
A supressão de comboios e a sua substituição por autocarros, o atraso no projecto de modernização da via ferra e a falta de soluções a curto prazo para a falta de material circulante, levou a Comissão para a Defesa da Linha do Oeste a promover uma vigília na estação das Caldas da Rainha, ao final da tarde de 31 de Maio. A maioria das forças políticas (com excepção do CDS-PP e do MVC) fizeram-se representar no apoio à iniciativa, mas faltou o povo, cingindo-se a perto de meia centena os activistas em defesa desta linha ferroviária que assinala 130 anos de existência.
Às 18h30 de 31 de Maio, ainda os elementos da Comissão pela Defesa da Linha do Oeste ajeitavam a tarja e dispunham-se frente à estação dos comboios, já Amélia Fernandes estava presente para participar na vigília marcada para essa hora. É cliente da CP há mais de 40 anos, utiliza o comboio quase todos os dias entre S. Mamede (Bombarral) e as Caldas e tem “sofrido muito” com os atrasos e supressões de horários que se têm registado.
“Estou imenso tempo à espera, o comboio não vem e é substituído pelo autocarro que demora mais tempo. E na sexta-feira passada [26 de Maio] avariou no Bombarral e teve que ser substituído, acabando por passar com hora e meia de atraso”, contou à Gazeta das Caldas.
Amélia Fernandes regista que a situação tem vindo a consecutivamente a piorar e lamenta que a Linha do Oeste “não mereça um pouco mais de consideração, assim como os passageiros que a frequentam”. Recorda que há uns anos o comboio vinha cheio de pessoas que se deslocavam para o trabalho e agora vem quase vazio porque essas pessoas tiveram que arranjar alternativa.
Mesmo em dia de folga, esta utente fez questão de estar presente na vigília, até às 19h23, altura em que apanhou o comboio rumo a casa.
Frente à estação estava também Maria Helena Ascensão que usa o comboio quando pretende visitar os familiares que tem na Marinha Grande e em A-da-Gorda. Diz que gosta de utilizar este meio de transporte e considera que este faz muita falta pelo que marca presença pois teme pelo encerramento da linha do Oeste. Ao lado, a amiga Margarida Bernardo partilha do gosto de utilizar o comboio e destaca também a valia do preço, uma vez que, por já serem reformadas, apenas pagam meio bilhete nas suas deslocações.
Margarida fala com gosto deste meio de transporte e lembra os tempos em que era “um encanto viajar pela Linha do Oeste e ver os jardins que as estações tinham”, lamentando que agora esteja tudo tão abandonado.
Não houve muitos mais utentes a participar na vigília promovida pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste. Mas quem não deixou de estar presente foram os representantes das várias forças políticas, entre eles o vice-presidente da Câmara, Hugo Oliveira, o presidente da JSD, Rui Constantino, os candidatos à Câmara da CDU (José Carlos Faria), do BE (Lino Romão) e do PS (Luís Patacho) e os candidatos socialistas às duas uniões de freguesia urbanas, Rui Calisto e José Francisco, entre outros. Apenas do CDS-PP e do MVC não houve dirigentes a marcar presença.
ATRASOS NA MODERNIZAÇÃO
O porta-voz da comissão, Rui Raposo, denunciou as supressões diárias de comboios e a sua substituição por autocarros, com os problemas que isso acarreta, em termos de horários para os passageiros. O responsável deu mesmo o exemplo de uma situação que ocorreu no domingo passado em que as pessoas demoraram seis horas para se deslocarem de Lisboa a Leiria. Tudo aconteceu porque o comboio que saía de Santa Apolónia (Lisboa) às 16h30 foi suprimido e os utentes tiveram que apanhar um suburbano até Meleças e depois o comboio das 18h35 para as Caldas, onde chegaram às 20h20. O restante percurso para Leiria teve que ser feito de autocarro, o que demorou mais duas horas.
Rui Raposo referiu que há contradições relativamente às datas de execução do projecto de modernização da Linha do Oeste, realçando que as informações agora avançadas nas reuniões da administração da CP com os autarcas da região, dão conta de um atraso de vários meses em relação ao plano inicial. Considera também “preocupante” que se avance para um plano de modernização da linha quando a administração da CP, numa reunião que teve com a comissão, em Março, os informou que não tinham sido ouvidos no processo para a sua elaboração.
“Não basta termos corrente eléctrica na linha, automatização de agulhas, sinalização e passagens de nível, é preciso haver comboios para cá circular”, disse, acrescentando que não há nenhum plano para a aquisição de composições eléctricas para aqui circularem quando a linha for electrificada.
Rui Raposo defendeu ainda que a situação será complexa se não se começar a preparar já a segunda fase de electrificação entre as Caldas e o Louriçal. “Haverá composições eléctricas até às Caldas e, outra vez, o transbordo de passageiros para composições a diesel das Caldas para cima”, afirmou.
Em suma o dirigente disse que não há respostas de ninguém para os problemas da linha do Oeste: nem da CP, nem da Infraestruturas de Portugal (IP), nem do governo. E por isso teme ver o futuro desta linha hipotecado.
Gazeta das Caldas pediu à CP um comentário sobre esta acção de protesto e sobre o facto do projecto de modernização da IP ter sido feito sem consultar a empresa, mas não obteve resposta.
A transportadora tem assumido que não dispõe de material circulante para assegurar o serviço e admite que o que tem está envelhecido e no fim do seu período de vida útil, avariando muitas vezes e com custos de manutenção elevados. F.F.






























