver com a Câmara de Alcobaça. Esperamos ter no próximo ano implementada parte do projecto de mobilidade suave nas margens do rio Alcoa e que terá um autocarro eléctrico cujo trajecto não passa muito longe da estação de caminhos de ferro. Essa questão está solucionada.
Mas também sei que quem executa o serviço em Valado dos Frades, que é a Rodoviária do Tejo, tendo um potencial de negócio, com uma rede de comboios eléctrica, com mais gente a vir para Valado, havendo a procura, irá ser encontrada a solução.
Ota ou Monte Real? Os dois!
GC – Qual a melhor solução em termos de aviação civil para o país e para a região? Ota, Monte Real ou outra?
WC – Eu aponto as duas como as melhores para o país, numa lógica de descongestionamento do aeroporto da Portela – Humberto Delgado. Este mês saí três vezes do país e aconteceu-me pela primeira vez uma coisa inaudita, que foi o avião de regresso de Roma partir com uma hora de atraso de lá e a justificação não estar em Roma, mas sim em Lisboa, porque o avião da TAP partiu uma hora atrasado de Lisboa.
Não é à toa que a Ota apareceu como primeira alternativa defensável para ajudar no crescimento do aeroporto de Lisboa e parece-me que continua a ser a melhor opção. Muito claramente, é a melhor localização – está perto de Lisboa e não tem as condicionantes das outras localizações apontadas.
Monte Real, sim, mas numa lógica de companhias aéreas lowcost, que sabemos que colocam muita gente em todo o mundo. Seria numa infraestrutura que terá custos, se calhar, quase mínimos e em que há inclusivamente interesse de privados em fazer a obra e de a pagar. Faz todo o sentido ter um aeroporto para companhias lowcost. Faz todo o sentido para a Nazaré, para a região e para Portugal. Estaremos a cumprir um desígnio da região Centro e do país.
É tão importante que, havendo alguma dificuldade de financiamento por força de privados dessa infraestrutura em Monte Real, o município da Nazaré, apesar das dificuldades financeiras que tem, estaria disponível para entrar numa parceria colocando dinheiro na construção do aeroporto.
Se dividirmos o investimento por 100 municípios do Centro, caberá muito pouco a cada um e sairá muito mais rentável a todos nós ter ali um aeroporto.
GC – Vai recandidatar-se a um terceiro mandato?
WC – Claro que sim! Se mudarem a lei e permitirem mais alguns mandatos, cá estaremos para ir a eleições.
GC – Qual o livro que está a ler?
WC – Estou a ler, com muita dificuldade, o último livro do Dan Brown. Mas leio muito mais jornais e revistas do que livros. Os últimos livros que tenho lido são livros técnicos, nomeadamente no âmbito do MBA em Gestão Autárquica. Eu acho que não há noção da quantidade de coisas que um presidente de Câmara tem que ler e da ocupação que temos. Está a ser difícil de ler o livro e não é por culpa do Dan Brown.
GC – Qual o último filme que viu?
WC – Vejo muito cinema, quer em casa, quer em sala, seja na Nazaré ou fora. O último que vi foi o “Soldado Milhões”, na sala do cinema da Nazaré, que é uma sala que foi reactivada no cine-teatro, onde fizemos um investimento muito grande numa máquina de projecção. É serviço público porque não é muito rentável.































