Discutir com as pessoas da Serra do Bouro o plano de pormenor previsto para grande parte daquela freguesia foi o objectivo que levou os socialistas caldenses a realizar na colectividade local mais uma convenção autárquica, que teve lugar na tarde de 12 de Março.
Depois de apresentarem publicamente o plano, os elementos do PS deixaram algumas questões e sugestões à Câmara, sobretudo relativamente ao tipo do empreendimento e à necessidade de um estudo de sustentabilidade da área envolvente.

“Faz todo o sentido que o maior investimento alguma vez feito no concelho seja discutido com as pessoas”, salientou o vereador Delfim Azevedo, que, na tarde de sábado, juntamente com Mário Pacheco e Jaime Neto, fez a apresentação do plano de pormenor da Estrada Atlântica, que compreende uma área de 275 hectares, nas freguesias da Serra do Bouro e Foz do Arelho.
No Centro Cultural e Recreativo da Serra do Bouro marcaram presença muitos socialistas e mais de uma dezena de locais, que mostraram a sua apreensão sobretudo com a impossibilidade de construção nas zonas limítrofes ao plano.
O deputado municipal Mário Pacheco começou por dizer que o país não se desenvolve só à conta da existência de campos de golfe, questionando mesmo se não existirão já campos a mais. Apesar disso, garantiu que o PS votaria sempre favoravelmente a vinda de um investimento deste tipo para o concelho por poder ser um pólo de desenvolvimento.
A área abrangida pelo plano de pormenor é de 275 hectares, que correspondem a 750 propriedades. Existem duas promotoras que têm grande parte dos terrenos. A New World Investments (Portugal), S.A. possui 232 parcelas, compradas ao longo dos últimos 15 anos, totalizando cerca de 100 hectares. Foi a primeira interessada na realização do empreendimento, tendo encomendado o Plano de Pormenor à empresa Plural. Depois desinteressou-se do projecto e a conclusão do trabalho da Plural passou a ser financiada pela promotora Claremont Costa de Prata Developments, que é possuidora de 17 parcelas de terreno, totalizando cerca de sete hectares.
Em finais do ano passado a New World Investments apresentou um novo projecto realizado por outra equipa de especialistas, chefiada pelo arquitecto Bruno Soares. As duas proposta levantaram polémica no executivo, que acabou por escolher a da Claremont, tendo a deliberação sido tomada por maioria, com os votos favoráveis dos vereadores Maria da Conceição Pereira, Tinta Ferreira e Hugo Oliveira. O vereador socialista, Delfim Azevedo, votou contra e o vereador do CDS/PP, Manuel Isaac, absteve-se. O presidente da Câmara e o vereador Rui Correia, do PS, não votarem por não estarem presentes.
A Junta de Freguesia da Serra do Bouro é possuidora de mais de quatro hectares de terreno e os restantes 166 hectares são de proprietários com mais de 10 mil metros quadrados, cada.
O problema está no facto de, segundo Mário Pacheco, haver 205 terrenos cujos proprietários são desconhecidos e existirem 23 proprietários com mais de um hectare. Na sua opinião, deveria ser criada uma associação que fosse a sua voz e os representasse nas negociações a ser efectuadas.
Mário Pacheco destacou ainda que quando estiver completo, o empreendimento poderá contar com 4500 novos habitantes, o que o leva a preocupar-se com os problemas relativos ao abastecimento de água.
“Temos que ser cuidadosos para que a população daqui não venha a ser prejudicada”, disse o deputado socialista. Parte da solução poderá estar na utilização do excedente da ETAR das Caldas (após ser feito o tratamento terciário) para a rega do campo de golfe, tornando-se assim este mais sustentável.
Mário Pacheco reclamou ainda a necessidade de empenho da Câmara das Caldas para que o projecto ande para a frente e considera fundamental que a primeira fase, que tem uma calendarização de 30 anos, seja encurtada, pelo menos, para metade. A estimativa dos custos das infra-estruturas nesta primeira fase é de 11 milhões de euros.
LOTEAMENTO OU CONDOMÍNIO FECHADO?
O arquitecto Jaime Neto falou da importância do planeamento e destacou que a zona teria muito a ganhar com a criação de um aeroporto em Monte Real. Considera que faz falta um plano de urbanização para a Foz do Arelho e Serra do Bouro, que englobe toda a zona junto à área do plano e destaca que as políticas a desenvolver “devem acautelar que as pessoas destas localidades tenham boas vias de acesso”.
O abastecimento de água, em que grande parte será feita pelo sistema municipal, também levanta dúvidas a Jaime Neto, que diz mesmo que “não é credível que um investimento deste género esteja dependente de um sistema que pode ter falhas”.
Algumas das pessoas presentes na reunião levantaram dúvidas relativamente ao tipo de empreendimento a construir, se será loteamento ou condomínio fechado, como é o caso dos empreendimentos que estão a ser construídos no concelho de Óbidos, na zona do Bom Sucesso.
O PS incentivou as pessoas a participar na discussão pública do plano, que decorre até 1 de Abril. De acordo com o vereador Delfim Azevedo é fundamental aproveitar estes momentos para também criar mais valias no espaço em redor. “As pessoas que têm condições para comprar dentro do empreendimento só sairão se cá fora existir uma zona aprazível e produtos que possam comprar e não encontrem noutros sítios”.
E para que esse desenvolvimento e criação de riqueza seja possível é necessário “restaurar casas e ocupá-las com outro tipo de negócios, assim como construir novos espaços”.
Presidente da Junta da Foz quer mais informação sobre o plano
Fernando Horta, presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, que engloba a grande parte da área de intervenção do plano (mais de 80%), diz que não possui grandes informações sobre o seu conteúdo. Por isso, vai solicitar à autarquia para que seja feita uma apresentação pública naquela freguesia.
O mesmo autarca disse ainda que pretende analisar de detalhe o plano de pormenor com o executivo da Junta e depois com a assembleia de freguesia, tomando a seguir posições durante a discussão pública, que termina a 1 de Abril.
Já para o presidente da Junta de Freguesia da Serra do Bouro, Álvaro Baltazar, este plano de pormenor, que permitirá a criação de um empreendimento turístico, terá impactos positivos, mas também algumas “contrariedades”.
O autarca destaca a criação de postos de trabalho directos e também indirectos, na sua construção e manutenção, assim como o aumento da população residente na área envolvente. “A nível económico dará um maior dinamismo à localidade”, diz Álvaro Baltazar, que vê com satisfação a implantação de um “empreendimento de qualidade” em parte desta freguesia.
Contudo, o autarca reconhece que a zona abrangida pelo plano era uma zona natural, com a maioria dos terrenos cultivados. “Do que conheço do plano não terá um grande impacto negativo porque o índice de construção é baixo e concentrado em aldeamentos”, explicou o também advogado que, no âmbito da sua actividade profissional, é representante das duas promotoras interessadas em construir um empreendimento naquele local – a New World Investments (Portugal), S.A. e a Claremont Costa de Prata Developments.
Álvaro Baltazar destaca que as pessoas da freguesia se encontram “relativamente cépticas” porque há muito tempo que se fala da construção deste empreendimento. Contudo, destaca que se trata de mais um passo para que este, daqui por algum tempo, se venha a concretizar.
Refere ainda que uma das suas preocupações e de grande parte da população, era a de ali se criar uma zona exclusiva, fechada, como acontece nos resorts do Bom Sucesso. Contudo, das conversas que teve com a equipa projectista, considera que a acessibilidade está salvaguardada, até porque está prevista a manutenção dos percursos existentes e a criação de caminhos pedonais e ciclovias.































Alguém acredita que os responsáveis do empreendimento turístico vão deixar alguém atravessar o seu terreno? Ponham os olhos no Belas Clube de Campo, nos arredores de Lisboa…