Disputa entre o atual presidente da Câmara e Hugo Oliveira foi decidida por 140 votos, a favor do Vamos Mudar. AD disse que aceita o resultado mas apresentou queixa por violação de urnas de voto em Nossa Senhora do Pópulo
A sede do Vamos Mudar (VM) abriu portas por volta do fim da tarde num ambiente descontraído, onde afluíam também os seus elementos que tinham estado nas mesas.
Gente de todas as idades juntou-se no espaço do VM (onde se contaram alguns socialistas), na Rua Henrique Sales que, não sendo grande para albergar todos os que se quiseram juntar para assistir, juntos ao que se ia passando no que diz respeito às votações finais. Havia algum nervosismo no ar pois nas conversas entre pequenos grupos falava-se do facto de que estas eram eleições que iriam ser disputadas taco a taco, ou melhor, voto a voto.
Entre um rissol e uma mini, os membros do VM, que contou com o apoio do PS para esta eleição, iam recebendo as informações e logo surgiram algumas boas notícias em relação à conquista de mais uma juntas de freguesia. Motivo para celebração quando se apurou que a freguesia do Carvalhal tinha sido conquistada à AD pois obtiveram 305 votos enquanto que a AD teve 287.
Mas nervos regressaram pois a contagem para a Câmara revelava-se efetivamente muito renhida. E políticos locais como Luís Patacho, apoiante do VM, fazia contas, enquanto recebiam as contagens das mesas ainda em falta.
ervoso miudinho, uma espreitadela aos resultados a nível nacional na televisão e eis senão quando se dissipam todas as dúvidas: VM ganha a Câmara, por uma margem curta, de apenas 140 votos.
Segundo os resultados finais, o VM venceu a Câmara ao obter 37,67% da votação (9.460 votos) vencendo a AD que obteve 37,11 % (9.320 votos). E estourou a alegria, os sorrisos e os abraços. Muitos foram até buscar o material de campanha para poder celebrar com preceito. Altura também para chegar o reeleito presidente da Câmara, Vítor Marques que se juntou à festa cumprimentando, um a um, os seus apoiantes e os elementos mais próximos do núcleo duro do VM. “Esta foi uma vitória sofrida, com luta renhida que só se decidiu mesmo no final das contagem. O mérito é nosso!”, disse Vítor Marques agradecendo a quem acompanhou o VM, nos últimos quatro anos.
“Temos muitos projetos para realizar e desta forma poder contribuir para a minha e nossa terra. É isso que queremos continuar a fazer!”, afirmou o reeleito presidente. Os caldenses, através dos seus votos determinaram que a composição da Câmara que ficará três (VM), três (AD) e um (Chega).
“Estamos igualmente felizes de ter a Junta do Carvalhal!”, disse Vítor Marques. Questionado sobre se será difícil governar, o autarca afirmou que “já estamos habituados…Vamos continuar e a conseguir o que for melhor para o nosso território e em prole do nosso município”.
Reconhece que esta campanha “foi difícil” e afirmou que “é possível fazer política de uma forma diferente como voltaremos a provar nos próximos quatro anos”. A festa fez-se um pouco pela noite dentro mas sem a exuberância dos festejos que deram a vitória ao Vamos Mudar há quatro anos. Nestas eleições, o VM obteve um total de 9.460 votos ao passo que há quatro anos totalizaram 9.037 votos. Ou seja, o VM aumentou o número de votos. Há quatro anos este movimento de cidadãos pôs fim a 36 anos de governação social-democrata.
Hugo Oliveira aceita, mas impugna o resultado
Na sede de campanha da AD – Somos Caldas, na Praça da República, o ambiente ao longo da noite foi sereno. Ao mesmo tempo que se iam assinalando vitórias nas freguesias, em particular a da Foz do Arelho conquistada ao fim de três mandatos de Fernando Sousa, pelo MVC e pelo MIFA, para a Câmara houve sempre noção que o resultado podia pender para qualquer um dos lados e que a diferença seria escassa.
As dúvidas prevaleceram até ao encerramento da última mesa de voto da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, a que tem maior número de eleitores. Do local chegavam informações que, antes de conhecida essa última mesa, era a AD que liderava por cerca de 50 votos, mas, quando a informação final chegou, foi na sede do Vamos Mudar que se fez a festa da vitória. Apesar de vencer a Assembleia Municipal e oito das 12 juntas de freguesia (Alvorninha, Vidais, Landal, Nadadouro, Foz do Arelho, Santa Catarina, Salir de Matos e a União de Freguesias de Tornada e Salir do Porto), a Câmara tinha fugido por escassos 140 votos.
O candidato Hugo Oliveira assumiu o resultado “com tranquilidade e respeito pela democracia”, mas anunciou a apresentação de uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE) devido a alegadas irregularidades ocorridas numa assembleia de voto.
“Fico triste pelas Caldas, mas aceito a democracia como ela é e como os caldenses quiseram decidir”, afirmou o candidato, que elogiou o trabalho da sua equipa e sublinhou que, apesar da derrota, o resultado representou uma grande recuperação face às últimas autárquicas. “Em 2021, com o PS coligado com o VM a diferença teria sido de 14%. Agora, estamos a falar de apenas 140 votos. É uma recuperação, diria eu, quase uma vitória”, destacou.
Hugo Oliveira reconheceu a vitória de Vítor Marques, mas lamentou que as Caldas “tenham perdido uma oportunidade de ter uma nova liderança e um novo rumo”. Ainda assim, garantiu que continuará a trabalhar pelo concelho. “Assumi um compromisso com os caldenses. Dificilmente terei outra atitude senão assumir a minha responsabilidade enquanto vereador e tentar fazer o melhor pelas Caldas”, disse.
Apesar da aceitação pública do resultado, o candidato revelou ter apresentado queixa à CNE sobre o que considera “acontecimentos graves” verificados no ato eleitoral. “Tenho vídeos e relatos de pessoas que viram as urnas abertas na Nossa Senhora do Pópulo, cortaram os selos e meteram as mãos dentro das urnas. Acho que isso é totalmente incorreto”, afirmou, acrescentando que os factos merecem apuramento. “Não ponho em causa a vitória. Assumo a derrota, mas mal seria se, perante um acontecimento destes, não o comunicasse. Trata-se de uma ilegalidade grave durante o ato eleitoral”, sublinhou.
O caso levou mesmo ao pedido de impugnação dos resultados em três mesas de voto. “Fico triste que isto tenha acontecido, porque mancha uma vitória. Fica sempre no ar uma imagem estranha quando o resultado tem apenas 140 votos de diferença”, argumentou
Questionado se com a distribuição de três mandatos para o VM e para a AD, com o sétimo para o Chega, a governação da autarquia é viável, Hugo Oliveira sublinhou que “a política é como a democracia: deve ser aceite como ela é”. Recordou que, no anterior mandato, enquanto vereador, “nunca obstaculizei o trabalho do executivo”, e prometeu uma oposição construtiva. “O mais importante é trabalhar pelas Caldas. É isso que me preocupa, porque não vejo capacidade no atual executivo para o fazer”, atirou.
Apesar da derrota, Hugo Oliveira mostrou-se sereno e agradecido. “Peço desculpa se não consegui atingir os nossos objetivos. Fizemos tudo com as melhores equipas em cada freguesia. O tempo dirá que tínhamos razão. Agora, é tempo de fiscalizar e garantir que as Caldas não ficam para trás”, concluiu.
“É necessário ter dignidade também na derrota”
Questionado sobre o facto de Hugo Oliveira ter feito queixa à CNE, Vítor Marques afirmou que é preciso ter-se dignidade na vitória mas também na derrota”. Diz que o que se passou na secção de voto foi assistido por pessoas de vários partidos e, portanto, Vítor Marques está confiante. E diz mais: se a situação tivesse sido ao contrário, “nós estaríamos aqui na mesma com toda a dignidade a aceitar a derrota pois é uma decisão do povo!”. Por outro lado, é uma atitude que não surpreende Vítor Marques tendo em conta como a coligação da AD se comportou no decorrer da campanha eleitoral, tendo atitudes nem sempre com lisura. De qualquer modo, “eles têm o direito de fazer o que entenderem”, rematou Vítor Marques.


































