Santa Catarina é uma das freguesias do concelho com mais baixa taxa de natalidade e das que mais população tem perdido, apesar de possuir vários equipamentos públicos e espaços desportivos que incluem uma piscina municipal. Só que esta deu mais de 25 mil euros de prejuízo e, a 3 km, na Benedita há outra maior.
Rui Rocha, que vai no segundo mandato, não concorda com a fusão das escolas de Santa Catarina com a Bordalo Pinheiro e questiona os argumentos de Tinta Ferreira para essa decisão.
Santa Catarina tem na cutelaria o seu ex-líbris e o ganha pão de quase meio milhar de pessoas, mas a agricultura e a agropecuária são áreas que também têm um papel relevante.
Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt
GAZETA DAS CALDAS: Quais foram as promessas eleitorais para este mandato que já conseguiu cumprir?
RUI ROCHA: Temos feito a repavimentação das ruas e até ao final do mandato esperamos ter toda a sinalização e toponímia da freguesia colocada. É muito importante porque tinha grandes lacunas.
Não comprámos um roça-caniços, mas fizemos um protocolo com um freguês que já tinha o tractor e adquiriu o roça-caniços. Criámos um part-time e a freguesia fica com esse serviço assegurado.
Está em fase de concurso público a construção de uma rotunda junto ao Choupal, que irá certamente resolver o grande problema de segurança e de trânsito na EN360, embelezando, para quem vem de Alcobaça, a entrada da vila e do concelho.
Está em marcha a criação da Associação de Cutileiros de Santa Catarina e Benedita, ou Benedita e Santa Catarina (o nome ainda está em discussão), que terá nove associados, que serão maioritariamente de Santa Catarina.
E vamos ter um posto da loja do cidadão na sede da freguesia.
GC: E o que falta cumprir?
RR: Queremos construir um monumento ao cutileiro porque a cutelaria é o que nos distingue de qualquer outra freguesia. Neste momento estamos a sondar qual o formato do monumento, que irá avançar ao mesmo tempo que a rotunda.
Também ainda não conseguimos fazer a recuperação dos parques infantis, que agora passaram para a competência da Junta com a colaboração da Câmara em 50%.
Foi feita uma proposta para a reabilitação do centro histórico da vila, onde temos muitas casas devolutas, grande parte delas identificadas. Esta proposta é integrada nas ARU (Áreas de Reabilitação Urbana) que a Câmara está a identificar.
A limpeza das linhas de águas também ainda está por concretizar.
Temos um grande objectivo que é a intenção de criar um parque de merendas e um percurso de manutenção no ponto mais alto da freguesia, a 230 metros de altitude, com vista para o mar. É no Cabeço do Castelo onde está o Castro de Santa Catarina, que já foi intervencionado com algumas escavações. É um projecto que estamos a levar muito a sério, mas que ainda está na fase das condicionantes do terreno, visto que grande parte deste está em REN e RAN.
“Já tivemos mais de 5000 habitantes e agora temos 3029”
GC: Quais são os principais problemas da freguesia?
RR: O maior problema da freguesia é a natalidade, que depois se reflecte na falta de fixação das pessoas, não termos jovens, o envelhecimento da população…
Nos censos constatámos que Santa Catarina é das freguesias das Caldas com mais baixa natalidade e das que mais população tem perdido. Já tivemos mais de 5000 habitantes e actualmente [Censos 2011] temos 3029.
GC: Como se explica isso?
RR: Acho que não será pela interiorização da freguesia no concelho ou pela falta de atractividade, uma vez que temos várias estruturas: centro de saúde, lar, farmácia, instalações desportivas, entre outras.
Não será por falta de trabalho porque temos as cutelarias, que só em Santa Catarina empregam directa ou indirectamente 450 pessoas. E temos a agropecuária, a agricultura e os serviços.
Talvez pela proximidade à Benedita, onde existe uma maior oferta de trabalho, principalmente na área dos serviços, tornando-a mais atractiva.
Outra explicação é o facto de termos muitos jovens que foram estudar para a universidade, aumentando o nível de literacia, mas que não encontram aqui mercado para as suas qualificações.
GC: E o que tenciona fazer para combater estes problemas?
RR: Há 30 anos que se fala de um projecto de urbanização jovem para a freguesia, mas há poucos terrenos de construção e sabemos que a prioridade, a nível nacional, é reabilitar e não construir de novo. Mas nós, em parceria com a Câmara, estamos na fase final de adquirir um terreno com capacidade para 24 lotes que vamos divulgar, para que os jovens que estão nas grandes cidades se possam fixar aqui.
“Na Benedita temos uma piscina muito maior, a três quilómetros daqui…”
GC: Qual é o orçamento da Junta e quais são os principais gastos?
RR: O orçamento ronda os 220 mil euros, para cobrir uma área de quase 20 quilómetros quadrados e uma população de 3029 pessoas. Só temos a dotação orçamental e a delegação de competências. Fora o FEF e os acordos com a Câmara, temos uma sala para alugar para formações, mas que tem um rendimento variável e ultimamente tem tido uma utilização quase nula. Por vezes, temos o dinheiro do cemitério, que é uma receita própria da Junta.
Em termos de gastos, o que nos leva mais dinheiro é a manutenção de caminhos, vias e valetas, dos abrigos de passageiros e da sinalética. Depois também temos as despesas com pessoal, os consumíveis e os seguros, para além dos prejuízos com a piscina, que são pagos 25% pela Junta e o restante pela Câmara. No último ano a parte da Junta foi de cerca de 7 mil euros.
O orçamento é fácil de controlar em todas as rubricas menos na piscina, que é variável.
GC: E qual a importância de manter um equipamento que deu mais de 25 mil euros de prejuízo no último ano?
RR: É muito importante para toda a população. Não só para os mais novos, como também para os idosos que frequentam aulas de hidroginástica e outras actividades.
É um grande benefício ter uma piscina municipal, mas penso que aquando a sua construção não foi feito um estudo a longo prazo da sua viabilidade. Apesar de não defender que um serviço público tenha de ser auto-sustentável – como obviamente não o são a saúde e o desporto – não houve um planeamento a nível local nem regional. Porque na Benedita temos uma piscina muito maior, a três quilómetros daqui…
GC: Considera o orçamento suficiente para as necessidades da Junta?
RR: Não, claro que não é suficiente. Precisávamos de muito mais. Mas não temos tido grande dificuldade, até pela boa relação que temos com a Câmara. Não sendo eu do PSD nunca senti nenhuma diferença de tratamento negativa em relação aos meus colegas e até podia dizer ‘muito pelo contrário’. Por vezes, até têm uma atenção diferente.
É difícil aumentar porque não temos receitas próprias.
“O nosso orçamento é o mesmo que no ano anterior”
GC: A delegação de competências da Câmara para as Juntas foi um presente envenenado?
RR: Os senhores de Lisboa acharam muita piada à delegação de competências. Pensaram: ‘vamos dar à malta das Juntas mais competências e menos verbas’! Apesar do FEF ser igual, aumentou foi as nossas competências. Uma delas, de grande relevo, é os parques infantis, porque os equipamentos e a reparação dos mesmos são muito caros.
A Junta passou a receber mais uma verba para manutenção e limpeza das escolas de 1º ciclo desactivadas, que não existia e que se cifra em 250 euros anuais por sala.
No bolo total o nosso orçamento é o mesmo que no ano anterior, mas também recebemos 600 euros mensais pelo posto dos correios.
GC: Em que situação estão as escolas do 1º ciclo?
RR: Temos o Centro Escolar integrado na EBI, em Santa Catarina e a escola do 1º ciclo de Relvas.
GC: No final do 3º ciclo os alunos de Santa Catarina prosseguem os estudos para as Caldas ou para a Benedita?
RR: Não tenho dados precisos, mas diria que mais de 75% prosseguem no Externato Cooperativo da Benedita.
“Não faz sentido agrupar as escolas de Santa Catarina com a Bordalo Pinheiro”
GC: Na sua opinião fez sentido agrupar Santa Catarina com a Bordalo Pinheiro quando se sabe que os alunos prosseguem os estudos na Benedita?
RR: A questão da fusão dos dois agrupamentos não me parece que fosse necessária ou que tenha trazido grandes benefícios, portanto não concordo com ela.
A fusão do rural com o urbano e os benefícios que daí poderiam vir, não se concretizaram. A distância de 17 quilómetros para as Caldas implicou que os quadros fossem alterados, com uma redução e deslocação de muitos funcionários da nossa escola.
Penso que o Agrupamento de Santa Catarina deveria ter ficado sozinho. Acho que não deveriam existir estes limites administrativos tão rígidos em autarquias. O limite de um concelho não deveria ser o seu fim, mas deveria ser o princípio do outro. Tanto em termos de saúde como de educação. Era completamente compreensível Santa Catarina e a Benedita, estando separados por três quilómetros, interagirem de outra forma. Talvez daqui a uns anos…
GC: Está satisfeito com as ligações de autocarro com a sede do concelho?
RR: Fora do período escolar temos, por dia, quatro autocarros das Caldas para a Benedita e seis em sentido contrário. Estou satisfeito, apesar de já ter sido falado o facto de o serviço de transportes de ligação a Caldas passar só na EN360. Ou seja, o Peso, por exemplo, não tem serviço de transportes para a cidade, tendo no entanto, no período escolar, a possibilidade de usar os autocarros escolares. Curiosamente essa é uma questão que não tem sido reivindicada pela população.
“A ocupação diária dos funcionários com os correios é muito superior a 40%”
GC: Como está a extensão dos CTT?
RR: Depois do encerramento da estação dos CTT – que foi aquilo que, até hoje, mais senti não ter conseguido – criámos um posto na Junta, que tem funcionado bem, mas não é igual.
Apesar de recebermos 600 euros mensais da ANAFRE [Associação Nacional de Freguesias], não pagam o volume de trabalho que temos e, portanto, não é auto-suficiente.
Temos dois funcionários que fazem o serviço da Junta e dos Correios e que irão também fazer o serviço da loja do cidadão.
Os Correios sempre alegaram que o serviço do funcionário que ali tinham não ocupava 40% do seu horário de trabalho e essa foi uma das razões para encerrar o posto.
Pela nossa experiência, vemos que as funcionárias têm uma ocupação diária com os correios muito superior a 40%, ou seja, verificamos que esse indicador apresentado pelos Correios aqui não se adequa.
GC – Existe extensão do centro de saúde?
RR: Temos uma extensão de saúde com o serviço de medicina e de enfermagem a tempo inteiro, sendo que o de enfermagem também faz serviço ao domicílio. Segundo os dados da direcção do ACES temos uma cobertura total de utentes com médico de família, tendo, no entanto, muitos fregueses optado por ir para USF’s (Benedita ou Tornada), mantendo o número máximo de utentes por médico, estabelecido por lei que é de 2158.
A continuidade destes serviços deve-se em muito à vontade do ACES e dos clínicos que aqui se querem manter.
GC: Há novidades em relação à lixeira a céu aberto no alto da Bela Vista?
RR: A Junta vai proceder à limpeza de grande parte do entulho e será feita a devolução do terreno aos proprietários no estado em que o recebemos há muitos anos. É um ponto final na história.
GC: Quais são as principais reivindicações dos fregueses?
RR: O alcatrão continua a ser a maior reivindicação da população: ter boas estradas. Mas cada vez mais há uma grande preocupação com os serviços de saúde e de educação e pelo serviço de correios e pela iluminação.
GC: Como é que se envolveu na política?
RR: Sempre tive muita admiração pelo sr. Cabrita [António Cabrita, antigo presidente de Sta. Catarina] porque era muito respeitado. Quando eu era novo, chegava da escola e dizia à minha mãe: ‘um dia quero ser como o sr. Cabrita’.
Quando fui para Lisboa, para a faculdade, toda a gente era ligada a um partido. E eu, com 25 anos, pensei: se é uma coisa que gosto, uma forma de realização pessoal e de pôr em prática algumas coisas que aprendi no curso [Geografia Física e Ordenamento do Território], porque não? E aqui estou.
GC: Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
RR: Temos que tentar arranjar uma forma de as deixar contentes. Porque se estão descontentes é porque têm um problema e temos obrigação de o ajudar a resolver.
GC: Tenciona recandidatar-se?
RR: Não vou dizer que não porque tenho muitos objectivos e projectos que gostava de realizar. O mais provável é que sim.






























