
Presidente reeleito apela à convergência e diálogo num mandato sem maioria. Hugo Oliveira diz que não faria sentido aceitar proposta, mas promete oposição construtiva e colaboração nas matérias fundamentais
Os elementos que compõem os novos órgãos autárquicos no concelho das Caldas da Rainha tomaram posse esta segunda-feira com mensagens de diálogo e convergência, face a um executivo do Vamos Mudar que deverá governar sem maioria, nem acordos de governação. Vítor Marques fez uma aproximação ao PSD, propondo a integração de elementos na equipa executiva, mas o convite será declinado.
“Está tudo em aberto”, disse Vítor Marques aos jornalistas após a cerimónia de tomada de posse, revelando ter iniciado conversações com Hugo Oliveira, numa reunião realizada nesse mesmo dia, e admitindo “a possibilidade de integração de vereadores da AD” na equipa executiva. O objetivo, explicou, “é encontrar pontos de convergência e garantir estabilidade ao município”.
No entanto, a coligação não deverá aceitar a proposta. “Transmiti, pessoalmente, que não devia haver pelouros para os vereadores do PSD. Não iria, no entanto, tomar a decisão sozinho, conversei com os parceiros e entendemos que não devemos ter pelouros, por isso vamo-nos manter na oposição”, disse Hugo Oliveira. O líder da AD sublinhou que a sua bancada “representa 9.320 eleitores e não pode defraudar as suas expectativas”, reforçando que “não faz sentido estar no executivo com pelouros em conjunto com o VM”. Apesar da recusa, deixou a porta aberta a entendimentos em matérias “suprapartidárias” e de “interesse para todos os caldenses”.
Vítor Marques adiantou também que, na quarta-feira, já depois do fecho desta edição, estava agendada uma reunião com o vereador do Chega, Luís Gomes. A definição dos pelouros só será realizada na primeira sessão de câmara.
Quanto ao Chefe de Gabinete a escolha recaiu sobre Pedro Seixas, que era o número quatro da lista do VM à Câmara, no âmbito do acordo com o Partido Socialista. O presidente reeleito disse que há o princípio, desde a anterior candidatura, de as pessoas que faziam parte da equipa puderem integrar o gabinete. “O Pedro Seixas foi deputado na Assembleia Municipal, é uma pessoa que já conhecia e na qual me revejo pela frontalidade e é conhecedor da vida pública”, salientou Vítor Marques, acrescentando estar feliz pelo socialista ter aceite o convite.
No seu discurso de tomada de posse, para este segundo mandato, Vítor Marques afirmou que procurará “diálogo e convergência”, valores que, disse, “sempre caracterizaram” a sua forma de estar. “Os caldenses não conferiram a nenhuma força política uma maioria absoluta. Por isso, é essencial que o epicentro da discussão seja o modo como iremos governar as Caldas da Rainha”, sublinhou no seu discurso. “Os caldenses não perdoarão desvios ou interesses que não visem o sucesso do concelho”, advertiu.
O autarca reafirmou a sua intenção de continuar o projeto iniciado em 2021, assente em três eixos estratégicos — Saúde, Qualidade de Vida e Conhecimento — e num eixo estruturante de governança “com eficácia, eficiência e transparência”. Na saúde, voltou a defender “a urgência da execução do grande plano para o termalismo” e garantiu que continuará “a lutar pela localização do novo Hospital do Oeste nas Caldas da Rainha”, lembrando que o tema “não depende apenas dos municípios, mas exige uma voz firme junto do Governo”. “Estou pronto para defender os interesses da população caldense por todos os meios ao meu alcance”, assegurou.
O presidente eleito destacou ainda projetos nas áreas da mobilidade, do comércio, da habitação e do turismo, sublinhando que “os caldenses esperam ação e consenso que conduzam à transformação do território, não à sua estagnação”. O lema do mandato, afirmou, será “Pensar Global, Agir Local”.
No campo oposto, Hugo Oliveira procurou demonstrar firmeza e disponibilidade para colaborar “sem abdicar dos princípios”. “Na democracia, quem ganha tem a obrigação de governar e quem perde tem o dever de fazer oposição construtiva”, afirmou, defendendo que “a vitória marginal do VM exige uma maior capacidade de diálogo”. O social-democrata lembrou que “62,33% dos eleitores não quiseram Vítor Marques como presidente”, mas reconheceu que “62,89% também não quiseram Hugo Oliveira como presidente”, pelo que “os caldenses esperam que os eleitos saibam lidar com essa realidade”.
“Estaremos disponíveis para colaborar e construir umas Caldas melhores. Não estamos para bloquear, estamos para criar condições para que o concelho cresça”, garantiu Hugo Oliveira, acrescentando que também há linhas vermelhas, entre as quais estão “a suspensão da taxa de saneamento para quem não usufrui do serviço”, “o controlo da dívida” e “a defesa intransigente do hospital do Oeste nas Caldas da Rainha e Óbidos”.
Hugo Oliveira deixou ainda o lamento da ausência do PS de todos os órgãos autárquicos caldenses pela primeira vez em 50 anos de democracia local.
No mesmo tom de compromisso com o diálogo, António Curado, eleito pela lista do VM para a Assembleia Municipal, defendeu “uma atitude ética e serena” no debate político. Recordou a sua luta pelo novo hospital e pela melhoria dos cuidados de saúde, e sublinhou que o movimento que apoia o presidente “é uma garantia de continuidade de progresso para o concelho”, assente “na defesa do Estado de Direito, na proximidade e na confiança entre eleitos e eleitores”.
Do lado do CDS-PP, Sofia Cardoso celebrou o regresso do partido à Assembleia Municipal e apresentou “cinco sugestões” para o futuro do concelho: um compromisso de desenvolvimento sustentável, a digitalização da administração, incentivos à fixação de pessoas, a valorização das freguesias e uma educação ajustada à realidade local. Citando Maria José Nogueira Pinto, lembrou que “o desenvolvimento não pode prescindir de uma identidade cultural e de uma coesão social” e apelou a todas as forças políticas para que “apostem no desenvolvimento assente em paradigmas e não em caprichos políticos”.
Já o representante do Chega, Miguel Matos Chaves, frisou que o seu partido “não será a palavra do poder, mas exercerá o poder da palavra”. Defendeu uma “gestão clara, séria e transparente” e assegurou que colaborará “com tudo o que for benéfico para os caldenses, rejeitando amiguismos e desperdício dos dinheiros públicos”. “Estamos aqui para contribuir positivamente, para melhorar as condições de vida dos que cá vivem”, declarou, acrescentando que “não se está na política para fazer oposição pela oposição”.
A sessão ficou ainda marcada por mais um momento simbólico da despedida de Lalanda Ribeiro, presidente cessante da Assembleia Municipal, que ao fim de 49 anos decidiu retirar-se da vida política ativa. O histórico autarca, que integrou os primeiros órgãos eleitos em 1976, evocou “duas datas simbólicas” que este mandato trará – os 50 anos das primeiras eleições autárquicas e o centenário da elevação de Caldas a cidade – e sugeriu que ambas sejam “motivos de reflexão sobre o futuro do concelho”. Para tal, propôs a realização de um congresso, no âmbito do centenário da elevação das Caldas a cidade, que reúna “caldenses de dentro e de fora” para pensar as Caldas do futuro, destacando que “há muita gente das Caldas, de muito valor, espalhada pelo país e pelo mundo, que deve ser ouvida”. Lalanda Ribeiro agradeceu o trabalho aos autarcas cessantes “pelo trabalho realizado em nome da população” e desejou aos novos eleitos “um mandato com consciência tranquila e satisfeita”.
Lalanda Ribeiro foi aplaudido de pé pela plateia que lotou o Salão Nobre do edifício dos Paços do Concelho. Outro momento que também provocou um aplauso de pé foi quando Hugo Oliveira lembrou José Viegas, que teria sido eleito deputado municipal pela AD, mas que faleceu antes da eleição, vítima de doença prolongada.






























