Saúde no Oeste vai além do novo hospital, mas este é uma questão central

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Sessão debateu os principais problemas da saúde na região

Miguel Guimarães revelou que governo PSD vai reavaliar localização e que a construção do hospital é uma das prioridades do executivo

A concelhia do PSD organizou no passado dia 24 a conferência Estado da Saúde no Oeste. O novo hospital do Oeste foi um dos temas centrais, com os especialistas convidados, a médica Joana Louro e o membro do grupo parlamentar do PSD e antigo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a defenderem que a localização Bombarral não serve os interesses da população. Mas questões como o serviço de urgências, a maternidade e os cuidados de saúde primários também foram abordados.
Hugo Oliveira, presidente da distrital do PSD de Leiria e deputado na Assembleia de República, abriu a sessão lembrando que a saúde é “uma das maiores preocupações dos nossos tempos”. “Para garantir que tenhamos qualidade de vida, é preciso garantir os cuidados primários, mas também as condições para que os profissionais trabalhem e possam garantir este cuidado”, disse. Mas a saúde é também “um pilar da nossa sociedade e do nosso concelho das Caldas da Rainha”, acrescentou, para depois introduzir a debate os convidados da conferência.
A médica internista Joana Louro começou por falar da questão do encerramento das urgências como um mal necessário. “Não há hospital nenhum, não há médico nenhum que faça urgência, que goste de ver a sua urgência fechada ao CODU, se nós fechamos não é porque não queremos receber os doentes, é porque precisamos de assegurar com segurança os cuidados médicos aos doentes que entram, e um doente que entra com dois internistas não terá os cuidados médicos diferenciados que precisa. Isto não pode ser uma guerra entre entidades, tem que haver respeito pela segurança e a qualidade assistencial”, afirmou.
Se há problemas no CHO, Joana Louro advertiu que falar de saúde no Oeste não se pode cingir ao novo hospital, apesar de ser “inequívoco que precisamos de um novo hospital”, porque “os cuidados de saúde primários são uma área altamente carenciada na nossa zona”, porque há uma janela de oportunidade que se pode estar a perder na atração de jovens médicos que estão a sair de Lisboa devido ao custo de vida “incomportável”. Mas, sem novo hospital, “não temos chamariz para atrair novos médicos”, defendeu.
Começando pela urgência, Joana Louro dirigiu-se aos políticos para pedir uma mudança de mentalidade. “Não podemos ter uma urgência ao pé de cada porta”, advertiu, argumentando que ter uma urgência no hospital das Caldas e outra no de Torres Vedras “é insustentável”, tanto a nível financeiro, como dos recursos humanos. “Nós estamos a trabalhar abaixo dos limites de condições de segurança, serviços que exigem 24 horas são trituradores de pessoas”, alertou.
Miguel Guimarães elencou alguns problemas no CHO, desde a falta de recursos humanos e de equipamentos à própria infraestrutura, mas também ao nível de especialidades que deveriam existir na região para evitar que os pacientes tivessem que rumar a Lisboa. Isso levou-o ao novo hospital e a três decisões da antiga Ministra da Saúde, Ana Jorge, em três momentos diferentes, com três resultados diferentes quanto às necessidades do Oeste. Miguel Guimarães disse que o grupo parlamentar do PSD “invocou erros que existem erros no próprio relatório da doutora Ana Jorge” e que a localização do hospital será sempre uma decisão do governo, acrescentando que esta pasta “é uma das prioridades” do executivo de Luís Montenegro e que será feita uma reavaliação para tornar a decisão definitiva.
Para Joana Louro, a localização Bombarral é um erro e o perigo, aponta, é que a maior parte dos médicos já não quer saber onde, quer é um novo hospital. “É o risco deste massacre que tem sido esta demora na decisão”, disse, revelando ser “absolutamente contra” aquela localização. “O hospital tem que servir os utentes e esta solução não serve a maioria das pessoas. Tem que se respeitar a facilidade de acesso e dar condições às pessoas que para lá vão trabalhar, o que não acontece sem bons serviços para se viver, conviver, ter a parte lúdica e uma parte imobiliária capaz”, argumentou.
Fernando Costa, antigo presidente da Câmara das Caldas, acrescentou que tirar o hospital das Caldas seria lançar “uma doença grave” à cidade e tirar-lhe a sua identidade. Já Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos, salientou que o estudo validou Bombarral por uma diferença de 17 segundos, mas para ir a pé da estação de comboios do Bombarral ao local escolhido são 29 minutos, quando a solução Caldas/ Óbidos permite a construção de um terminal ferroviário. “Só entendo a decisão do anterior ministro no sentido tentar fazer alguma coisa pelo Bombarral, que tem estado estagnado”, disse.
Respondendo a uma questão de Fernando Tinta Ferreira sobre a possibilidade de reverter a reorganização que juntou na mesma entidade os centros hospitalares norte e sul, Miguel Guimarães defendeu que é algo que o governo “deve fazer”. O deputado defendeu que o atual modelo de ULS não funciona e que este foi pensado para um hospital e os centros de saúde à volta e não para uma unidade territorial tão grande como o Oeste.
Miguel Guimarães disse que rede tem que ser reavaliada e deu como exemplo as maternidades do Porto. Como no período noturno há menos partos, ficam abertos apenas as unidades necessárias para garantir o serviço. Aproveitando a deixa, Joana Louro alertou que não vai ser possível no futuro ter serviço de maternidade em Leiria, Santarém e Oeste ao mesmo tempo, por uma razão de otimização de recursos e qualidade de serviço. A médica realçou que a maioria das urgências de obstetrícia, na realidade, não o são e ocupam recursos necessários para melhor cuidar das verdadeiras urgências. Pelo que é necessário atuar também na educação para a saúde.
O mesmo acontece em relação aos médicos de família. Tanto Joana Louro, como Miguel Guimarães, realçaram que nenhum país da Europa tem médico de família para todos os utentes. O que é urgente é priorizar quem precisa mesmo de ter médico de família, nomeadamente as grávidas, as crianças, os doentes crónicos e os idosos. ■

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