“Se ganharmos, estamos prontos para governar”

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A manutenção do hospital nas Caldas é tema central para Luís Gomes

Candidato pelo Chega à Câmara das Caldas, Luís Gomes acredita na eleição e que o crescimento do partido a nível nacional pode até levar a uma surpresa. A luta pelo novo Hospital é uma das bandeiras. Defende ainda investimento na segurança e no apoio às empresas para fixar jovens no concelho

Foi militante do PSD até muito recentemente e, dias depois de se ter desfiliado, com fortes críticas ao candidato Hugo Oliveira, apresentou-se como candidato do Chega. O que o move?

O que me moveu foram principalmente dois motivos, que aliás apresentei publicamente na carta de desfiliação. Primeiro, um motivo interno. Quando se perde umas eleições, tem que se fazer um trabalho de introspeção para verificar o porquê da derrota, procurar soluções e tentar fazer diferente. Se vamos repetir os mesmos erros, não podemos esperar resultados diferentes.

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O segundo motivo foi a situação do Hospital de Caldas da Rainha. Quando o [Luís] Montenegro veio às Caldas durante a campanha para as legislativas, qual era a esperança de todos os caldenses? Era que ele trouxesse a notícia de que o hospital ficaria nas Caldas da Rainha, entre Caldas e Óbidos. Isso foi o que encheu a Expoeste. Mas não tivemos resposta. O Hugo Oliveira disse zero sobre esse assunto, nem sequer perguntou. Se ele, como deputado, presidente da distrital e candidato à Câmara, tivesse obtido o compromisso do futuro Primeiro-Ministro de que o hospital ficaria entre Caldas e Óbidos, o problema estaria resolvido.

A situação mais importante para Caldas da Rainha é o hospital. Temos mais de mil pessoas a trabalhar direta e indiretamente com o hospital, e a economia das Caldas roda à volta do hospital distrital e do hospital termal. Senti que do PSD vinha zero sobre este assunto, que havia medo de falar porque o PSD afundou nos resultados das legislativas… O problema são os círculos distritais e a preocupação em manter posições de poder em vez de defender os interesses dos caldenses.

O Chega, pode fazer esse braço de ferro pela construção do hospital nas Caldas?

Quando senti que não conseguia defender aquilo que é fundamental para a cidade – o hospital – dentro do partido onde estava, percebi que não podia continuar lá. O partido não existe se não defender os interesses da cidade que representa.

Recebi o convite do Chega porque reconhecem que não sou de águas mornas, tenho conhecimento da cidade e não tenho medo de nada nem de ninguém, porque não estou agarrado ao poder.

É importante esclarecer que tenho independência financeira. Na ACCCRO recebo zero euros desde 2019, estou lá a servir os caldenses. Trabalho no IFAP como técnico superior, onde entrei por concurso público em 2019, durante o Governo PS de António Costa, por mérito próprio.

Quanto ao Chega conseguir fazer esse braço de ferro: com 60 deputados na Assembleia da República, o Chega tem uma força que pode ser decisiva. Se o PSD, com os seus 90 deputados, não o conseguiu fazer, e se o PS não o quer fazer, o que é que sobra? Sobra o Chega.

Neste momento, é a única força política nacional que pode defender esta causa. O hospital é um assunto mais importante do que tudo o resto, e com a força parlamentar do Chega em Lisboa, podemos conseguir o que os outros partidos não quiseram ou não conseguiram fazer.

A segurança é outra das bandeiras da candidatura. O que é que o município das Caldas deve fazer nesta área?

A segurança é uma bandeira do Chega a nível nacional desde sempre. Agora todos os outros partidos querem ser donos da segurança, quando foram eles que deixaram entrar imigrantes sem critério.

Não vou falar de dados específicos porque estou no Conselho Municipal de Segurança e seria pouco ético da minha parte revelar dados sensíveis dos efetivos da PSP. O que posso dizer é que não é só perceção de insegurança, [Caldas] está efetivamente mais insegura e as pessoas veem isso na rua.

A segurança tem que se perceber através da sociologia do território, coisa que esta Câmara nunca entendeu. Quando se quer limpar a cidade, tem que se perceber onde e como fazer essa limpeza. Não se pode simplesmente empurrar os problemas de um lado para outro, como aconteceu com a deslocação de populações dos Arneiros para junto da Fonte Luminosa.

Tem que haver soluções através da ação social. As pessoas têm que ser integradas, reintegradas, acompanhadas. Se marginalizarmos as pessoas, se as colocarmos na pobreza, naturalmente vão ser um foco de insegurança para todos nós.

O projeto de videovigilância da Câmara atual é suficiente?

A videovigilância é fundamental para ajudar os efetivos policiais, especialmente quando há poucos.

Temos que começar fase a fase, olhar para a cidade, perceber onde estão os focos de problemas e fazer um projeto evolutivo.

Quanto à Polícia Municipal, numa primeira instância serve para cobrar multas. Mais importante é fazer pressão junto do Ministério da Administração Interna para ter mais efetivos da PSP. Mas depois temos o problema de como alojar os polícias nas Caldas, se viver aqui é caro. O Ministério podia ajudar criando, como antigamente havia no Bairro das Morenas, um bairro para polícias, para facilitar essa primeira instalação e permitir que alguns acabem por se fixar na região.

Os ordenados dos polícias são miseráveis, e estas são as pessoas que fazem a nossa segurança e se põem à nossa frente para nos proteger no dia-a-dia.

Falta de habitação que é um problema geral. Qual deverá ser a política municipal para a habitação?

A nível habitacional temos várias problemáticas. Todos querem viver no centro da cidade, mas o centro nunca vai conseguir comportar todas as pessoas.

O problema vai mais atrás, vai ao PDM [Plano Diretor Municipal]. Nas próprias aldeias as pessoas não conseguem fazer a sua casa. Nos territórios rurais o terreno não falta e é barato, mas o PDM não permite construir. É o PDM que está a empurrar as pessoas para dentro dos centros urbanos.

Quando o PDM empurra para o centro urbano e as pessoas têm dificuldades no acesso ao crédito bancário, naturalmente os preços sobem. O problema tem que ser resolvido no PDM.

É também preciso haver políticas de habitação acessível para jovens que se queiram fixar aqui. Temos muitos prédios degradados, incluindo prédios do próprio município, que podem ser a solução. Por exemplo, o prédio do Charuto podia ser reabilitado para habitação juvenil, bem integrado, com estacionamento próximo, dando soluções para quem, numa fase inicial da vida, não consegue logo comprar casa própria.

Como pode um jovem comprar casa se não tem os 10% necessários para o crédito? O município pode ajudar criando soluções de habitação temporária para a pessoa começar a ganhar dinheiro, poupar, e depois pedir crédito para adquirir imóvel próprio. Mas é preciso ter esta sensibilidade e conhecer o mercado.

 

O atual executivo apresentou um master plan para o termalismo. Concorda com o projeto ou tem uma visão diferente?

Se somos Caldas da Rainha, se defendemos as termas da nossa cidade como nossa bandeira, naturalmente que o nosso caminho tem que passar sempre pelo turismo e pelo termalismo. Mas também não podemos esquecer o resto. Claro que concordo com a aposta no termalismo, seria contraditório da minha parte não o fazer.

Agora, antes de me pronunciar especificamente sobre esse documento, tenho que dar às pessoas a oportunidade de me elegerem e depois ler de A a Z, analisar todos os indicadores económicos, ver o que está montado em todos os aspetos – económicos, sociais e outros -, para depois poder dizer se a Câmara está preparada para o executar.

O caminho deve ser pelo termalismo, disso não tenho dúvidas.

Outra das bandeiras do Chega é o ambiente. Como vê os problemas na Lagoa?

A Lagoa de Óbidos era o problema eterno há 40 anos. Agora, como a Lagoa foi desassoreada, já deixou de ser um problema dessa natureza. Mas existe ainda um problema. A Lagoa não está saudável. Os pescadores não conseguem ter acesso adequado à pesca, que é a sua forma de sustento. A nível de atividades náuticas, houve alguns cortes à atividade náutica que estão a impedir muito do potencial que a Lagoa tem.

Quanto à dragagem, não sou especialista nesta área. O “achismo” não fica bem nos políticos, e as pessoas já não gostam disso. Não posso chegar aqui e dizer que acho que a dragagem está mal feita sem ter conhecimento técnico.

Agora, as pessoas com quem contacto, os pescadores que vivem há gerações da Lagoa, dizem que está pior e que não funciona como deveria. Depois, a nível de cheiro, mosquitos e outros problemas, sabemos que se funcionasse de outra forma seria possível que a Lagoa tivesse maior potencial económico.

A Lagoa é sempre lindíssima, é sempre a nossa Lagoa, mas é importante diversificar a nossa economia. A nível pesqueiro, de turismo, de desportos náuticos. Há coisas que têm que ser resolvidas para conseguir fazer coabitar tudo isso.

Caldas é Cidade Criativa da UNESCO há 4 anos, este potencial está a ser bem aproveitado?

A cidade nasceu por criativos, é uma cidade com criativos. Temos o exemplo do Rafael Bordalo Pinheiro. Temos a ESAD, mas depois não conseguimos integrar quase ninguém da ESAD na economia das Caldas. Como é que podemos dizer que somos criativos se não conseguimos integrar os nossos formados com a indústria e as empresas, dando emprego a quem se forma aqui? Somos cidade criativa só porque temos uma ESAD e 16 museus? Uma cidade criativa é muito mais do que isso.

Uma cidade criativa pode definir-se de uma forma simples: é o sítio onde podemos nascer e morrer sem nunca precisar de sair para outra cidade. Conseguimos fazer tudo nela. Um exemplo? Oeiras. As pessoas que nascem em Oeiras podem viver lá a vida toda sem precisar de ir a Lisboa, tem lá tudo. Tem universidades, tem cultura, tudo bem integrado. Não é só dizer que somos cidade criativa. Temos que conseguir garantir a atração económica para essas pessoas. Não vamos exportar jovens que formámos com os nossos impostos.

Como é que Caldas da Rainha se pode desenvolver a nível económico?

A nível económico temos várias problemáticas. Primeiro, a zona industrial. Perdemos a oportunidade de ser quase o que a Marinha Grande é hoje. A Marinha Grande emprega imensos criativos na indústria dos moldes. Temos que criar indústria criativa. Se temos a infraestrutura que forma as pessoas com boa qualidade, temos que conseguir atrair empresas do setor.

A nível do turismo, temos o turismo termal. Temos a situação dos Pavilhões do Parque, que a Visabeira deixou em águas de bacalhau.

O nosso comércio, graças a Deus, com o Covid não morreu, mas não está famoso. Temos gigantes como a internet e as grandes superfícies a ameaçá-lo. Se não existir trabalho profundo para o comércio tradicional, vamos ter problemas, porque as pessoas estão a envelhecer.

Depois temos a agricultura, uma agricultura em expansão, mas também temos que criar condições para isso. Temos a barragem de Alvorninha que não apareceu. Como é que queremos promover a agricultura se não promovemos as práticas agrícolas e a água para a agricultura? Se a média de idade de um agricultor é muito perto dos 60 anos, temos problema.

Temos o mercado semanal, que ainda vai funcionando mas tem problemáticas para resolver. A Praça da Fruta está a definhar porque os vendedores estão a envelhecer, e é um motor turístico da cidade, é o nosso postal. É importantíssimo potenciar a nossa agricultura.

Depois temos o unicórnio da tecnologia, a Tekever. Não conseguimos captar polos universitários para alimentar essa indústria? Temos que fazer trabalho para os potenciar e ajudar. Se é preciso criar condições, um aeródromo, para eles fazerem o seu trabalho, a Câmara tem que procurar terrenos.

Nas Caldas temos capital humano de excelência e depois exportamo-lo. Temos que reter talentos. Se os retivermos, conseguimos criar economia. É preciso arranjar forma de dar aqui o primeiro emprego, pequenos gabinetes para empresas, apoio, incubadoras para jovens empresários. Senão, pagamos-lhes tudo ao longo da vida escolar e depois damos-lhes o passaporte para irem trabalhar para fora porque não temos emprego para eles cá.

O Chega tem vindo a crescer a nível nacional, o que será um bom resultado para o Chega nas Caldas da Rainha?

O sentimento que existe neste início da pré-campanha é que podemos eleger um vereador, o que faria do Chega o fiel da balança. Para a cidade, neste momento esse seria um bom resultado, porque o Chega ser o fiel da balança significa poder governar com estabilidade.

Mas a força que vimos na nossa apresentação dos candidatos, quando diziam que estávamos sozinhos, tivemos um jantar, numa quinta-feira, em que juntámos mais de 200 pessoas para ouvir política, muitas delas que nunca estiveram ligadas à política.

Depois, para terminar com a cereja no topo do bolo, o Chega a nível nacional vai à frente nas sondagens. Por isso, o que numa fase inicial seria um vereador como fiel da balança, neste momento poderemos ter mais. Podemos ambicionar mais.

Estatisticamente, desde o 25 de Abril, só 20 câmaras em Portugal não conseguiram ser reeleitas à segunda vez. A pessoa que normalmente está no poder continua no poder. Mas neste momento está tudo em aberto, com a campanha positiva que vamos fazer, isto pode desenvolver-se e, eventualmente, podemos ter a surpresa. E uma coisa posso afirmar, se tivermos a surpresa de ganharmos, estamos prontos para governar, porque temos um projeto.

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