Todos os partidos e autarcas contra modernização de só metade da linha do Oeste

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LinhaOeste592A notícia de que metade de linha do Oeste fica de fora do plano de investimentos ferroviários do governo não foi bem recebida pelas forças políticas do concelho e da região, que lamentam que o troço norte (Caldas – Louriçal) não seja electrificado.
Da esquerda à direita todos os partidos lamentam que uma parte da linha do Oeste fique transformada numa “ilha” onde só podem circular comboios a diesel enquanto a electrificação avança noutras zonas do país, e prometem pressionar para que o governo decida antecipar a modernização daquele troço.
Na semana passada o governo anunciou um investimento de 106,8 milhões de euros a realizar até 2020 para electrificar a linha entre Meleças (Sintra) e Caldas da Rainha. O total dos investimentos ferroviários até essa data ascende a 2,7 mil milhões de euros. Ficaram a faltar cerca de 100 milhões para que a linha do Oeste ficasse totalmente modernizada.
Para a passada quarta-feira, após o fecho desta edição, estava prevista uma reunião em Loures, promovida pelo ex-presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa (que liderou há cinco anos a Plataforma de Defesa da Linha do Oeste quando se tentou encerrar o troço a norte) a fim de debater a situação desta infra-estrutura ferroviária. Nessa reunião, Costa pretende recolocar na agenda a construção de um atalho entre Malveira e a Gare do Oriente – com passagem por Loures – que permita encurtar a distância ferroviária entre o Oeste e a capital.

Sara Velez
“Convictos de que a segunda fase será concluída”
O investimento de 100 milhões de euros na primeira fase da electrificação da Linha do Oeste é “bem vindo” nas palavras de Sara Velez, dirigente do PS nas Caldas da Rainha, que vê a chegada desta notícia como uma “manifesta vontade do governo actual em dar uma resposta positiva a um anseio legítimo das populações”.
Ainda que os socialistas caldenses defendam que o projecto de modernização só estará completamente concretizado quando a electrificação for efectuada em toda a extensão da linha, afirmam-se igualmente convictos de que “a segunda fase [que abrange o troço norte] será também concluída, dotando o concelho e a região de uma alternativa efectiva ao transporte rodoviário, quer a sul quer a norte”.
Na opinião de Sara Velez, a comunicação da requalificação da Linha é duplamente uma boa notícia tendo em conta que esta é reivindicada pelo Oeste “há décadas” e, até há bem pouco tempo, “parecia bastante ameaçada, segundo informou a Gazeta das Caldas há dois meses”.
A dirigente socialista revela-se também confiante no que diz respeito ao cumprimento dos prazos para a concretização da primeira fase do projecto (com conclusão prevista até 2020).

FotoHugoOliveira“Um problema de coesão territorial”
Para o presidente da concelhia do PSD, Hugo Oliveira “é positivo que vá existir alguma execução, uma promessa que até já tinha sido feita pelo anterior governo”. Contudo, há também aspectos que são alvo de crítica nas palavras do dirigente, que não só lamenta o facto de não haver duplicação da linha ferroviária, mas também o “esquecimento” do troço norte (Caldas-Louriçal), 87 quilómetros que não sofrerão electrificação e onde os comboios continuarão a circular a diesel. “É parte do território que é excluído, tornando-se um problema de coesão territorial”, adiantou Hugo Oliveira, que tão pouco vê com bons olhos o facto da modernização da Linha do Oeste não incluir uma ligação directa a Lisboa com paragem próxima de uma estação metropolitana. “Esta modernização não garante eficácia nem competitividade à Linha, o que é ainda mais lamentável tendo em conta que o comboio é um meio de transporte mais cómodo para quem vai trabalhar todos os dias para a capital”, concluiu o dirigente.

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Fd4-LinoRomao“Interessa que a linha funcione como um todo”
À Gazeta das Caldas, Lino Romão, dirigente do BE das Caldas, lamentou “que não seja feita a modernização de toda a linha do Oeste”. Afirmando que a electrificação da linha até Lisboa é positiva, é “com muita pena” que vê o restante troço não entrar nesta modernização nem ter data prevista para ser modernizado.
“Cumpre-nos agora como parte interessada, como munícipes e cidadãos portugueses que vivemos nesta região, fazer todos os possíveis junto dos mediadores para que, por um lado se concretize esta modernização” e, por outro, que se estenda até ao Louriçal.
“Não faz sentido ficarmos com um apêndice de uma linha completamente anacrónica e com uma oferta desajustada”, defendeu Lino Romão.  “A Linha do Oeste não termina nas Caldas. Interessa que a linha funcione como um todo”.

FotoMargaridaVarela“A ‘ilha’ não nos interessa”
Também a posição do CDS-PP das Caldas é clara: a requalificação da Linha do Oeste deve ser total e não parcial, para que assim seja possível fazer uma deslocação ferroviária “rápida e ecológica”, afirmou Margarida Varela, presidente da concelhia daquele partido. Na opinião da dirigente, a decisão do governo em excluir a electrificação do troço norte deixa a meio o seu objetivo sustentável. “A electrificação potencia a redução do consumo de energia e um menor impacto ao nível da poluição que a longo prazo trará benefícios”.
Mais: só assim, com uma requalificação total, “o transporte ferroviário será uma alternativa ao rodoviário, neste caso à A1 e A8”, defendeu Margarida Varela, que lamenta a degradação de uma infra-estrutura que antes já teve “um papel estruturante no desenvolvimento do território” e agora e está “obsoleta para os passageiros e de fraca utilização para o transporte de mercadorias”.
Esta “ilha” no mapa dos caminhos-de-ferro “não nos interessa”, concluiu Margarida Varela, acrescentando que, pelo contrário, só atrasa a “o desenvolvimento que o Oeste espera e que tanto merece”.

Fd5-VitorFernandesCDU“Aquém das necessidades da população”
Já Vítor Fernandes diz que “desde sempre o PCP defendeu a electrificação de toda a linha do Oeste, de Meleças à Figueira”. Esta meia modernização “fica muito aquém das necessidades da população”, afirmou, antes de garantir que irá fazer o que estiver ao seu alcance para conseguir que o troço Caldas-Louriçal também seja modernizado.
“Esta meia intervenção é, como li na Gazeta, comparável com o caso das dragagens na Lagoa de Óbidos”, em que a primeira fase não faz sentido sem a segunda.
Sobre a data prevista (2020), considerou que “é mais um adiamento”.
O dirigente comunista recordou que “já estiveram para encerrar a linha entre Caldas e Figueira” e que valeu a pena a luta para a manter aberta. Por isso, “esta será mais uma batalha que teremos que travar”, mostrando-se optimista em relação ao desfecho.
Ainda sobre a parte que fica por electrificar, Vítor Fernandes considerou “inadmissível, uma vez que é, porventura, o troço mais rentável, quer em termos de mercadorias, quer em termos de passageiros”.
Recordando a sinuosidade do troço sul, “que precisa de alterações”, afirmou que o troço norte até deveria ser a prioridade.

fd-TeresaSerrenho“Desconfiamos da concretização até 2020”
Em nome do MVC (Movimento Viver o Concelho), a dirigente Teresa Serrenho lamentou a decisão anunciada pelo governo, encarando-a como a prova de que, uma vez mais, “não foi dada devida importância à Linha do Oeste”, um percurso ferroviário que “chegou a ter muito movimento de passageiros e mercadorias”. Face à prioridade dada às rodovias, a gestão desta linha caiu no abandono.
A opção de dividir em duas a Linha do Oeste “não poderá fazer com que o comboio seja efectivamente uma alternativa de transporte eficaz, embora seja muito mais económico e ecológico”, disse.
Embora o governo aponte como meta de conclusão da modernização o ano de 2020, Teresa Serrenho diz desconfiar do cumprimento dos prazos, salientando ainda que esta meia electrificação não corresponde a uma verdadeira preocupação com o aquecimento global e o futuro.

Fd-FernandoCosta“Fundamental novo traçado da Malveira a Lisboa”
Fernando Costa, enquanto antigo líder da Plataforma de Defesa da Linha do Oeste, mostrou-se preocupado com o futuro da linha do Oeste. “Entendo que deve ser toda electrificada e que, para além disso, deve ser feita a ligação da Malveira à Gare do Oriente, passando por Loures uma vez que isso pode reduzir o tempo de viagem em cerca de 40 minutos”, afirmou, acrescentando que “este novo traçado é fundamental”.
Recordou a história desse chamado Arco do Oeste e contou que na quarta-feira (dia 24 de Fevereiro) se realizaria um debate, na Assembleia Municipal de Loures, para o qual todos os concelhos onde passa a linha do Oeste foram convidados.
“É fundamental que todos os municípios se unam, sem protagonismos e sem partidarismos”, exclamou, antes de mostrar o seu apreço à Gazeta das Caldas por ser, o “jornal que a nível nacional mais tem defendido a linha do Oeste”.

FD-RuiRaposo“Justificava-se a sua duplicação”
Rui Raposo, da Plataforma para a Defesa da Linha do Oeste, refere que o facto do processo de modernização incluir apenas o troço entre Meleças e as Caldas, deixando de fora a continuação até ao Louriçal, é um problema uma vez que esta última é a parte mais rentável. “Admitindo que a linha vai ser electrificada de Meleças até às Caldas da Rainha, vamos ter uma situação prejudicial para quem é utente, no seu todo, da Linha do Oeste”, disse, acrescentando que isso representa atrasos na circulação, incomodidade para os passageiros e retira competitividade à exploração relativamente ao transporte rodoviário.
Entende que é necessário que o processo seja revisto para que a modernização da linha inclua todo o traçado entre Meleças e o Louriçal. “Justificaria ainda a sua duplicação na maior parte do traçado, mas já deixamos isso para segunda fase”, disse ainda o dirigente.
Rui Raposo chama também a atenção para o facto de a CP não possuir material a diesel em condições pois o que existe está sujeito a avarias, provocando atrasos.

Sonia_ColacoOFICIAL“Pressionar o governo para que a ferrovia seja modernizada”
O Partido Ecologista Os Verdes defende que o país deve ter uma ferrovia moderna e útil para os seus utentes e que a Linha do Oeste terá que reflectir essa necessidade. Sónia Colaço, dirigente deste partido, destaca que este é um transporte que é amigo do ambiente e que é através da ferrovia que se podem resolver alguns dos problemas económicos do pais, nomeadamente ao nível do défice de petróleo, mas também as questões associadas às alterações climáticas. Também do ponto de vista social este é um transporte que merece destaque, uma vez que serve vários concelhos do território, liga capitais e cidades importantes que têm que ser valorizadas.
Sónia Colaço disse ainda que “não chega” a electrificação de metade da linha, até porque isso não permite transportes eficazes. É necessário, por isso, “pressionar o governo para que a ferrovia seja modernizada de forma digna, sem ser por partes, que não serão suficientes para resolver o problema da Linha do Oeste”. A dirigente dos Verdes referiu ainda que a questão da ferrovia é-lhes tão cara que “já nesta legislatura apresentámos uma questão sobre a linha do Leste”.

 

Paulo Inacio_4079“Não resolve o seu propósito essencial”
Paulo Inácio, presidente da Câmara de Alcobaça, disse à Gazeta das Caldas que “nos moldes actuais este plano não vai ter os resultados pretendidos porque não resolve o seu propósito essencial, que é a ligação de toda a região Oeste com Lisboa”.
O autarca afirmou que é “inaceitável” que o troço entre Caldas e Louriçal não seja electrificado e esclareceu que já havia enviado um “comunicado a todos os grupos parlamentares a solicitar a inclusão do plano de modernização da linha do Oeste no seu todo, e não apenas o troço actualmente previsto, no contexto da discussão na especialidade do próximo orçamento do governo”.
E concluiu com a ideia de que “é de extrema importância para a região que toda a linha ferroviária seja remodelada”.

walter_chicharro_passe_dois“Uma reunião urgente com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas”
Já Walter Chicharro, presidente da Câmara da Nazaré, disse lamentar “profundamente que o concelho da Nazaré fique de fora desta obra estruturante para o país”.
O edil recordou a existência do Parque Empresarial de Valado dos Frades e a sua proximidade com a estação, assim como a importância turística do concelho da Nazaré.
“Numa altura em que cada vez mais se procuram meios de transporte alternativos, como consequência dos preços dos combustíveis, entendemos que a electrificação da linha em toda a sua extensão seria da maior importância para a região”, disse, antes de informar que a OesteCIM “numa demonstração clara de solidariedade com os municípios prejudicados, solicitou uma reunião urgente com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas”.

raul_castro“O investimento ignora Leiria”
Por sua vez, Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, definiu a exclusão do plano de modernização como “uma frustração” pois “o investimento ignora Leiria”.
“Mais uma vez, Leiria não tem o retorno justo em termos de investimento público, tendo em conta a contribuição do concelho e da sua região na criação de riqueza no país”, afirmou.

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